Historicamente conhecida como a ‘cidade do café’, Santos tem sua fama consolidada como um dos principais portos de exportação de café do Brasil. No entanto, além de sua importância comercial, há um movimento crescente na cidade para promover a cultura dos cafés especiais. Um dos responsáveis por essa transformação é Matheus Evangelista, barista e proprietário do Amicitia Café, uma cafeteria acolhedora localizada na Rua Guaibê, 50, no bairro da Aparecida.

Sua relação com o café começou anos atrás, enquanto trabalhava em um restaurante no Gonzaga. Foi nesse ambiente que ele teve seu primeiro contato com cafés especiais. A experiência de degustar um café com notas sensoriais de frutas vermelhas despertou sua curiosidade. “Quando percebi essas notas, pensei: como isso é possível?”, relembra. A partir dessa dúvida, ele se aprofundou nos estudos, realizando cursos no Museu do Café sobre classificação e degustação. “Foi aí que me apaixonei pelo universo cafeeiro”, conta.

Ao se aprofundar no estudo do café, Matheus notou uma lacuna em Santos. Apesar da cidade ser um ícone no comércio do produto, faltava uma cultura consolidada de cafés especiais. Enquanto cidades como Barcelona, sem uma tradição cafeeira, já investiam em cafeterias especializadas, Santos ainda não contava com esse movimento. “Quanto mais eu me aprofundava e procurava cafeterias, menos eu via esse cenário em Santos. Aqui, temos o Museu do Café, a Bolsa [do Café] e o Porto, mas ainda não tínhamos lugares específicos. Foi aí que tive a ideia de empreender”, explica.

Em agosto de 2017, Matheus fundou a Geek Baristas, sua primeira cafeteria. Apesar do espaço modesto e equipamentos limitados, o foco era a qualidade do café. Com o crescimento do negócio, a cafeteria foi transformada em uma escola de barismo, oferecendo cursos e capacitação para novos profissionais. Com a evolução da marca, surgiu a necessidade de uma nova identidade. Nasceu, então, o Amicitia Café, cujo nome, derivado do latim “amizade”, reflete o conceito de celebrar as culturas que moldaram o universo do café. O cardápio da casa homenageia essa diversidade, com opções como ‘Amizade’ (Brasil), ‘Friendship’ (EUA), ‘Amistad’ (América Latina) e ‘Arkadaş’ (Turquia), simbolizando a conexão global do café.

COMPETIÇÕES

A dedicação de Matheus o levou ao Campeonato Brasileiro de Brewers, onde representou Santos e alcançou a melhor classificação até então: 9º lugar entre 25 competidores. “Foi a primeira vez que participei e já passei para a semifinal, o que é muito significativo. Quando comecei, há sete anos, a profissão de barista não era levada a sério em Santos. Participar dessas competições é uma maneira de levar o nome da nossa cidade para o cenário nacional”, afirma Matheus.

Para a disputa, ele escolheu um Catuaí Vermelho da fazenda de Cláudio Nakamura, na Chapada de Minas – um café fermentado por 10 dias sem oxigênio, com notas de chocolate 70%, framboesa e morango, além de um corpo licoroso e viscoso. A preparação envolveu ajustes minuciosos na torra e no aquecimento, além da criação de uma água específica para destacar as características do café. “Durante a apresentação, descrevi cada detalhe, desde o aroma e a doçura até a evolução sensorial da bebida conforme a temperatura mudava. É um processo que eu particularmente amo”, conta ele.

EXPERIÊNCIA SENSORIAL

Para Matheus, mais do que oferecer um bom café, sua missão é difundir a cultura dos cafés especiais em Santos. Embora a cidade seja mundialmente reconhecida por sua importância histórica no comércio do grão, os próprios santistas ainda têm muito a explorar no universo sensorial do produto. O Amicitia Café vai além de uma cafeteria tradicional. O espaço conta com um laboratório de experiências onde os clientes podem acompanhar ao vivo o processo de torrefação, aproximando-se da arte e da ciência por trás de um bom café. “Acredito que isso cria uma proximidade com o cliente. Eles entram no laboratório, fazem perguntas sobre os métodos de preparo e os grãos, e no final levo o café até a mesa. É uma experiência única”, destaca.

O cardápio é uma celebração das diferentes formas de preparar e perceber o café, oferecendo diversas experiências sensoriais a partir de um único grão.

NOVOS BARISTAS

Para aqueles que desejam ingressar na profissão, Matheus recomenda explorar diferentes cafés e treinar o paladar. A base do barismo, segundo ele, está na percepção sensorial. Seu conselho para os iniciantes? Começar com cursos básicos de avaliação sensorial antes de avançar para métodos de preparo e café expresso. A curiosidade também é fundamental. “Se você não tiver curiosidade para explorar origens, processos e técnicas, fica difícil sair da zona de conforto. O paladar e a curiosidade devem andar juntos”, completa.

PLANOS FUTUROS

Matheus tem grandes planos para o futuro. Seu principal objetivo é continuar competindo e conquistar um título nacional para Santos. Além disso, ele quer fortalecer ainda mais a cena cafeeira da cidade, incentivando o mercado de cafés especiais. “É paixão e vontade de mudar. Acho inaceitável que Santos, uma cidade tão importante no cenário cafeeiro, não tenha uma cultura forte de cafés especiais. Já atendi pessoas de diversos lugares do mundo, e todos conhecem Santos e sua importância no café. Precisamos começar a reconhecer isso e explorar ainda mais”, afirma Matheus.

Ele acredita que o café é mais do que uma simples bebida: é um elo entre pessoas, histórias e culturas. Através do Amicitia, Matheus deseja continuar espalhando essa paixão, transformando cada xícara em uma experiência inesquecível.