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A Pediatra

09/02/2022
A Pediatra | Jornal da Orla

A excêntrica jornada de uma anti-heroína 

O mundo feminino, com toda a sua pluralidade e subjetividade, ainda é um grande desconhecido para os homens e também para muitas mulheres que, vitimadas pela opressão machista, repetem o discurso do opressor. O machismo e o patriarcado brasileiros ainda falam alto, sufocando a expressão feminina. O resultado deste fenômeno sistêmico é desencorajar o engajamento pela igualdade substancial dos gêneros.

Mas há ventos de mudanças. Movimentos pela promoção dos direito civis, políticos e econômicos das mulheres se organizam, não obstante os entraves “conservadores” que, sob uma falsa carapaça teórica, na verdade querem apenas repetir preconceitos. A literatura exercita seu papel, viabilizando que escritos de mulheres revelem as profundas dimensões do feminino.

Neste contexto, A pediatra, livro de trama ligeira e divertida, expõe uma médica competente e bem sucedida mas de pouca vocação: odeia crianças e não suporta os pacientes. A chegada de um concorrente desestabiliza seu mundo perfeito e o absurdo começa a tomar conta de sua vida. A estória vai ganhando complexidade cômico-dramática a cada capítulo. Uma anti-heroína espetacular construída pelas mãos de uma escritora com invulgar habilidade.

Motivos para ler:
1- Andréa Del Fuego é paulistana, escritora e mestre pela USP. Faz parte da feliz onda de jovens e talentosas escritoras brasileiras. Já bem considerada no espectro literário, carrega no currículo o garboso Prêmio Saramago de Literatura;
2- É notável como um livro tão ágil e curto se presta a tantas reflexões. À medida que os eventos se desencadeiam, o(a) leitor(a) se defronta com divisões do feminino, de classe, raça e gênero. Impressiona como a protagonista conduz os absurdos (alguns cômicos, outros inacreditáveis) de modo leve e natural. E não se assuste caso passe a torcer pela anti-heroína: aconteceu também conosco;
3- Leia mulheres!

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