A voz da consciência

A crise de identidade do futebol brasileiro dentro e fora de campo

08/05/2025 Bruno Oliveira
A crise de identidade do futebol brasileiro dentro e fora de campo | Jornal da Orla

Como sempre no Brasil se busca um responsável quando não vem o resultado que a gente quer. No caso da derrota do Brasil para a Argentina no Monumental de Núñez, ou seja, fora de casa, foi a entrevista dada pelo atacante Rafinha do Barcelona da Espanha ao ex-jogador tetracampeão do mundo e hoje senador da República pelo PL do Rio de Janeiro, Romário, que se tornou o centro das atenções. Na verdade, para mim, a entrevista em si foi só um detalhe, mas como no Brasil tudo se busca um culpado, a imprensa brasileira e o senador, por uma questão simples de ideologia política, transformaram o episódio em um grande problema. Essa é a primeira das várias crises de identidade que o futebol brasileiro enfrenta. Após a derrota de 4 a 0 para a Argentina, sem qualquer demonstração de jogo, a classificação para 2026 é incerta. Para muitos, essa derrota é o segundo maior vexame da seleção nos últimos anos, comparado ao 7 a 1. A demissão de Dorival Júnior foi justa; o Brasil sequer viu a cor da bola durante o jogo, na minha opinião, o desempenho do time em campo, jogo a jogo, é o que determina se um treinador deve ser demitido ou não. Minha falta de entusiasmo pela seleção é notória. Desde a pandemia, meu interesse diminuiu; a última Copa que me envolveu foi a de 2010. Na minha opinião, a entrevista do Rafinha, hoje senador da República pelo Partido Liberal do Rio de Janeiro , e o que ele fez com o Romário, foi estimular ou exigir que o Rafinha mostrasse o mesmo desempenho que ele tem no Barcelona na Seleção Brasileira. Por que hoje nenhum jogador do futebol brasileiro desempenha a mesma coisa que desempenham nos seus clubes? Um fator importante é o seguinte: teoricamente Rafinha e Vinicius Júnior são os líderes técnicos da Seleção Brasileira na ausência de Neymar. Quem será o líder quando o Neymar parar de jogar bola? Existe outra situação: existe uma diferença nessa geração de hoje em comparação com a geração de Romário. Parece se preocupar mais com o lado financeiro do que com o prazer de jogar bola. Não é uma crítica, é uma constatação de que se perdeu, não sei aonde, o prazer de jogar bola. O Romário poderia ter segurado a entrevista? Poderia, mas foi no dia anterior ao jogo Brasil e Argentina, onde o Brasil perdeu por 4 a 0 para a Argentina no Monumental de Núñez, na Argentina. O Rafinha podia ter recusado o convite de ir conversar com o Romário. Ele foi conversar com o Romário pelo peso que o Romário tem dentro do futebol brasileiro, ou você tem alguma dúvida? A utilização da foto da entrevista com Romário e Rafinha se justifica por razões estratégicas. Romário, senador pelo Rio de Janeiro e ex-jogador tetracampeão do mundo de futebol em 1994, possui a autoridade para questionar o ocorrido no futebol brasileiro. Sua força vem da política e de seu sucesso no esporte. A questão da sucessão de Neymar na liderança técnica da seleção, após essa derrota, se torna ainda mais crucial. É preciso refletir sobre quem seria um bom sucessor, considerando o contexto atual. Quando me refiro à liderança técnica da seleção brasileira no pós-Neymar, estou falando, sim, sobre quem pode comandar a equipe em campo, sobre bola rolando. Não estou passando pano para ninguém, nem técnico nem jogador. Assistindo especificamente onde ele, Rafinha, usa as palavras que usou <e se você quiser saber quais foram as palavras que ele usou para se referir ao jogo contra a Argentina, assista ao programa “De Cara com o Cara”>, o Rafinha, nesse episódio, quis aparecer para o entrevistador ? nesse caso, o ex-jogador tetracampeão mundial e hoje senador pelo PR do Rio de Janeiro ? como um cara que resolvia jogos, um craque de bola. Pode ser que ele seja no futuro, mas na hora H o que ele acabou falando pesou na consciência dele porque ele se obrigou a fazer aquilo que ele falou que ia fazer. Entende o que eu digo? Ou seja, o fato de estar frente a frente com Romário acabou intimidando o Rafinha, atacante do Barcelona, fazendo com que ele levasse essa pressão para o jogo contra a Argentina. Mas eu não sou do tipo de pessoa que busca responsáveis; a vida me ensinou muita coisa nos últimos quatro anos. O que aconteceu ali também foi o seguinte: o Rafinha ficou tímido na presença do Romário, afinal de contas, Romário é tetracampeão e resolvia jogos; quando o Rafinha disse que resolveria o jogo contra a Argentina, isso fez com que ele entrasse em campo com a consciência pesada de ter que cumprir o que falou ao Romário. Se eu fosse dirigente da CBF, em janeiro de 2023, após o final da Copa do Mundo no Catar, quando já se sabia que o técnico Tite sairia do comando da seleção brasileira, teria ido atrás do Abel Ferreira para assumir o comando da seleção. A minha escolha se daria por alguns fatores. O Abel Ferreira, técnico da Sociedade Esportiva Palmeiras, tem um conhecimento profundo do futebol brasileiro, já que trabalha aqui há cinco anos. Ele conhece os jogadores que atuam aqui, tem um trabalho consistente e de resultado positivo. Outro fator que para mim não é importante, mas vamos lá: ele fala português, o que talvez facilite a comunicação com os jogadores. Apesar de perceber no comportamento dele uma característica que eu particularmente não gosto, que é o seguinte: eu percebo em algumas entrevistas que ele dá, entrevistas coletivas que ele concede após os jogos, que é a característica de colonizador, como se tivesse redescobrindo o Brasil ? fato que aconteceu há 525 anos ?, mas não dá para discutir que ele é um bom treinador, isso é um fato. O Palmeiras apresenta um futebol eficiente, com resultados positivos. O ciclo da Copa de 2026 começou mal: a falta de anúncio de um técnico após a eliminação para a Croácia em 2022 já demonstrava problemas. A escolha de Ramon Menezes e Fernando Diniz, técnicos da seleção sub-20 e pré-olímpica, para assumirem o cargo de técnico da seleção brasileira de forma temporária, foi um claro exemplo da falta de planejamento e das soluções paliativas adotadas. A escolha de um técnico interino não é solução. Cobrar resultados dele, antes ou depois da Copa, é inviável. Chegar à Copa em 2026 será um milagre, dadas as atuais condições. A crença de que um técnico estrangeiro fará milagres é ilusória; isso precisa ficar claro. Sugiro uma cláusula nos contratos dos jogadores a partir dos 23 ou 25 anos para que eles tenham tempo de se desenvolver no Brasil. Essa cláusula garantiria que os jogadores tivessem tempo de se firmar no futebol brasileiro antes de serem transferidos para o exterior, contribuindo para o desenvolvimento completo do jogador e para o crescimento do futebol nacional. Hoje no Brasil não dá nem prazer de assistir um jogo de futebol. Por quê? Você tem a seguinte situação: não existe estímulo à criatividade, característica que pertence à essência do futebol brasileiro. Hoje você vê todo mundo engessado na mesma posição, na posição que o técnico quer, ele só faz aquilo que o técnico orienta que seja feito. O Brasil perdeu a identidade do seu futebol, se parecer com futebol europeu, para isto jogou fora a sua principal característica: a criatividade.

A especulação em torno de Jorge Jesus como possível técnico da Seleção Brasileira é interessante, e coloca um ponto crucial: a distância temporal desde sua última passagem pelo Brasil. Seis anos é um tempo considerável no futebol, e o futebol ofensivo e plástico que ele implementou no Flamengo em 2019 pode ter evoluído ou até mesmo se tornado menos eficaz com o passar do tempo. A visibilidade do campeonato saudita é menor para o público geral, comparado a ligas como a espanhola ou inglesa, o que dificulta o acompanhamento detalhado de sua performance recente. Surge então a pergunta: será que Jorge Jesus será capaz de reproduzir o trabalho que fez há seis anos atrás no comando do Flamengo agora na seleção brasileira? Essa é uma questão importante a ser ponderada. O contexto é totalmente diferente: a Seleção Brasileira tem um nível de pressão e cobrança muito maior do que qualquer clube, e a dinâmica do futebol internacional exige adaptações estratégicas. É preciso analisar se o estilo de jogo de Jorge Jesus se encaixa com as características dos jogadores da Seleção Brasileira e se ele seria capaz de lidar com a pressão da torcida, da mídia e dos jogadores. Em suma, a experiência de Jorge Jesus no Flamengo é um fator positivo, mas a situação da Seleção Brasileira é única e exige uma análise criteriosa para saber se ele é o nome ideal para o cargo?.