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A balança

10/12/2014
A balança | Jornal da Orla
E voltava para casa lamuriando e queixando-me deles. Isto ocorria, na maioria das vezes, com Beto, o meu melhor amigo. Um dia, quando corri para casa e procurei mamãe para queixar-me do Beto ela me ouviu e disse o seguinte:
-Vai buscar a sua balança e os blocos.
-Mas, o que tem isso a ver com o Beto?
-Você verá… Vamos fazer uma brincadeira.
Obedeci e trouxe a balança e os blocos. Então ela disse:
-Primeiro vamos colocar neste prato da balança um bloco para representar cada defeito do Beto. Conte-me quais são.
Fui relacionando-os e certo número de blocos foi empilhado daquele lado.
-Você não tem nada mais a dizer?
Eu não tinha e ela propôs:
-Então você vai, agora, enumerar as qualidades dele. Cada uma delas será um bloco no outro prato da balança. Eu hesitei, porém ela me animou dizendo:
-Ele não deixa você andar em sua bicicleta? Não reparte o seu doce com você?
Concordei e passei a mencionar o que havia de bom no caráter de meu amiguinho. Ela foi colocando os blocos do outro lado. De repente eu percebi que a balança oscilava. Mas vieram outros e outros blocos em favor do Beto. Dei uma risada e mamãe observou:
-Você gosta do Beto e ficou alegre por verificar que as suas boas qualidades ultrapassam os seus defeitos. Isso sempre acontece, conforme você mesmo vai verificar ao longo de sua vida.

E de fato. Através dos anos aquele pequeno incidente de pesagem tem exercido importante influência sobre meus julgamentos. Antes de criticar uma pessoa, lembro-me daquela balança e comparo seus pontos bons com os maus. E, felizmente, quase sempre há uma vantagem compensadora, o que fortalece em muito a minha confiança no gênero humano.
 
Haja capim
 
No Curso de Medicina, o professor se dirige ao aluno e pergunta:
-Quantos rins nós temos?
-Quatro! -responde o aluno.
-Quatro?- Replica o professor, arrogante, daqueles que se comprazem em tripudiar sobre os erros dos alunos.
-Traga um feixe de capim, pois temos um asno na sala- ordena o professor a seu auxiliar.
-E para mim um cafezinho! -replicou o aluno ao auxiliar do mestre.
 O professor ficou irado e expulsou o aluno da sala.
 O aluno era, entretanto, o humorista Aparício Torelly Aporelly (1895-1971), mais conhecido como o ‘Barão de Itararé’.
 Ao sair da sala, o aluno ainda teve a audácia de corrigir o furioso mestre:
-O senhor me perguntou quantos rins ‘nós temos’. ‘Nós’ temos quatro: dois meus e dois teus. Tenha um bom apetite e delicie-se com o capim.
A vida exige muito mais compreensão do que conhecimento! Às vezes as pessoas, por terem mais um pouco de conhecimento ou acreditarem que o tem, se acham no direito de subestimar os outros…
 E haja capim!