Santos

Perdemos Uriel Villas Boas, o Senhor Cidadania

18/10/2021
Perdemos Uriel Villas Boas, o Senhor Cidadania | Jornal da Orla

O cidadão Uriel Villas Boas nos deixou na manhã de sábado (16), aos 82 anos, em decorrência de um infarto fulminante, mas deixou também ensinamentos que devem pautar a vida de quem, verdadeiramente, luta por uma sociedade mais justa e menos desigual.

Para o ouvinte desatento, parecia que Uriel chovia no molhado ou repetia o mesmo discurso. Na prática, era justamente o contrário: alertava sempre que não há soluções simples para problemas complexos e as saídas devem ser encontradas por meio do debate e consenso. 

Assim, defendia incansavelmente a participação de todos os segmentos da sociedade e o fortalecimento das instituições. Não apenas às ligadas ao poder público, mas (principalmente) as entidades das sociedade civil: sindicatos, entidades profissionais, estudantis, empresariais, de bairro… 

Uriel defendia o exercício pleno da cidadania. Por onde passou, deixou as suas principais marcas: a defesa intransigente da democracia, a inteligência, a elegância e o bom humor. 

Uriel aplicava na prática a célebre frase de Voltaire: “Não concordo com uma palavra do que diz, mas defenderei até a morte seu direto de dizê-las”. Com sua voz macia e serena, Uriel discordava, expunha seu ponto de vista mas sempre buscava o consenso. Convencia ou era convencido. 

Como sindicalista, conseguiu evitar que a privatização da Cosipa tivesse efeitos ainda mais destruidores na vida dos cosipanos. Comandou a defesa da categoria não apenas em questões salariais mas também em relação à saúde e segurança no trabalho.

Dinâmico, inquieto e um devorador de informações, Uriel estava sempre buscando expandir suas fronteiras de conhecimento. Formado em Direito e Jornalismo, tinha capacidade de falar com propriedade sobre estes e diversos outros temas. 

Uriel demonstrava sua versatilidade intelectual, habilidades com as palavras e elegância ao participar de programas de rádio e TV regionais, seja participando dos debates ou mesmo como mero espectador. 

Militante ativo, praticamente não perdia nenhuma reunião para debater temas de interesse público: do Conselho de Segurança (Conseg) ao Fórum da Cidadania. Exercia na prática o que acreditava e difundia: participava, debatia, concordava, criticava, encaminhava propostas, cobrava resultados das autoridades. Também não perdia uma manifestação: Diretas Já, contra a Fome, em defesa do Grito dos Excluídos, da Democracia, das minorias…

Um quadro histórico do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), pelo qual foi eleitor vereador em Santos, o octagenário Uriel Villas Boas representava a mentalidade mais arejada do partido. Nada de invadir a casa dos outros ou “comer criancinhas” (como alguns estúpidos ainda acreditam e outros canalhas insistem em propagandear, mesmo sabendo não ser verdade). O comunismo de Uriel defendia o interesse comum, a busca comunitária por soluções, a igualdade de direitos de todos, independentemente da classe social, raça, credo, idade, gênero, natureza sexual ou time de futebol. 

Palmeirense verde, não deixava de cutucar os amigos torcedores de outros times, quando o seu vencia algum duelo. Sempre com muito bom humor, respeito e elegância. 

Eu perco um grande amigo, com quem conversava pelo WhatsApp quase que diariamente. Mas os ensinamentos que ele me proporcionou eu já ganhei e ninguém os tira mais.

Valeu, companheiro!