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Pandemia aumenta número de mortes por outras doenças

24/04/2021 Da Redação
Pandemia aumenta número de mortes por outras doenças | Jornal da Orla

Agora tudo que é morte é Covid-19”. Além de grosseiro e desrespeitoso com os falecidos, o comentário digno de uma porta de boteco é, acima de tudo, uma mentira. Nunca antes na história deste país morreram tantas pessoas em um ano. São vítimas do novo coronavírus, mas também aumentou o número de mortes causadas por outras doenças. 

 

Recorde macabro
Dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen) indicam que entre março de 2020 e fevereiro de 2021 morreram quase 1,5 milhão de pessoas no Brasil — o maior número desde que a “Estatísticas do Registro Civil” começou a ser feita, em 2003. 

Em comparação com o período anterior (de março de 2019 a fevereiro de 2020), o número de falecimentos aumentou 13,7%: foram 355.455 mortes a mais. 

Entre março de 2020 e fevereiro de 2021, foram 255.018 mortes atribuídas à Covid-19. Portanto, 100 mil outras mortes de outras causas. Quais são elas?

 

Mortes violentas
No ano passado, houve mais 2.162 assassinatos do que em 2019 (em 2020, foram 43.892 mortes violentas, contra 41.730 em 2019).  

No trânsito, apesar de o volume de tráfego ter reduzido em 70%, segundo estimativa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em parceria com o aplicativo Waze, o número de vítimas fatais caiu 18%: no total, foram 33.530, enquanto em 2019 foram 40.890 (7.360 pessoas a menos). Os dados são da Seguradora Líder, responsável pela operação do Seguro DPVAT.

Assim, “no saldo”, as mortes violentas não são responsáveis pelo aumento no número de falecimentos no Brasil —ao contrário, foram cerca de 5 mil vítimas a menos.

 

Excesso de mortalidade
Para o Conselho Nacional de Secretários de Saúde, a pandemia resultou num fenômeno que classifica como “excesso de mortalidade”, não só as provocadas diretamente pelo novo coronavírus.

“O número de óbitos superior ao que era esperado para o período é um reflexo indireto da epidemia. São mortes provocadas, por exemplo, pela sobrecarga nos serviços de saúde, pela interrupção de tratamento de doenças crônicas ou pela resistência de pacientes em buscar assistência à saúde, pelo medo de se infectar pelo novo coronavírus”, explica o presidente do Conass, Carlos Lula.

 

Falta de diagnóstico
O medo de contrair o vírus fez com que muitas pessoas não saibam que são doentes —não de covid-19, mas problemas cardíacos, renais, hepáticos, imunológicos etc. 

Para ficar em um exemplo: a Sociedade Brasileira de Oncologia estima que 50 mil novos casos de câncer deixaram de ser diagnosticados. A situação faz com que o quadro clínico se agrave, o que exige tratamentos e procedimentos mais agressivos. Ou levar à morte.

 

Interrupção de tratamentos
Estudo que teve a participação da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) revela que o número de mortes por doenças cardiovasculares aumentou 132% durante a pandemia. Em que pese o fato de o problema crônico agravar os casos de Covid-19, uma parcela significativa destes óbitos está relacionada à interrupção no acompanhamento do quadro clínico. 

Com medo de se contaminar com o novo coronavírus, muitos pacientes deixaram de realizar retornos médicos e exames de rotina. 

O professor Faculdade de Medicina da USP Flavio Hojaij alerta que a postergação do atendimento pode provocar o agravamento de casos. Ele cita o caso de um paciente dele, com câncer de boca, cujo aumento das úlceras na boca exigiu um procedimento mais agressivo.

A recomendação é de que pacientes com casos crônicos não deixem de realizar suas consultas e exames rotineiros, sempre tomando os devidos cuidados sanitários —uso de máscara, distanciamento interpessoal e higienização das mãos. 

 

Cirurgias eletivas
Na rede pública, o número de cirurgias eletivas caiu 40% por causa da pandemia. Entre janeiro e julho, por exemplo, foram feitos 706.077 procedimentos, enquanto no mesmo período de 2019 foram 1.175.018. Os dados são do Sistema de Informações Hospitalares, do Ministério da Saúde.

Em abril do ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária recomendou o adiamento destas cirurgias, para que os leitos fossem utilizados na atendimento de pacientes com Covid-19.

Na rede particular, segundo a Associação Nacional dos Hospitais Privados, houve uma queda de 32% no agendamento e realização de exames e consultas para cirurgias eletivas em 2020. 

 

Fora de ordem
O gráfico ao lado indica a anormalidade da situação: a área cinza mostra os números de mortes nos anos anteriores; o gráfico em azul é a quantidade de óbitos prevista, se não houvesse pandemia; o gráfico vermelho revela a quantidade de óbitos registrados. 

*Os números horizontais indicam a semana epidemiológica