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Onde estivestes de noite

14/04/2021
Onde estivestes de noite | Jornal da Orla

São dezessete curtos textos. Alguns contam episódios improváveis, outros trazem insights despretensiosos; há ainda aqueles que desbordam para a magia negra e o ocultismo. O que fazer com essa pequenina coleção de contos? Clarice Lispector responde: “Também não sei, dou-a de presente”. 

 

Conhecer Clarice é permitir-se adentrar num mundo muito peculiar, porque ninguém soa como ela. Esta pequena reunião de textos é uma prazerosa oportunidade de fazer contato com um lado diferente da autora: os contos são leves e soltos, alguns até bem-humorados; bem ao avesso da habitual forte introspecção e dos profundos fluxos de consciência que pautaram os romances da escritora.  

 

Muita coisa acontece neste livro. O conto inicial traz a impagável estória de uma senhora de quase 70 anos que, sem entender, vê-se perdida no labiríntico subsolo do Maracanã e sofre um fogoso conflito interno envolvendo Roberto Carlos. O belo A partida do trem marca o encontro de uma idosa e da jovem Angela, esta última conhecida como o alter ego da autora. O nosso preferido é o que dá o nome ao livro: perturbador, narra um nefasto cortejo libertino em adoração a uma entidade andrógina, cujo portal diabólico se abre madrugada adentro (seria um pesadelo?) até o amanhecer, quando todos os personagens voltam às suas vidas de sempre. 

 

Enfim, é um livro de contos de Clarice. O que você está esperando?

 

Motivos para ler:

1– De Clarice já falamos quando comentamos o seu espetacular A hora da estrela. Sua excelência incontestável e seu estilo inimitável a colocaram no pavilhão da realeza literária da língua portuguesa – não é exagero dizer que, dessa corte, é princesa. Tudo nela é maravilhoso: o texto genial, a força, a estilística, sua própria figura hipnotizante. E aquele olhar;

 

2– “Esfinge, feiticeira, monstro sagrado. Ninguém soa como Clarice. Ninguém pensa como ela. Ela vira o dicionário de cabeça para baixo, soltando todas as palavras de suas definições, espalhando-as de volta como quer e não é que a língua parece melhor?”. Palavras do The New York Times sobre Clarice, dando a noção da sua enorme estatura e amplo alcance. Uma mulher poderosa;

 

3– Leia mulheres! 

 

 

 

 


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