Notícias

Para especialistas, lockdown é remédio amargo, mas necessário

20/03/2021 Da Redação
Para especialistas, lockdown é remédio amargo, mas necessário | Jornal da Orla

A interrupção completa das atividades é uma medida extrema, provoca efeitos colaterais na economia e na rotina das pessoas mas é a única estratégia possível para evitar o colapso completo. 

A situação, que já era muito ruim, piorou e caminha para o caos, caso não se adote providências radicais, imediatamente. 

Em reunião na quinta-feira, dirigentes de hospitais particulares, gestores de saúde pública e especialistas foram unânimes ao indicar o lockdown como a medida essencial para este momento. “A gente não tira a esperança das pessoas, a gente fala a realidade, que muitas vezes as pessoas não querem enfrentar”, afirma o diretor da Sociedade Paulista de Infectologia, Evaldo Stanislau.

Outro infectologista reconhecido mundialmente, o professor universitário Marcos Caseiro acrescenta: “O afastamento social é o nosso único caminho neste momento, pois não temos vacina”.

Stanislaw completa: “A chave do sucesso de um lockdown é diminuir a mobilidade na região metropolitana. Podemos dar um exemplo ao Brasil que é possível reverter este cenário drástico”.

O especialista explica que a medida, como um remédio, deve ser usada no tempo certo, na medida correta. “Provavelmente não vai ser o único, é uma ferramenta que a gente usa quando necessário. Pára de usar quando os números melhoram, volta a usar quando precisar de novo. Até termos nossa população vacinada”. 

Esta semana, a média da taxa de isolamento social em Santos ficou em 42%, quando a indicada é 70%.

Os profissionais de saúde entendem que a medida não é nada simpática, provoca prejuízos, mas é essencial e inadiável. “As pessoas estão protestando no endereço errado. Não existe economia num ambiente onde todo mundo morreu, no caos. Vamos ter um caos sanitário e social se não formos muito rigorosos. Quero me solidarizar com o prefeito Rogério Santos e toda a equipe de saúde, os hospitais. Ninguém está tomando atitudes impensadas”, afirmou Evaldo Stanislau.

 

Colapso nas UTIs
Na sexta-feira (19), a taxa de ocupação dos leitos em UTI de Santos era de 77%. Caso o sistema entre em colapso, deixarão de ser atendidos casos graves não só de covid-19, mas de todas as demais doenças (infartos, AVCs etc), acidentes de trânsito. 

 

Insumos para UTI
Mesmo os pacientes que conseguiram leitos de UTI estão sob risco. O estoque de analgésicos, sedativos e bloqueadores musculares usados para a intubação de pacientes em UTIs pode durar apenas mais 15 dias no Brasil. 

 

Mais caros
O diretor clínico da Casa de Saúde, Luiz Roberto Fernandes, revela que os hospitais estão tendo dificuldade para obter estes insumos e, quando conseguem, eles estão com aumento de preço de 500% a 1000%.

 

Falta de profissionais
Além do risco de não haver medicamentos hospitalares, faltam profissionais especializados em terapias intensivas. “Minha equipe está exausta”, resume o diretor clínico do Hospital São Lucas, Marco Cavalheiro, situação que se repete em todos os demais hospitais.

 

Impacto emocional
O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) informa que o déficit de enfermeiros e técnicos de enfermagem especializados em UTI, que no início da pandemia era de 17 mil em todo o país, só piorou. Em consequência, muitos dobram a jornada e ainda sofrem o impacto emocional de estarem na linha de frente do combate à pandemia e testemunharem muito sofrimento.

 

Alta letalidade
Estar internado não é garantia de cura. Os números da Covid-19 são dramáticos. A média de permanência em UTI por causa de outras doenças é de 7 dias. Os pacientes com Covid-19 ficam em média 21 dias. E a maioria sai morta: 59% dos que vão para a UTI morrem; 80% dos que precisam ser intubados morrem.

 

Tratamento precoce ou “inicial”
Não existe.

 

Novas cepas
Brasil tem sete variantes predominantes, com muito mais capacidade de transmissão e algumas com maior risco de complicações, inclusive entre pacientes mais jovens. Felizmente, a Coronavac tem se mostrado eficaz contra as variantes.

 

Imunidade coletiva
O infectologista Marcos Caseiro alerta que a maior parte da população ainda não teve contato com o vírus. “Essa crença de que crença de que há muitos casos assintomáticos e que já desenvolveram imunidade não é bem assim”. 

Risco Brasil
O que acontece no Brasil está sendo acompanhado pelo mundo inteiro com muita preocupação, oferece um risco global. Daqui a pouco o brasileiro não vai poder ir para lugar nenhum e ninguém vai querer vir para cá. Talvez nosso comércio exterior fique comprometido.

 

Vacinas a conta-gotas
E quando as medidas de restrição não serão mais necessárias? Quando pelo menos 70% da população estiver vacinada. “A vacinação tem que ser ampla, não pode ser a conta-gotas como o Brasil tem feito”. 

 

Sequelas
Quando sobrevive, a pessoa com Covid-19 fica com sequelas que incapacitam para o trabalho, afetam sentidos como olfato e paladar e obrigam a realização de longos tratamentos fisioterápicos para reabilitação. Há relatos de sequelas permanentes.