Apesar de nomeado conselheiro da República, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, evita dar conselhos ao presidente Jair Bolsonaro em assuntos como enfrentamento da pandemia, reformas e política econômica.
Skaf esteve em Santos nesta sexta-feira (19), dia em que o Diário Oficial da União publicou sua nomeação para um conselho que discute temas relevantes para a estabilidade das instituições democráticas —justamente na semana em que um deputado federal bolsonarista foi preso por atacar estas mesmas instituições.
Ele visitou o Porto de Santos e se reuniu com os prefeitos de São Vicente, Kayo Amado, e Guarujá, Valter Suman. Depois, participou de almoço com empresários e lideranças políticas. Entre elas, o ex-prefeito Paulo Alexandre Barbosa. O secretário de Governo de Santos, Flávio Jordão, representou o prefeito santista, Rogério Santos, que não participou do encontro porque estava reunido com o governador João Doria, em São Paulo.
Apoiador de Jair Bolsonaro desde o início da campanha eleitoral de 2018 (mesmo seu partido, o PMDB, tendo candidato próprio), Skaf faz uma avaliação positiva do presidente e tergiversa quando perguntado sobre quais conselhos daria a ele. “As coisas estão caminhando, tem que ter um pouquinho de paciência agora”, afirma. Confira a íntegra da entrevista:
O senhor acaba de ser nomeado conselheiro da República, que atua em temas sensíveis como segurança nacional, em um momento em que um deputado foi preso, por atentar contra a Constituição Federal. Foi uma coincidência?
Paulo Skaf- Foi coincidência, recebi este convite dias atrás. É um convite honroso, um cargo que não é remunerado, mandato de 3 anos. É para questões graves, como o presidente Michel Temer teve com a intervenção no Rio de Janeiro, para situações especiais. Isso já estava acontecendo.
Agora o senhor é, oficialmente, conselheiro do presidente da República…
Skaf- Não, sou conselheiro da República.
…e ele é o principal funcionário da República
Skaf- Não, ele é o presidente do Conselho da República. O conselheiro aconselha o presidente em situações especiais do país.
Que conselho o senhor daria para o presidente hoje, num momento que o Brasil sofre com uma grave epidemia, que atinge o país de modo mais traumático do que outros países, até por conta da falta de vacinas?
Skaf- Primeiro ele tem que chamar uma reunião do Conselho da República e pedir a minha opinião…. (riso). Com relação às vacinas, as coisas estão caminhando. Nós temos muita vocação, temos produção de agulhas, seringas, temos experiência em campanhas de vacinação que outros países não têm, temos dois institutos que têm capacidade e eficiência para produzir vacinas, o Butantan e a Fiocruz. O governo fechou a compra de 100 milhões de vacinas com a AstraZeneca na semana passada. Agora esta coisa está pegando embalo, creio que em breve espaço de tempo o pessoal de maior risco, acima de 60-65 anos, vai ser vacinado. As coisas estão caminhando, tem que ter um pouquinho de paciência agora. A gente tem que rezar e torcer para que não tenha nenhuma surpresa de mutação do vírus.
O senhor está satisfeito com o desempenho do ministro da Saúde ou é melhor trocar?
Skaf- Não cabe a mim um palpite, cabe ao presidente da República. A responsabilidade pelo governo é dele. Eu escolho os diretores e chefes de departamento da Fiesp. A campanha de vacinação está caminhando. Hoje nós temos vacina em produção, temos melhores condições do que 95% dos países do mundo. Então, tem que ter um pouquinho de paciência, mesmo. O que falta para nós? É mais insumo para produzir mais vacina. Mas isso falta para nós, para os Estados Unidos, para Japão, para a Europa, para todo o mundo.
Mas, presidente, uma crítica que até mesmo antigos aliados fazem é que ele demorou para agir, preferiu politizar a questão. Alguns laboratórios chegaram a oferecer vacina no ano passado, mas ele preferiu indicar o kit Covid.
Skaf- Isso não é verdade. Em agosto, foi fechado com a AstraZeneca. Quando os Estados Unidos fecharam, o Brasil fechou. Está faltando vacina em todas as partes do mundo, e estas coisas estão caminhando bem, estamos produzindo vacina, temos agulha, temos seringa, temos estrutura, 40 mil pontos de vacinação.
A avaliação que o senhor faz do enfrentamento da pandemia é positiva, então?
Skaf- Eu entendo que a pandemia, no mundo inteiro, foi uma notícia ruim. Agora, não pode se falar que a vacinação no Brasil está indo mal. Graças a Deus está indo bem. Queríamos que todo mundo estivesse vacinado, mas nenhuma parte do mundo tem isso. É um país de 8 milhões de quilômetros quadrados, lugar que precisa de jangada para ir vacinar alguém.
O senhor avalia que a política econômica do governo federal vem sendo bem conduzida, em relação às pautas que a Fiesp defende?
Skaf- A pandemia tomou o ano passado inteiro e a reação do governo federal foi muito positiva. O auxílio emergencial, as linhas de crédito, a flexibilização da legislação trabalhista… tudo isso fez com que nossos índices estivessem idênticos aos de antes da pandemia. Diferente do Governo do Estado. Eu não estou politizando. O Governo do Estado não só nada fez como aumentou impostos. Então, não adianta a gente fazer só críticas. O governo federal foi muito bem e agora tem uma agenda de reformas.
O senhor não acha que está demorando?
Skaf- Como demorando se os presidentes da Câmara e do Senado foram escolhidos faz uma semana? Demorando para fazer o que?
Estamos no terceiro ano do governo dele…
Skaf- Muitas coisas foram feitas. A reforma da Previdência, tinha 50 anos que se falava dela. Foi feita, em um ano, porque o segundo foi pandemia. Ninguém pode negar que muita coisa acontece. Se quiser analisar o lado negativo, você fica infeliz. Todos nós temos coisas boas e ruins. Se ficar curtindo 5% de problemas e não olhando 95% de soluções. A coisa está caminhando, sim.
Em relação ao aumento do ICMS em São Paulo. O senhor foi candidato a governador e, infelizmente para o senhor, não conseguiu a vitória…
Skaf- Infelizmente para quem?
Para o senhor, o senhor não venceu. Mas, caso tivesse sido eleito, quais as providências o senhor tomaria com relação ao ICMS?
Skaf- Eu não aumentaria imposto de jeito nenhum, até porque a arrecadação do Estado aumentou no ano passado. O atual governador falou inúmeras vezes que não aumentaria imposto. Ele fala uma coisa e faz outra. Isso é credibilidade. Se mente uma, duas, três vezes, na quarta vez ninguém leva você a sério.