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Dica da semana: O Rei

23/01/2021
Dica da semana: O Rei | Jornal da Orla

Épicos de época sempre tiveram um espaço para conquistar o coração do público e, ainda que os blockbusters tenham dominado os cinemas na última década, os filmes de gênero sempre voltam a reclamar por seu espaço nessa indústria, onde neste caso a NETFLIX, buscou uma nova perspectiva para a jornada de um dos mais controversos regentes da história, Henrique V, Rei da Inglaterra entre 1413 à 1422 e um dos principais monarcas ingleses durante a famosa Guerra dos 100 Anos. Apesar de O Rei conseguir adaptar bem os fatos históricos em uma trama dramática e interessante, ele peca ao não conseguir se desvencilhar de outras obras do gênero e por sua falta de ritmo ao não injetar energia e dinamismo suficientes no tom que a história exigia. 

Após a morte de seu pai, Henrique V (Timothée Chalamet) é coroado rei, obrigado a comandar a Inglaterra. O governante precisa amadurecer rapidamente para manter o país consideravelmente seguro durante a Guerra dos 100 Anos, contra a França. O filme é dirigido pelo Australiano David Michôd, responsável pelo excelente Reino Animal. A visão do diretor , baseada na peça de William Shakespeare, é uma história de amadurecimento envolvida nas armadilhas da realeza. Seu plano-sequencia inicial, mostrando um campo repleto de corpos, com os sobreviventes saqueando e executando o exército perdedor, mostra sua precisão e amadurecimento que iremos acompanhar durante todo o longa. Mas é na histórica batalha de Azincourt, perto do final do filme, que o diretor se destaca. Colocando o público dentro da batalha, lado a lado com o rei e seus seguidores, o diretor demonstra uma boa visão geral da batalha com uma câmera trêmula que tenta acompanhar o caos instaurado entre sangue e lama retratando com louvor a brutalidade e carnificina de uma batalha. 

O roteiro, escrito pelo diretor em parceria com Joel Edgerton (que também atua no longa), busca uma linguagem menos teatral e mais "pé no chão", com as já citadas batalhas mais reais e cruas e seus personagens humanos e falhos. Porém, a falta de ação e energia da trama aliado a um ineficiente desenvolvimento de seus personagens e suas motivações (como o abrupto arco dramático do protagonista que muda sua postura de forma pouco convincente) torna a jornada um pouco cansativa e desinteressante em alguns momentos.

Esteticamente, O Rei é impecável com uma pomposa direção de arte, aliada a uma bela direção de fotografia que cria planos belíssimos e que se assemelham a pinturas vivas. Outro ponto interessante é a trilha sonora composta por Nicholas Britell, que cria algo melancólico e impactante junto com um potente design de som, que nos deixa ouvir cada batida de metal nas armaduras.

Embora Timothée Chalamet não pareça exatamente o tipo ideal de ator para o papel, o jovem talento consegue entregar a carga dramática exigida ao histórico personagem, completando com competência o arco do jovem problemático que nunca quis ser da realeza. Mas, quem rouba a cena mesmo é Joel Edgerton, em um trabalho absolutamente despretensioso e eficiente, transformando seu John Falstaff no personagem mais carismático do longa.

O maior problema de O Rei seja que apesar da soma de suas partes funcionarem individualmente, juntas não nos levam a lugar algum. É um filme bem conduzido, extremamente bem atuado e com uma impecável recriação de época mas que não vai entrar no hall de grandes épicos históricos por deixar a sensação no público de "eu já vi isso antes".

Curiosidades: Selecionado na mostra "Fora da Competição", no Festival de Veneza de 2019.