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Metade dos que vão para a UTI com Covid-19 morre e 80chr37 dos intubados não sobrevivem

22/01/2021
Metade dos que vão para a UTI com Covid-19 morre e 80chr37 dos intubados não sobrevivem | Jornal da Orla

Mais da metade (55%) das pessoas com Covid-19 que vão para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) saem de lá mortas. E 80% dos pacientes com a doença que precisam ser intubados não sobrevivem. É o que revela um estudo publicado na renomada revista científica “The Lancet Respiratory Medicine”, que analisou 254.288 mil pacientes, com idade média de 60 anos, internados em hospitais públicos e privados nos seis primeiros meses da pandemia.

A situação é ainda pior em locais com menos infraestrutura: nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, por exemplo, as taxas de mortalidades nas UTIs são de, respectivamente, 79% e 66%.

“Estes dados mostram claramente que nossa grande batalha é evitar que os quadros clínicos se agravem, que os pacientes não precisem ir para a UTI”, alerta o infectologista Marcos Caseiro, um dos especialistas mais respeitados do país. 

Caseiro acrescenta que muitos pacientes apresentam casos mais graves por terem sido submetidos a tratamentos completamente ineficazes: receberam o “tratamento precoce” com o “kit covid”, que é composto por medicamentos comprovadamente ineficientes para combater o novo coronavírus.

 

Além de ineficaz, “tratamento precoce” pode trazer mais problemas

 

Infectologistas e sanitaristas explicam que uma das principais causas do colapso ocorrido em Manaus foi a aposta no chamado “tratamento precoce”, com o uso do “kit covid” — um conjunto de medicamentos sem eficácia para o combate à covid-19. Do governador do estado ao apresentador de TV popular, passando por médicos e até mesmo a própria Secretária de gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, foram muitos os defensores do coquetel composto por cloroquina, azitromicina, ivermectina, oseltamivir, zinco e as vitaminas C e D.

Pior: os especialistas temem que a indicação do “kit covid” em diversas outras partes do país façam com que a situação caótica no Amazonas se repita.

 

Doutor cloroquina

Mas em que se baseiam os defensores do “tratamento precoce”? A solução aparentemente simples para resolver um problema complexo surgiu com o francês Didier Raoult, que disse ter feito um pesquisa em que todos os pacientes tratados com hidroxicloroquina foram curados. 

“Apesar do pequeno tamanho da amostra, nossa pesquisa mostra que o tratamento com hidroxicloroquina está significativamente associado à redução e ao desaparecimento da carga viral em pacientes com Covid-19, e que seu efeito é reforçado pela azitromicina”, escreveu Raoult, em sua conclusão. 

O estudo de Raoult tinha uma série de problemas — e ele apenas os reconheceu esta semana. Primeiro, ele utilizou um grupo pequeno demais de pacientes: 20. Mais do que isso: o estudo começou com 26 pessoas, mas seis simplesmente foram excluídos da análise final por vários motivos: um morreu de Covid-19 no meio do estudo, três tiveram que ir para a UTI para sobreviver, um abandonou o uso dos medicamentos por sentir efeitos colaterais, como náuseas, e um paciente decidiu deixar o hospital.

Após vários outros cientistas apontarem problemas no trabalho, Raoult e sua equipe admitiram falhas metodológicas graves no estudo. “Concordamos com os colegas que a exclusão de seis pacientes de nossa análise pode ter enviesado os resultados”, diz uma carta assinada pela equipe.

Outro grande problema do trabalho de Raoult é ele ter baseado sua conclusão na técnica que os cientistas chamam de “relato de caso”: o pesquisador observa um efeito e o relaciona a determinada causa.

 

Estudo com casos leves
Depois, a crença na eficácia da hidroxicloroquina ganhou força com um experimento feito com 2.500 pacientes em Michigan. Os especialistas indicam uma série de falhas nesta pesquisa, entre elas a falta de informações sobre a gravidade dos pacientes analisados — as pessoas poderiam ter superado a doença por terem tido uma versão moderada da doença e o próprio sistema imunológico delas se incumbiu de recuperá-la.

E é justamente isso o que acontece na maioria dos casos de covid-19. Quando não são assintomáticas, as pessoas têm sintomas leves — apenas um percentual muito pequeno necessita ser hospitalizado.

“É uma tendência humana: a pessoa tende a atribuir a melhora ao tratamento que usou. Pode ser um chá, um remédio ou uma oração”, afirma a reitora da Universidade Federal de Porto Alegre, Lucia Pellanda.

 

Piorando o que está ruim
O uso do “kit covid” não só não cura os pacientes como pode agravar o quadro, já que eles acreditam estar sendo tratados, mas a doença vai evoluindo e o caso se torna sério. É o que mostra um levantamento divulgado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Saúde: de cada 10 10 municípios com mais de 100 mil habitantes que distribuíram oficialmente um kit com medicamentos para o “tratamento precoce” contra Covid, nove registraram uma taxa de mortalidade pela doença mais alta do que a média estadual.

Além disso, o uso indiscriminado de drogas como hidroxicloroquina pode provocar reações adversas, resistência bacteriana (com o surgimento de doenças como a “supergonorreia”) e efeitos desconhecidos em longo prazo.