Apesar das estatísticas definirem a proporção alarmante de pessoas fora do mercado de trabalho que pertencem à “pretensa minoria racial brasileira” composta de 56% de pessoas de ascendência negra, o que não vemos é o movimento contrário de eliminar esta distância entre empresas e pessoas em busca de colocação. Pouco adianta a criação de leis, se elas se tornam letra morta por falta de acompanhamento e de ações efetivas para que realmente seja feita a adesão consciente e não forçada ao processo de quebra dessas barreiras.
Diz o ditado: quem bate não se lembra, quem apanha jamais esquece!
Há séculos que em nosso país, aqueles que sempre apanharam não são ouvidos em suas necessidades, suas queixas são tratadas como “mimimi” ou “vitimismo”, mas, nenhum cientista social teve a coragem de vivenciar por um longo tempo a realidade das pessoas que moram em condições inadequadas em barracos e palafitas, pegam conduções lotadas, gastam muitas horas do seu tempo em trânsito até seu local de trabalho ou até mesmo, visitam as escolas da periferia para saber em que condições é feito o processo de educação formal, acompanham estudam universitários que se sacrificam para ter ascensão social através do estudo sem a certeza de que serão admitidos nas grandes empresas de seus sonhos.
Durante séculos foram criados mecanismos mentais que associam a cor da pele à indolência, falta de iniciativa, gosto pela dança/bebida, pouca inteligência e sensualidade desenfreada. A literatura está repleta de personagens que reforçam esta imagem, a mídia tem se ocupado da criminalidade e não dá espaço aos melhores exemplos que poderiam sinalizar mudanças na trajetória de muitos jovens que estão buscando espaço no mercado de trabalho.
Precisamos mudar esta mensagem subliminar que insiste em nos assombrar, fazendo com que muitos desistam e outros nem tentem buscar condições melhores. Precisamos mudar o olhar das empresas para que percebam que competência e caráter independem da cor. Precisamos ouvir aquelas pessoas que tanto lutam, lutaram e continuam lutando para educar seus filhos para quem tenham melhores chances de vida. Precisamos unir esforços para que possamos ver em futuro não tão distante, gerentes, diretores, presidentes de empresas que representem a “pretensa minoria negra de 56% de nossa população brasileira”. Precisamos agir mais e falar menos sobre o assunto. Precisamos nos unir nessa marcha em direção aos direitos que nos pertencem e foram sendo aviltados pouco a pouco, incutindo na mente da classe dominante o mantra que ocupam um espaço intransponível aos demais. Precisamos agir mais e falar menos, destruindo o mantra que foi incutido na mente da nossa “pretensa minoria” de que não temos direito a ocupar espaços acima dos que nos foram impostos gradualmente pela história.
Juntemos esforços, pois um país que quer se colocar como uma das principais economias do mundo, não deve jamais omitir a ascensão daqueles que buscam a tanto tempo, superar o hiato social que os separam das melhores condições de vida.
* Djalma Moraes é professor, escritor, consultor na área de RH e membro da ABRH – Associação Brasileira de Recursos Humanos – Regional Baixada Santista. Site www.mqs.com.br, e-mail [email protected]