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A bailarina da morte

04/11/2020
A bailarina da morte | Jornal da Orla

Lilia Schwarcz, professora titular do Departamento de Antropologia da USP, uniu-se mais uma vez à historiadora Heloisa Starling para juntas trabalharem neste livro, concebido para responder à pergunta fundamental: afinal, o que está acontecendo nestes tempos de pandemia-2020? Disseram as autoras que foram “perguntar ao passado e ele nos respondeu com a história da gripe espanhola”. E, de fato, as semelhanças no trato das duas pandemias impressionam.  

 

O critério técnico-histórico rigoroso baseado em vasta pesquisa, o talento narrativo já conhecido das autoras e os curiosos recortes jornalísticos introduzidos em cada capítulo conduzem deliciosamente o leitor ao longo do “caminho” percorrido pela gripe espanhola no Brasil, desde a chegada do navio europeu Demerara ao porto de Recife (set/1918) até a expansão para o Rio de Janeiro, Porto Alegre e daí para o interior do país. 

 

Diante do descaso com que a maioria das autoridades tratou a pandemia, minimizando-a para não ter que lidar com o desgaste político, proliferaram lendas urbanas (pessoas estariam sendo “enterradas vivas”), paranoias (a gripe seria uma “arma biológica” inventada na Alemanha) e remédios milagrosos, tais como a cachaça, comprimidos de cloroquinino, água tônica, fogueiras com alcatrão e sapatos antigripais. No fim reinou o desamparo e a desinformação, notadamente em razão da ausência de diretrizes nacionais de combate à pandemia e pela prática daquilo que se convencionou chamar de “política do avestruz”, consistente na reiterada negação política da pandemia com tons de ameaça à imprensa que noticiava o crescente caos. 

 

A Bailarina da Morte é, além de um excelente livro, um atestado de que não se lembrar da própria história é condenar-se a repeti-la. 

 

Motivos para ler:

 

1 – Lilia é, além de reconhecida acadêmica, escritora de mão cheia. Já venceu e foi outras tantas vezes finalista do prestigiado Prêmio Jabuti. Lançou livros muitíssimo bem recebidos, tais como “Sobre o autoritarismo brasileiro” e “Lima Barreto: triste visionário”. Em parceria com Heloisa Starling também escreveu “Brasil: uma biografia”, uma extraordinária viagem ao longo da história deste país. Todos eles altamente recomendados;

 

2 – Cremos que, ao lado dos romances, biografias e demais gêneros literários, os livros de não-ficção também merecem destaque. Muitos acadêmicos de renome escreveram em linguagem acessível para os leigos: astrônomos (Hawking, Sagan, De Grasse Tyson, Gleiser), biólogos (Diamond, Dawkins),  cientistas políticos (Runciman, Levitsky, Mounk, Abranches) e historiadores (Karnal, Schwarcz, Schwanitz). Essa espécie de leitura certamente expandirá sua consciência, abrindo-lhe novas estrelas no seu universo particular. Lembre-se: vive melhor quem pensa melhor, e conhecer a diversidade das ciências humanas é um bom caminho para isso;

 

3 – Leia mulheres!


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