Santos

Esculpindo o futuro

10/08/2019 Da Redação
Esculpindo o futuro | Jornal da Orla

Em uma área degradada repleta de cortiços, prédios abandonados, biqueiras de consumo de drogas e párias, desenvolver um trabalho com crianças desta comunidade seria como enxugar gelo. Mas, contrariando o que seria a lógica, a Associação Esculpir vem apresentando resultados capazes de deixar os olhos de quem o conhece brilhando de lágrimas. No lugar, jovens embrutecidos por uma dura realidade são literalmente lapidados para se transformarem em pessoas dignas. 

 

Crianças vulneráveis

Atualmente, a associação atende 70 jovens entre 5 e 16 anos, moradores dos arredores do Mercado Municipal (Vila Nova e Paquetá), oferecendo refeições e atividades no contra turno escolar: aulas de violão erudito, xadrez, ioga para crianças, dança contemporânea, jiu-jitsu, karatê e artesanato em costura.

Mas a principal conquista não é permitir o desenvolvimento destas habilidades nas crianças, mas sim ajudá-las a conquistar autoestima, noções de cidadania e princípios éticos. “Estas crianças vivem em uma área de vulnerabilidade social muito grande, muita pobreza, famílias desagregadas, muitas vezes com pais dependentes de drogas”, explica a coordenadora do projeto, Karina Nishi. “Muitas destas crianças aprendiam valores errados em casa, que seria aceitável entrar no mundo do crime sob a justificativa de sobreviver”.

Karina Nishi argumenta que o grande objetivo do projeto não é praticar assistencialismo, mas oferecer uma nova perspectiva de vida para estes jovens. “Estamos nadando contra a corrente, mas os resultados que conseguimos nos inspira a seguir em frente”, assegura. Ela salienta que se trata de uma via de mão dupla: a criança precisa fazer a parte dela (no projeto e na escola), com assiduidade, disciplina e dedicação.

Ela revela que muitas crianças chegam ao projeto em situação extrema. “Chegam com fome, não sabem ao menos usar o banheiro ou segurar um talher. Mas, em geral, o que mais precisam é de um abraço, carinho, uma conversa”.

 

Origem do projeto


O projeto Esculpir foi criado em 2001 pela Polícia Militar, que queria a princípio criar um espaço de convivência para os policiais desestressar. O local foi aberto à comunidade, na expectativa de receber adultos. Mas só apareceram crianças. Que passaram a frequentar o espaço diariamente. Duas policiais (Lídia e Lúcia) incrementaram as atividades, arregimentando voluntários para aulas de reforço escolar, culinária e artesanato. 

Em 2003, Karina Nishi, que é nutricionista por formação, conheceu o projeto e começou a atuar como apenas mais uma voluntária. Ela se encantou, se sensibilizou e percebeu que estava diante de um desafio de vida. A participação foi aumentando até se tornar diária e em tempo integral. 

 

Gelo seco


Apesar de o projeto ter capacidade de atender um número restrito de crianças, diante do universo de jovens que necessitam deste tipo de atendimento, Karina não acredita estar enxugando gelo. “Uma vez, um menino de 12 anos falou para mim: ´tia, o trabalho de vocês aqui é muito bom, muito bonito, mas para mim não vai funcionar. Eu quero ser bandido´. Realmente, existem casos que não tem jeito, mas para cada um destes há outros 10 que terão uma vida diferente, graças ao projeto”, afirma. “Fico feliz de reencontrar ex-alunos hoje adultos que levam uma vida digna, com uma família e emprego. Entenderam que, mesmo tendo dificuldades, vale a pena ser honesto”.

Ela exemplifica com o caso um ex-aluno do projeto que ganhou prêmios internacionais de dança e voltou para o Brasil para ajudar outras crianças, que passaram pelo que ele passou. 

Karina avalia que quem mais aprende no projeto Esculpir são os voluntários e professores, e não as crianças. “A gente aprende mais do que ensina. Temos aqui crianças que vivem em cortiços, em condições extremamente precárias, famílias desajustadas, sob vários riscos, e chegam aqui com um sorriso no rosto e lhe dão um beijo, um abraço. Na verdade, nós não temos problemas. A gente que vive numa redoma”. 

 

Atividades variadas

Hoje, o projeto Esculpir se mantém graças a doações voluntárias e aos recursos obtidos nos bazares de artigos usados (roupas, sapatos, móveis e eletrodomésticos) e eventos. “Não estamos vinculados a nenhuma religião ou órgão público”, ressalta. “Não queremos recursos públicos, porque não confiamos em políticos. Nosso trabalho é muito árduo e nunca deixaremos ninguém se aproveitar”, argumenta.

Entre as atividades, ela destaca as aulas de violão erudito, pelo método Manzione: são aulas coletivas, onde os alunos aprender a tocar, se ouvir, ouvir os colegas e a importância da disciplina e do trabalho coletivo. “Estamos preparando adolescentes que têm interesse em dar aulas. Quem sabe teremos vários professores do método Manzione”, comemora. Karina acrescenta que todos os cerca de 50 violões utilizados nas aulas foram doados. “E os emprestamos para os alunos estudarem em casa”.

O projeto Esculpir oferece também aulas de artesanato em costura. “E foi a própria professora que comprou as máquinas de costura”, salienta. Os artigos produzidos ficam disponíveis para venda no próprio bazar da entidade, mas infelizmente não têm grande procura. Falta uma loja mais bem localizada (no Gonzaga ou shopping center) se interessar para vendê-los — fica a dica!

 

Gelo seco
Apesar de o projeto ter capacidade de atender um número restrito de crianças, diante do universo de jovens que necessitam deste tipo de atendimento, Karina não acredita estar enxugando gelo. “Uma vez, um menino de 12 anos falou para mim: ´tia, o trabalho de vocês aqui é muito bom, muito bonito, mas para mim não vai funcionar. Eu quero ser bandido´. Realmente, existem casos que não tem jeito, mas para cada um destes há outros 10 que terão uma vida diferente, graças ao projeto”, afirma. “Fico feliz de reencontrar ex-alunos hoje adultos que levam uma vida digna, com uma família e emprego. Entenderam que, mesmo tendo dificuldades, vale a pena ser honesto”.

Ela exemplifica com o caso um ex-aluno do projeto que ganhou prêmios internacionais de dança e voltou para o Brasil para ajudar outras crianças, que passaram pelo que ele passou. 

Karina avalia que quem mais aprende no projeto Esculpir são os voluntários e professores, e não as crianças. “A gente aprende mais do que ensina. Temos aqui crianças que vivem em cortiços, em condições extremamente precárias, famílias desajustadas, sob vários riscos, e chegam aqui com um sorriso no rosto e lhe dão um beijo, um abraço. Na verdade, nós não temos problemas. A gente que vive numa redoma”. 
 

Para colaborar com o Projeto Esculpir:
Associação Esculpir (CNPJ 05397186/0001-88)
Banco Itaú – Ag 0213 / Cc 06623-6
Rua Sete de Setembro, 104, Vila Nova – Telefone: (13) 4141-3523

 

Foto: Divulgação