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Resenha da semana: Longa Jornada Noite Adentro

10/08/2019
Resenha da semana: Longa Jornada Noite Adentro | Jornal da Orla

Como é bom ver filmes de arte deste tipo chegando aos cinemas da nossa cidade em tempos que longas de super heróis e remakes reinam e arrecadam milhões mundo afora. É importante para nossa cidade receber cada vez mais filmes diversificados, de países e culturas diferentes para presenciarmos o quão bom é o cinema mundial. Desta vez, chega à cidade Longa Jornada Noite Adentro, e como em minha crítica anterior, já vou logo dizendo que este é um filme que vai exigir enorme paciência do público. São 140 minutos longos, confusos, com a crítica especializada dizendo que se trata de um filme noir, porém a tensão é zero. O grande atrativo deste longa, é o seu arrebatador visual com sequencias esteticamente estudadas e elaboradas para não saírem de sua mente. Mas dizer que é bom, já é outra coisa.

 

O filme nos apresenta a Luo Hongwu, que retorna para sua cidade natal depois ter ficado impune por um assassinato que cometeu há 12 anos. As memórias da mulher que matou voltam à tona. O passado, o presente, a realidade e a imaginação começam a se confrontar. O longa é dirigido pelo jovem chinês Bi Gan, que confesso não conhecer seu filme anterior, já que esse é seu segundo longa. O cinema chinês vem apresentando recentemente obras com teor político e social e este cineasta chega na contramão com algo mais experimental, um cinema em forma de arte que se aproxima mais de um sonho. Após uma primeira hora para apresentar os personagens com uma pegada mais investigativa, o diretor nos conduz em um hipnótico plano sequencia de UMA HORA ( isso mesmo) e ainda por cima em 3D, como se estivéssemos dentro de um sonho. E é aí que o filme fica extremamente confuso e para quem gosta de um roteiro mais linear, se decepcionará demais. Bi Gan gosta de criar enquadramentos com diversos planos, com algo acontecendo em primeiro plano enquanto outra atividade se desenvolve ao fundo. Mas é interessante a estética e originalidade que o diretor traz quando temos que colocar os óculos 3D e entrar definitivamente no sonho do protagonista, que passeia por vários cenários, desde uma prisão abandonada até um teleférico.

 

Tudo isso, captado brilhantemente pela câmera do filme, que sobe e desce escadas, entra e sai de cômodos e chega até a voar junto com seus personagens. 

 

O roteiro, também assinado pelo diretor, não chama tanta atenção pela construção de seus personagens e a falta de motivação de seu protagonista e de todos os que o rodeiam, levam a personagens extremamente desinteressantes. É complicado acompanhar um personagem cujos anseios não fazem nenhum sentido para ele, e nunca fica claro qual o motivo de sua busca pela aquela mulher ou qual a importância de encontrá-la. Mas o que mais se destaca é a construção do ambiente que está ao redor destes personagens.

 

A fotografia é espetacular e além de sustentarem um ambicioso plano sequencia por metade do filme, eles apresentam uma cidade em constante transformação.

 

A trilha sonora passa uma sensação de mistério e inquietação criando uma experiência sensorial arrebatadora ao passo que a direção de arte possui um cuidado visual impressionante com cada enquadramento, cenário e cores, como o vestido verde da mulher (sempre que a cor é apresentada na tela, nos lembramos dela).

 

O cineasta Bi Gan cria, com Longa Jornada Noite Adentro, uma experiência visual e sensorial arrebatadora mas esquece que mais importante que seu visual, são seus personagens e a identificação e empatia que geram ao público, mas que aqui passam longe. Encontrei uma declaração que o diretor deu em algum festival de cinema e achei um tanto quanto pretensioso. E você, o que achou? “Eu escolhi um gênero, que neste caso foi noir, e escrevi um roteiro. Então, eu resolvi interromper e quebrar o próprio processo enquanto estava gravando o filme, e resolvi quebrar ainda mais. Eu estava sempre tentando simplificar e atrapalhar meu processo criativo, e até mesmo na edição, com interrupções ao olhar para as imagens e tentar dividi-las em formas ainda menos formatadas e semelhantes. E essa é a versão que você acaba vendo”. Aqui deixo minha pergunta: você gostou do que viu?

 

Curiosidades: Pelo fato de ter sido produzido como um filme de arte e direcionado para o público geral (como um filme fora dessa categoria), uma alta porcentagem dos espectadores foram assisti-lo sem saber como ele era. Por isso, o filme recebeu um alto número de reclamações e críticas.

 

 

Foto: Divulgação