Digital Jazz

O som da Filadélfia

15/09/2018
O som da Filadélfia | Jornal da Orla

Esta semana vou destacar uma sonoridade única e marcante. Trata-se do “Som da Filadélfia”, que teve seu auge na década de 70 e que tinha como grande característica reunir os gêneros Swing, o Clássico, o Jazz, o R&B, o Funk e o soul, nos seus arranjos instrumentais sempre vibrantes. 

 

A sonoridade era apresentada por um vigoroso e afinado naipe de metais, acompanhado por uma orquestra de cordas, bateria, teclados, guitarra e também o vibrafone.

 

Impressionante dizer que o “Som da Filadélfia” continua extremamente atual nos dias de hoje, parecendo até que acabou de sair do estúdio. Um som de vanguarda e de intensa qualidade. E que vai durar para sempre.

 

Muitos artistas foram formados nesta escola: os cantores Billy Paul, Lou Rawls, Teddy Pendergrass, os grupos The O’Jays, Harold Melvin & The Blue Notes, The Stylistics, The Tramps, The Three Degrees e muitos outros. Um verdadeiro “dream team”. 

 

Destaque também para os seus grandes mentores musicais, os produtores Kenny Gamble e Leon Huff, nomes importantíssimos e muito criativos, que fundaram a Philadelphia International Records, selo que virou grande referência desta sonoridade. E também merece destaque, o pianista, compositor, arranjador e produtor Thom Bell, outro gênio da música. 

 

O grupo MFSB, produzido por Gamble & Huff é uma história à parte. A começar pelo nome, uma abreviação criativa de “Mother, Father, Sister & Brother” que lançou grandes discos, que viraram marca registrada desta fase.

 

Só para lembrar os discos “Love Is The Message” e “MFSB” (1973), “The Three Degrees  & MFSB” (1974), “Universal Love” e “Philadelphia Freedom”  (1975), “Summetrime”(1976), “MFSB – The Gamble – Huff Orchestra” (1978) e “Mysteries Of The World” (1980) são indispensáveis para aqueles que querem se aprofundar nesta sonoridade.

 

Tinham em mente apenas uma coisa: entrar no estúdio para arrasar quarteirões. E o MFSB conseguia reunir uma formação com mais de 30 músicos muito inspirados e sedentos por boa música. Realizavam com absurda competência, o que podemos chamar de “música de qualidade”. 

 

E os temas que gravavam, logo emplacavam nas paradas e caíam no gosto do público. Coincidentemente, foram eles também que deram as boas-vindas a “Era Disco”.  

 

MFSB – uma banda/orquestra, referência musical forte e marcante na minha trajetória de vida.

 

 

“Oscar Peterson Plays The George Gershwin Songbook”

O canadense Oscar Peterson é um dos meus pianistas preferidos. No ano de 1996 o selo Verve, um dos mais tradicionais do Jazz, lançou o CD “Oscar Peterson Plays The George Gershwin Songbook”, reunindo gravações feitas pelo pianista nos anos de 1952 e 1956 nos seus dois discos, que homenagearam o genial George Gershwin.

 

No primeiro set do disco, composto por 12 faixas, gravadas no mês de agosto de 1959, ele foi muito bem acompanhado por Ray Brown no contrabaixo e Ed Thigpen na bateria. E que pode ser considerado como o trio mais famoso da sua carreira.

 

Meus destaques ficaram para os temas “A Foggy Day”, “Love Walked In”, “Love Is Here To Stay”, “Summertime” e “Nice Work If You Can Get It”. Simplesmente, sensacionais.

 

Já o segundo set, com mais 12 faixas, desta vez gravadas entre os meses de novembro e dezembro de 1952, ele foi acompanhado pelo incrível Barney Kessel na guitarra e novamente por Ray Brown no contrabaixo.

 

Destaco os temas “The Man I Love”, “Fascinating Rhythm”, “I’ve Got A Crusch On You”, “S’Wonderful”, “I Got A Rhythm” e “Love Walked In”.

 

A produção dos dois discos ficou por conta de Norman Granz, grande mentor do selo Verve e responsável por verdadeiras obras primas, lançadas através dos anos.

 

Ele inclusive foi determinante na carreira de Oscar Peterson, pois no ano de 1949, Granz o convidou a sair do Canadá para integrar a trupe de “all stars” do “The Jazz At The Philharmonic”, que excursionava pelos Estados Unidos. O sucesso para ele chegou imediatamente e recebeu do público um carinho muito grande.
Improvisador nato e cheio de swing, seu toque no piano é inconfundível. Influenciou vários pianistas e continua até os dias de hoje a influenciar pelo seu estilo raro e marcante. 

 

Um grande exemplo também de superação. Nos últimos anos de vida, ele tocou de forma limitada em razão de um derrame. A música o inspirou e o motivou a continuar lutando e não desistir.

 

 

Stan Getz & Kenny Barron – “People Time”

Este álbum duplo do saxofonista Stan Getz com 14 temas, lançado originalmente em 1992 pelo selo Verve Gitanes Jazz, foi eleito pela revista Jazz Times como um dos 50 melhores álbuns de sax tenor de todos os tempos. 

 

E curiosamente também foi gravado pouco antes da sua morte e é considerado por muitos como seu testamento musical.

 

Assim como aconteceu como a maioria dos gênios do Jazz, Stan Getz teve uma vida desregrada, instável e cheia de turbulências. 

 

Pode ser considerado como um dos maiores embaixadores da Bossa Nova nos Estados Unidos. Fez gravações antológicas ao lado de João Gilberto, Astrud Gilberto e Tom Jobim. Sempre foi um grande fã e incentivador da nossa música.

 

No ano de 2010 as 14 faixas do CD original ganharam outras 37 inéditas. Todas foram gravadas ao vivo no formato duo de sax e piano no Café Montmartre em Copenhague, um dos mais tradicionais templos do Jazz da Europa, fundado em 1959.

 

Surpreende ouvir a vitalidade do sopro de Stan Getz encontrando seu velho parceiro Kenny Barron ao piano. Cumplicidade pura.  

 

No primeiro disco, destaque para “East Of The Sun” (uma das minhas preferidas), o clássico “Night and Day”, “Like Someone In Love” e “I Remember Clifford”.

 

Já o segundo disco tem como destaques “First Song (For Ruth)”, “There Is No Greater Love”, a faixa título “Pepople Time”, “Softly, As In A Morning Sunrise” e “Soul Eyes”.

 

Stan Getz, saxofonista de sopro melódico, supremo e absoluto. Outro da minha lista de favoritos.