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Resenha da semana: Você nunca esteve realmente aqui

11/08/2018
Resenha da semana: Você nunca esteve realmente aqui | Jornal da Orla

Chamado de o novo Taxi Driver para a nova geração, as comparações feitas pela crítica entre este longa com o clássico de 1976 de Martin Scorsese, não são a toa. Ambos tem um protagonista norte americano que passou por um experiência traumática na guerra, são perturbados psicologicamente e decidem entrar em uma cruzada para salvar menores de idade usadas com propósitos sexuais por adultos inescrupulosos.

 

Uma das tarefas mais difíceis de um cineasta é a de encontrar um protagonista perfeito, que dará vida e impulsionará o público a embarcar naquela história e a diretora escocesa Lynne Ramsay conseguiu acertar em cheio: Joaquin Phoenix é a escolha perfeita para mergulharmos profundo nessa perturbadora história.

 

Você Nunca Esteve Realmente Aqui narra a história de Joe (Joaquin Phoenix) um veterano de guerra que ganha a vida resgatando mulheres presas em cativeiros trabalhando como escravas sexuais. Após uma missão mal sucedida em um bordel de Manhattan, no entanto, a opinião pública se torna contra ele e uma onda de violência se abate na região. Desde o perturbador Precisamos falar sobre Kevin, de 2011, a diretora Lynne Ramsay continua com um domínio narrativo e estético impressionante e consegue criar planos belíssimos e cheios de emoção em momentos trágicos, como a belíssima cena no fundo do rio. Com longos planos cheio de detalhes e ângulos de câmera estilizados (particularmente nas cenas de violência), ela cria uma atmosfera sombria, que mesmo não sendo explícita, consegue causar um desconforto angustiante no público.

 

Com isso, em menos de uma hora e meia de projeção, temos uma aula completa sobre desenvolvimento de personagem e um thriller psicológico intimista que agradará quem realmente aprecia o verdadeiro cinema de arte. Baseado no romance escrito por Jonathan Ames, o roteiro também da diretora, acerta ao revelar pouco de seu protagonista que permanece enigmático por todo o filme. O texto trata a violência de forma distante e seca, sem recursos artificiais ou emocionante, igualmente como seu protagonista, contemplativo e indiferente. Aqui, os detalhes nas entrelinhas (como os interessantes flashbacks que são inseridos para conhecermos um pouco do passado de Joe), falam mais alto do que qualquer situação expositiva, o que enfraqueceria o longa. 

 

Tecnicamente impecável, o longa se beneficia da melancólica fotografia de Thomas Townend, que cria um tom intimista com tons de verde e cinza e a trilha sonora do sempre excelente Jonny Greenwood, que consegue mais uma vez ser impactante e enervante com uma empolgante pegada meio oitentista.

 

Joaquin Phoenix (meu ator favorito) é o corpo e alma deste filme e é através de sua performance que conseguimos compreender o tormento emocional e o peso do trauma que ele carrega. Totalmente entregue ao papel, é inegável o magnetismo e brilhantismo deste ator, que consegue ir da inocência dócil a explosão de fúria e violência em milésimos de segundo. Reparem em seu olhar quando um de seus contratantes pede para que ele aja com "violência" contra alguns criminosos e na cena em que ele se deita ao lado de um assassino, que ele feriu mortalmente, e mostra uma tocante compaixão ao segurar a mão dele enquanto morre.

 

Você Nunca Esteve Realmente Aqui é um brilhante estudo da mente de uma pessoa atormentada, com uma competente direção e é favorecido por uma entrega total e estupenda atuação de Joaquin Phoenix. Não é um filme para todos, mas quem estiver disposto e embarcar nessa jornada, verá um dos melhores filmes dos últimos anos.

 

Curiosidades: Joaquin Phoenix ganhou o prêmio de melhor ator por seu papel neste filme no Festival de Cannes 2017.

 

 

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