
Marco Santana
“Polícia Federal: a lei é para todos”, que acaba de estrear em todo o Brasil, constrange a inteligência até de quem acha que Lula é um escroque. E dá razão a quem acusa a narrativa de ser tendenciosa.
O filme relata que a Operação Lava Jato começou como uma investigação de um doleiro (Alberto Youssef) que lavava dinheiro de um traficante. Desenrolando o novelo, os policiais descobriram que o doleiro também trabalhava para o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que participava de um gigantesco esquema de corrupção envolvendo contratos da empresa.
Bons atores, enquadramentos e edição de imagens interessantes, trilha sonora eletrizante… O longa metragem vai bem tecnicamente até este momento em que Paulinho entra em cena e entrega geral: PT, PMDB, PP… É quando o filme derrapa feio e sai da pista para nunca mais voltar. A partir daí, a narrativa se concentra exclusivamente no PT —negativamente, óbvio.
Ausentes e coadjuvantes
Para se ter uma ideia, o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, não aparece. Só dá o ar da graça depois do fim do filme, após os letreiros – e ele mesmo, na reprodução de um trecho do seu depoimento ao juiz Sérgio Moro.
A presença de Moro, aliás, vai decepcionar os fãs do juiz. Aparece como mero coadjuvante. O Japonês da Federal, figurinha carimbada nas prisões na vida real, aparece numa única cena e tão rápido que, se o espectador piscar os olhos, não verá. O roteiro do filme parece ter consciência deste direcionamento ao PT e companhia, a ponto de os personagens se revezarem para, a cada dez minutos, dizerem algo como "não estamos sendo seletivos", "a gente investiga o fato", "quem cai na nossa mão é investigado". Mas não são citados, nem por um segundo, Romero Jucá, Renan Calheiros, Fernando Collor, nenhum político do PP (partido com mais investigados pela Lava Jato)…
O filme capota de vez, com as quatro rodas para cima, na sequência que mostra a condução coercitiva do ex-presidente Lula: parece a cena do cerco para prender o narcotraficante Pablo Escobar, no seriado “Narcos”. Escalado para interpretar Lula, o ator Ary Fontoura personifica um vilão, com todos os trejeitos e estereótipos possíveis.
Enfim, quem esperava um bom filme, que retratasse um momento importante na história do Brasil, leva um banho de água fria. Quem se entusiasmar com “Polícia Federal: a lei é para todos” é melhor abrir os olhos, pois o ódio anti-Lula, PT e companhia está cegando sua razão.
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