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A Bossa Nova e os seus joviais 59 anos

14/01/2017
A Bossa Nova e os seus joviais 59 anos | Jornal da Orla
Em 10 de julho de 1958, na cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente nos estúdios da gravadora Odeon, localizado na Cinelândia, o genial violonista e cantor João Gilberto revolucionou a Música Popular Brasileira.
 
Neste dia, ele gravou o seu primeiro 78 rotações, acompanhado pela Orquestra liderada por Antonio Carlos Jobim, cantando, com seu violão, “Chega de Saudade”, no lado A, e “Bim Bom”, no lado B. Como muito bem fundamenta meu querido amigo Carlos Alberto Afonso, dono da Toca do Vinicius, localizada no bairro de Ipanema, “está aí o primeiro documento fonográfico com o quadro estético da Bossa Nova, em gravação de seu próprio formulador, João Gilberto, acompanhado de seu coarquiteto Tom Jobim, materializado pela canção”.
 
O disco foi lançado em agosto de 1958 e, sem dúvida alguma, esta gravação de “Chega de Saudade”, deu origem ao que chamamos de Bossa Nova, hoje de caráter universal, portanto patrimônio cultural da humanidade.
 
É bom destacar, também, que o mesmo samba de Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes já havia sido gravado alguns meses antes, no também importante LP “Canção do Amor Demais”, da cantora Elizete Cardoso.
 
Naquele disco, as músicas “Chega de Saudade” e “Outra Vez”, contaram com a mágica levada no violão de João Gilberto e ali já pudemos constatar o que ele era capaz de fazer.
 
No ano seguinte, em 1959, João Gilberto lançou finalmente seu primeiro LP como líder e o nome não poderia ser outro, “Chega de Saudade”. Depois disso, a música brasileira nunca mais foi a mesma.
 
O cenário e a ambientação para tanta inspiração não poderiam ser mais perfeitos: a incrível década de 50, a belíssima orla da praia da zona sul da cidade do Rio de Janeiro, o incrível “Beco das Garrafas”, os diversos bares localizados na zona sul, sempre oferecendo uma excelente música ao vivo, os seus hotéis, sua boêmia, sua gente, seus músicos e artistas. E neste momento de questionamentos dos valores morais e éticos, de uma intensa crise política e social que estamos passando na atualidade, a Bossa Nova é a prova de que o Brasil pode dar certo.
 
Na verdade, ela deu muito certo e levou o nome do nosso país para todas as partes do planeta e por incrível que pareça, apesar da pouca repercussão da mídia, continua, até os dias de hoje, sendo admirada, reverenciada, cultuada e recriada.
 
A Bossa Nova vai completar em 2017, 59 anos. É nossa, genuinamente brasileira, digna de um orgulho enorme. Pode ser definida, simplesmente, como forma de execução do samba e sua batida característica é atemporal, imortal, capaz de preencher nossas almas e corações, de uma infinita alegria. E no dia 25 de janeiro de 2017, data que se comemora oficialmente o Dia Nacional e Municipal da Bossa Nova, vamos iniciar as comemorações em Santos, com a tarde/noite de encerramento do Rio Santos Bossa Fest, apresentando grandes atrações. ,
 
Parabéns Bossa Nova, sempre nova até no nome. E principalmente na sua essência, que se renova a cada dia.
 
Wanda Sá – “Ao Vivo”
Em grande estilo e recebendo vários convidados especiais, a cantora e violonista Wanda Sá marcou os 50 anos de carreira, gravando ao vivo no Espaço Tom Jobim, localizado no belo Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, um DVD (com 15 faixas) e CD (com 11 faixas), ambos contendo 3 faixas bônus, lançados em 2014 pelo selo Biscoito Fino. Considerada como uma das pioneiras da Bossa Nova, ela acompanha o movimento desde o seu início, quando tinha apenas 16 anos. Primeiro, como fã de carteirinha dos primeiros encontros e shows, e anos depois, como uma de suas principais protagonistas. Foi aluna e depois professora da famosa Academia de Violão de Roberto Menescal e Carlos Lyra, seus grandes mestres e padrinhos musicais.
 
Seu disco de estreia “Wanda Vagamente” (1964) é uma referência marcante até os dias de hoje, nos quesitos estética (a capa do disco é sensacional,  tem a cara e a alma da Bossa Nova) e também no musical.
 
Os convidados para esta noite de gala são muito especiais: Carlos Lyra, Marcos Valle, João Donato (outro grande mestre para ela), Dori Caymmi e a cantora americana Jane Monheit. A única ausência sentida e justificada foi a de Roberto Menescal que, no dia da gravação do show, estava nos Estados Unidos, recebendo, em Las Vegas, o prêmio Grammy Latino.
 
Dona de uma voz maravilhosa e uma levada no violão apaixonante, Wanda Sá mostra vigor e sentimento nas suas interpretações, no repertório muito bem equilibrado, que prestigia vários compositores importantes da Bossa Nova, que não foram tão festejados.
 
A banda base foi formada por Adriano Souza no piano, Dôdo Ferreira no contrabaixo e o incrível João Cortez na bateria. E as participações especiais de Marcelo Martins no saxofone, Jessé Sadoc no trompete e, nas faixas bônus de Ricardo Silveira na guitarra e Jefferson Escowich no contrabaixo e Jurim Moreira na bateria.
 
Destaques para “Água de Beber”, “Samba de Uma Nota Só”, “Ciúme”, “A Rã”, “Novo Acorde” e as minhas preferidas “E Nada Mais”, “Vagamente”, “Minha Saudade/Bim Bom”, “O Que É Amar” e “Caminhos Cruzados”. Outra grande obra musical desta paulista batizada e convertida a carioca. Entre escolher o formato DVD ou CD, não tenha dúvida, fique com os dois formatos. Wanda Sá se apresenta em Santos, no show de encerramento do Rio Santos Bossa Fest 2017, no dia 25 de janeiro, 21 horas, no Teatro do SESC, ao lado do afinadíssimo Quarteto do Rio. Imperdível!
 
“Wanda Sá & Bossa Três”
A violonista, cantora e compositora paulista e carioca por adoção Wanda Sá é uma das grandes referências da história da Bossa Nova e tem forte entrada no mercado japonês.
 
É uma grande amiga e parceira do guitarrista e compositor Roberto Menescal, seu grande mestre e professor. 
 
Teve a honra de dividir este trabalho definitivo ao lado do grupo Bossa Três, que nasceu e brilhou no Beco das Garrafas em 1961, liderado pelo saudoso pianista Luis Carlos Vinhas e que pode ser considerado como um dos pioneiros da Bossa Nova no formato instrumental.
 
Naquela época, o Bossa Três percorreu os Estados Unidos tocando nas principais casas de jazz e chegou a se apresentar no famoso programa de televisão The Ed Sullivan Show.
 
Vinhas tocava profissionalmente desde os 17 anos e foi colega de Colégio de Menescal e Carlos Lyra, que o ajudaram a se apaixonar pelas noites musicais da cidade do Rio de Janeiro.
 
Era um dos frequentadores das famosas festas no apartamento da cantora Nara Leão na década de 60 e ao longo da carreira lançou alguns discos como líder e acompanhou João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Elis Regina, Maria Bethânia, Maysa e Jorge Ben.
 
Wanda Sá & Bossa Três foi lançado em 2000 pelo selo Deckdisc e fez parte de um pacote nipônico com vários lançamentos feitos por lá e que também merecem nossa audiência por aqui.
 
Sebastião Neto no contrabaixo e João Cortez na bateria completaram o time afinado que nos presenteou com a gravação de alguns temas conhecidos fugindo do óbvio, o que dá marca muito positiva ao trabalho.
 
Você encontrará alguns “medley`s” interessantes e os temas “Errinho À Toa”, “Brisa do Mar”, “Zazueira”, as internacionais “Light My Fire” e “Moonlight/Garota de Ipanema”, com levadas surpreendentes.
 
Como curiosidade, este foi a última gravação do genial pianista Luis Carlos Vinhas e marcou também o retorno do trio depois de uma parada de mais de 30 anos. Vale muito à pena conferir.