
Três acontecimentos, em menos de uma semana, comprovaram que a palavra “acidente” perdeu o seu significado original e agora é usada para designar fatos que são, na verdade, tragédias anunciadas:
1. A morte de 62 presos, metade deles decapitados, em um presídio em Manaus, foi classificada pelo presidente Michel Temer como um “acidente lamentável”. Como se a superlotação das cadeias, a morosidade da Justiça para resolver prisões provisórias e o domínio de facções criminosas fossem fenômenos da natureza, e o poder público nada tem a ver com isso.
2. O incêndio na favela do Dique da Vila Gilda, em Santos, que deixou 318 pessoas sem teto, foi apenas mais um da série de tragédias já ocorridas no mesmo local – praticamente uma por ano. Além de indicar a falência da política habitacional do país, demonstra também a incapacidade do poder público municipal de, durante décadas, implantar um plano consistente de congelamento de favelas. Ao mesmo tempo que não se constroem moradias dignas, permite-se a instalação de mais barracos.
3. O incêndio na fábrica de fertilizantes, em Cubatão, da Vale (a mesma responsável pela morte do Rio Mariana, em Minas Gerais), felizmente não deixou vítimas, mas deve provocar danos ao meio ambiente. Sorte não ter chovido no momento, pois ocorreria uma “chuva ácida”.


Enquanto autoridades e a sociedade encararem fatos como estes meros “acidentes”, as tragédias continuarão acontecendo, em maior número e frequência.
Segundo o Dicionário Aurélio, “acidente” significa “acontecimento imprevisto”, “que resulta ferimento, estrago, dano, prejuízo”. “Desastre”.
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