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150 anos depois, Vicente de Carvalho continua vivo

02/04/2016 Da Redação
150 anos depois, Vicente de Carvalho continua vivo | Jornal da Orla
Revelar que Vicente de Carvalho foi mais do que apenas o “poeta do mar” é o objetivo da programação que marca os 150 anos do nascimento deste santista, que também foi político, cafeicultor e abolicionista.
 
Neste domingo (3), das 10h às 14h, haverá um Varal Literário com poesias do autor, em frente ao monumento em sua homenagem, no jardim da orla, entre o canal 3 e a avenida Conselheiro Nébias. A atividade faz parte do projeto Leia Santos, de incentivo à leitura
 
Na terça-feira, dia 5, às 15h, na Biblioteca de Artes Cândido Portinari (que fica no Centro de Atividades Integradas-CAIS Milton Teixeira, Avenida Rangel Pestana, 150, Vila Mathias), o ator Bruno Fracchia interpreta textos em verso e prosa em “Vicente de Carvalho, poeta do mundo”, com comentários do jornalista Alessandro Atanes sobre a atuação pública e política do poeta. 
 
Muito além- Atanes, que é escritor e mestre em História Social, acredita que a obra de Vicente de Carvalho é subestimada e continua atual. Nesta entrevista, ele defende que alguns de seus poemas poderiam facilmente servir como base para um roteiro cinematográfico. Confira:
 
Quando se fala de Vicente de Carvalho, a tendência é pensar na sua obra poética, de exaltação da natureza, em especial o mar. Você acha que é injusto restringi-lo apenas ao título de “poeta do mar”?
Alessandro Atanes- Não é injusto, mas é uma visão incompleta. Mais do que realçar um ou outro aspecto de sua obra, seria muito bom que ela voltasse a ser publicada, aí qualquer leitor – especialista ou não – poderia se relacionar diretamente com seus poemas sem definições prévias. Por causa desses eventos, fiquei sabendo por meio do ator Bruno Fracchia que o Vicente de Carvalho chegou a esboçar um drama poético com um diálogo entre Fausto e Mefistófelis, um tema da mitologia que recebeu vários tratamentos literários e que merece atenção em sua obra.
 
Você sustenta que alguns de seus poemas são dignos de ser um roteiro de cinema. Por quê?
Atanes- Falo especialmente do poema “Fugindo ao Cativeiro”, do livro “Poemas e canções” (1908). Além do caráter épico, inclusive com uma luta sanguinária no final, o poema é estruturado como se fosse uma câmera em movimento. Na primeira parte, por exemplo, a Serra é apresentada de cima, como uma tomada aérea, e vai, verso a verso, aproximando-se em zoom in até chegar aos personagens. A própria pontuação e a divisão dos versos do poema são estruturadas como se fossem um roteiro com indicações de filmagem e cortes de edição.
 
Qual cineasta seria ideal para dirigir um roteiro de Vicente de Carvalho? 
Atanes- Depois que vi “Django Livre”, não paro de pensar no Tarantino para dirigir o “Fugindo ao cativeiro”, mas ia ser legal se o pessoal do Curta Santos se voltasse para ele. 
 
Vicente de Carvalho foi um abolicionista, defendia causas avançadas para a sua época. Se estivesse vivo hoje, que causas ele defenderia hoje?
Atanes- Minha pesquisa foca mais nas obras literárias, seus temas e relações com a História do que nas biografias e personalidades dos autores. Mas arrisco, me atendo ao tema de “Fugindo ao Cativeiro”, que, após cem anos, ele poderia ter escrito a continuação, “Entrando na Universidade”, como um épico de nossos dias.