
Vice-presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Caio França (PSB) afirma que a parceria do governador Geraldo Alckmin tem sido importante para minimizar os efeitos da crise econômica na região. Apesar das dificuldades e da crise política, ele diz não ver, até o momento, motivos concretos para o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). O deputado destaca avanços no processo democrático e diz que os culpados por atos de corrupção devem ir para a cadeia. Veja abaixo os principais trechos da entrevista para o programa Jornal da Orla na TV:
Como está sendo a experiência do seu primeiro mandato na Assembleia Legislativa?
Caio França – Eu assumi dia 15 de março deste ano. Nós tivemos algumas anotações importantes na Assembleia, eu estou pegando cancha nesses primeiros meses, mas acho que estou conhecendo mais a casa. É diferente, eu fui vereador, mas a experiência do parlamento estadual é diferente porque você vota em questões que você não tem conhecimento de fato. Outro dia, nós estávamos votando uma estadualização de um hospital em Marília, cidade que eu fui uma vez na vida. Então, uma coisa bem ampla, mas eu estou bem animado. Nós votamos o orçamento, que foi uma peça importante para o Governo do Estado, sou vice-presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), todos os projetos votados pela casa passam pela CCJ. O governador começou a fazer a liberação das emendas parlamentares também, então esses primeiros seis meses serviram para eu me adaptar, e acredito que, agora, nós vamos conseguir fazer um trabalho ainda melhor.
Nós vivemos uma grave crise política e econômica. No ponto de vista econômico é a maior crise em 85 anos. Desde 1929, que o Brasil não enfrentava dois anos seguidos de recessão e a previsão são dois anos de recessão. Isso dificulta também?
Caio França – Dificulta muito. Primeiro porque o parlamentar, embora a função principal dele seja legislar e fiscalizar o Executivo, obviamente que na prática ele acaba fazendo muitas outras coisas. Entre elas, a intermediação de relação entre as prefeituras e o governo do Estado. Eu, aqui da Baixada Santista, sou nascido e criado em São Vicente, mas tenho minha relação inteira com a Baixada Santista. Hoje, as emendas estavam com muita dificuldade de serem pagas. Além disso, todas as secretarias do Estado estão travadas, não se começa nenhuma obra nova antes de terminar a que já existe. Você fica um pouco travado aí nesse modelo, mas os prefeitos também têm sido compreensivos nesse momento, até porque eles também estão sofrendo diretamente nas suas prefeituras. De fato é um momento difícil econômico e que acaba interferindo muito na vida política dos parlamentares. Nesse ponto, nós acabamos tendo um contato direto com o governador, que é bem parceiro, bem presente. Nós conseguimos com que ele mantivesse as principais obras de infraestrutura aqui para a região.
Essa parceria com o governo do Estado tem sido fundamental para que a região sofra menos com a crise?
Caio França – Sim, é uma região estratégica, já que 30% do PIB brasileiro passam por aqui, através do Porto. Nós temos alguns gargalos a serem resolvidos, mas infraestrutura é basicamente a principal questão econômica. O governador tem sido muito parceiro da Baixada Santista. Tem alguns pontos que nós estamos reavaliando, como a questão da saúde pública. Nós estivemos aqui recentemente com o governador visitando o Hospital dos Estivadores, futuramente Hospital de Clínicas aqui da Baixada Santista, que está em Santos, mas vai atender a toda demanda regional, entre outras coisas. Saúde ainda é um tema muito delicado, que nós precisamos centralizar mais ainda o atendimento. Em São Vicente, nós garantimos o AME Mais, que vai ter um grande corpo clínico com cirurgias dentro do Hospital São José, no coração de São Vicente, vai atender a região inteira.
O que a população mais cobra hoje do deputado? Quais são as áreas que a população mais reivindica?
Caio França – A saúde, até por ser muitas vezes uma questão até de vida ou morte, acaba sendo a principal demanda. Também a questão da mobilidade urbana, a dificuldade em se locomover de uma cidade para outra. Isso faz com que a obra do VLT seja muito importante para a gente, porque embora seja a ligação somente de duas cidades, mas são as duas principais cidades aqui em números de população.
E a segurança pública?
Caio França – É uma questão superimportante. Cada vez mais as pessoas têm exigido contra-partida dos governos estaduais, municipais e governo federal com relação à segurança. É uma questão macro e o governo do Estado reconhece que existe um débito em relação à Baixada com o efetivo que está aqui.
O senhor falou em mobilidade. Não é um absurdo que o Porto de Santos, o maior porto da América Latina, não tenha acessos decentes. Garantir o acesso a Santos, ao porto, não seria uma obrigação do governo federal, que tem dinheiro para investir em um porto de Cuba, mas não investe aqui. Não falta uma grande mobilização política nesse sentido?
Caio França – Falta, falta sim. Agora eu estive recente com deputados que estiveram fazendo uma visita técnica aqui, em relação ao porto, tem um projeto para ampliar a entrada do Porto de Santos, que é o principal porto da América Latina. Eu fui contra quando o governo Federal investiu no porto de Cuba porque, com todo o respeito que merece, nós temos tantos problemas aqui dentro. Eles (o governo federal) justificam que a relação entre um país e outro é muito forte, mas nós temos problemas no nosso. Não dá para arrumar a casa do vizinho enquanto a nossa tiver problemas.
Vamos falar de política em nível nacional. Nunca se viu tantos escândalos: o PT está atolado em denúncias de corrupção. Agora o presidente da Câmara envolvido na Lava Jato, o presidente do Senado acusado de envolvimento da Lava Jato. Como fica essa situação? Como fica a democracia no país?
Caio França – Uma crise existencial, institucional e que não tem limites. O Partido dos Trabalhadores acaba sendo o principal alvo, até porque nesse momento tudo aconteceu com a questão de Petrobras, com a corrupção. Enfim, pessoas devolvendo R$ 100 milhões. Não conseguimos nem calcular o que seja isso. De fato é um momento muito difícil para a política e para todos os agentes políticos, porque embora isso aconteça mais no cenário nacional, nós aqui, na base, acabamos sofrendo porque as pessoas não fazem a separação de uma coisa e de outra, todo mundo acaba se envolvendo. Talvez seja o momento e a oportunidade também de as pessoas poderem conhecer um pouco mais, se envolver um pouco mais, procurar saber um pouco mais sobre os agentes políticos. Nós esperamos que o país possa encontrar caminhos para sair dessa crise porque isso não é bom para ninguém.
E a questão do impeachment da presidente?
Caio França – A Dilma venceu a eleição e, na minha opinião, enquanto não tiver algo consistente eu não acho justo que seja feito o impeachment. Se tiver alguma coisa que macule a pessoa dela ou algo que houve durante a campanha, aí sim, há motivação. Eu não vejo hoje isso, então nós torcemos para que o país possa voltar a crescer, porque isso (a crise política) acaba atrapalhando a vida de todo mundo, desde o empresário até o trabalhador. Nós esperamos que os culpados, dentro da política, possam ser julgados e condenados, e, se de fato tiver envolvimento, que possa ser afastado da vida pública.
Do ponto de vista político, quem imaginaria, anos atrás, que um político poderoso, que foi o principal ministro de Lula, como o José Dirceu, e que os principais empreiteiros do país fossem para a cadeia, por corrupção? Isso mostra que as instituições estão funcionando e que a lei está valendo para todos…
Caio França – Esse ponto é positivo. Mostra que não existe ninguém acima da lei, que não existe aquela coisa de colocar para baixo do tapete. Acho que foi importante a participação do juiz Sérgio Moro, que teve uma atuação brilhante na Lava Jato. É importante que ela possa continuar dando sequência nesse trabalho. É importante isso, porque mostra que ninguém está acima da lei. Sempre dando a chance da ampla defesa, mas acabou a época em que os políticos do país nunca poderiam ser condenados, que os políticos sempre tinham um jeitinho de sair de problemas. Se tem algo positivo nisso tudo, é que acabou essa história de político não ir preso.
Confira a entrevista completa no Jornal da Orla na TV:
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