Criar filhos não é fácil, só quem passa pela experiência sabe o quanto esta tarefa representa em dedicação, trabalho, paciência e doação. Os pais, em geral, assumem as responsabilidades com amor e entrega, incorporando o novo modo de vida ao dia a dia. Em determinado momento, os filhos crescem e resolvem cair no mundo – seja para casar, estudar, por desejo de independência ou outro motivo. Um processo natural que faz parte do ciclo da vida, mas que em alguns lares é motivo de sofrimento e tristeza.

É a chamada Síndrome do Ninho Vazio, vivenciado principalmente pela mãe quando vê seus filhos ganhando autonomia e saindo de casa. O silêncio na casa antes cheia de vozes e a percepção de que não terá mais os filhos para cuidar pode gerar um sentimento de vazio profundo, uma sensação de luto. A situação se agrava com as alterações hormonais provocadas pela menopausa e a consciência do avanço da idade, que podem baixar a autoestima dessa mulher.

A Síndrome do Ninho Vazio acontece com mães muito apegadas aos filhos, que criaram, praticamente, uma rotina voltada para atender às necessidades deles. “A sensação de desconforto pode se transformar em depressão aguda, no momento em que um filho anuncia a sua saída de casa para buscar seu próprio rumo”, comenta a psicanalista Tatiana Ades. Segundo ela, mulheres mais dramáticas são as mais suscetíveis.

“Um fator agravante é quando a mulher não soube antecipar a situação. Ou seja, quando ela nunca foi capaz de elaborar a realidade de que um dia seu filho partiria e esse processo, que deveria ser natural, torna-se extremamente angustiante”, constata. A síndrome é considerada, pelos profissionais da área, uma crise existencial passageira. No entanto, quando há exacerbação nos sintomas de tristeza o aconselhável é procurar tratamento psicológico.

 

Quando deixar o ninho

A escritora Valéria Borges da Silveira lembra que filhos não nascem com um manual para instruir os pais sobre o momento ideal para deixá-los ser independentes. E nem há regra para isso, mas quando os pais não permitem a independência crescente de seus filhos podem sufocar seu progresso e sucesso. Filhos adultos são responsáveis por suas vidas, por suas decisões e as consequências delas.

“Quando os filhos chegam à juventude e a “porta se abre” para o mundo exterior é um período difícil para os pais e a tendência é manter o controle. Encontrar o equilíbrio é um verdadeiro desafio. Os pais talvez precisem enfrentar os próprios receios pelo fato de os filhos terem crescido e pretenderem sair de casa, instruindo-os e apoiando-os”, pondera. 

Valéria Silveira comenta a importância da educação e dos valores que nortearam a criação dos filhos: “Os filhos precisam ter independência para fazer certas escolhas sozinhos, baseando-se em princípios e hábitos passados para eles durante as fases da infância e adolescência. No fim das contas, ser bons pais não é uma questão de controlar, mas de ensinar e incutir valores corretos, sendo o principal exemplo na vida deles”.

Enfim só novamente

Depois de anos de correria e indisponibilidade para sua própria vida, como aceitar a partida do filho e o que fazer com tanto tempo livre? Confira as dicas da psicanalista Tatiana Ades:

 

– Trabalhe dentro de você os papéis maternos desde que seu filho é pequeno, saiba que ele não pertence a você, e algum dia irá seguir seu rumo;

– Não vincule a sua vida à vida de seu filho, tenha suas atividades, hobbies, vontades próprias, não faça da relação mãe e filho um processo simbiótico;

– Perceba se não está usando o seu filho inconscientemente para tapar frustrações internas suas ligadas a relacionamentos frustrados. Lembre-se que o papel de um filho nunca será o mesmo do que o de um namorado ou marido;

– Sentindo-se mal com a situação, o ideal é buscar ajuda profissional. Você irá entender que as relações humanas não se caracterizam pela posse do outro e sim pela troca, mas, antes de tudo, pelo respeito à liberdade do outro;

– Pense positivo! Agora você possui um tempo a mais para você. Faça uma nova lua de mel com o marido, saia com amigas, passeie e saiba que seu filho só conseguiu sair de casa porque está saudável e pronto para a vida lá fora.