
Testemunhas asseguraram que ele estava alcoolizado no momento do acidente e a Polícia Civil o indiciou por homicídio doloso (intencional). O empresário ficou na cadeia apenas até o dia 27, quando a Justiça mandou soltá-lo e o homicídio foi reclassificado como culposo (sem intenção).
O exemplo do filho de Pitanguy é somente um na longa lista de impunidades. No Brasil, que detém um dos mais altos índices de mortes no trânsito por habitante, dirigir bêbado é um crime só visível quando resulta em tragédia. E a punição aplicada muitas vezes é revertida em distribuição de cestas básicas e serviço comunitário. “Ivinho” estava com a carteira de motorista em dia, mesmo com 14 flagrantes de falta gravíssima. Como isso é possível?
Com relação às fraudes em documentos, o Detran ressalta que o cidadão é responsável pela declaração que faz aos órgãos públicos. “O Boletim de Ocorrência é um documento oficial, emitido pela Polícia Civil, e tem validade. Portanto, é aceito como documento que atesta o extravio. Porém, comunicar a falsa perda de documento e utilizar o boletim para fraudar processo administrativo pode configurar crime, conforme prevê o artigo 347 do Código Penal”.
Comprovada a fraude, o motorista pode responder à Justiça e receber pena de prisão de três meses a dois anos. Ao emitir a 2ª via da habilitação, o número do documento original é automaticamente invalidado.
Quanto à fiscalização, garante que é procedimento padrão da Polícia Militar consultar a situação do registro do veículo e do condutor durante a fiscalização de trânsito. “Independentemente de o motorista portar um documento em mãos, será constatado que ele cumpre período de suspensão e, além de aplicar multa, será instaurado processo para cassação da CNH por dois anos”.
A autarquia defende a criação de varas especiais na Justiça para julgar exclusivamente questões de trânsito, “o que poderia tornar os processos mais céleres e a aplicação das penalidades mais efetivas”
Entretanto, segundo o Detran, os motoristas notificados não têm a habilitação suspensa imediatamente, pois têm direito a apresentar defesa nas diversas instâncias previstas na legislação federal, inclusive na Justiça. A suspensão do direito de dirigir é estabelecida em 12 meses. Porém, caso envolva crime de trânsito, a Justiça pode estabelecer uma suspensão maior ou até mesmo a cassação direta da habilitação.
Hoje, a identificação de outras drogas é feita por meio de exame de sangue. Quando o condutor abordado em fiscalização não ingeriu bebida alcoólica, mas demonstra estar alterado, um indício de que pode ter consumido outra substância psicoativa, é encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para a realização do teste. Caso o motorista recuse recolher o sangue, o médico perito fará um exame clínico para identificar a substância.
“Aqui, o cidadão não teme a lei. Americano e europeu temem, pois o ato praticado traz sérias consequências. No caso do filho do Pitanguy, ele só foi preso porque o momento do Brasil no Judiciário não é bom para réu nenhum”, diz.
Joaquim cita também as fraudes que permitem burlar a lei e que, segundo ele, são praticadas porque falta efetiva fiscalização, não há controle. “O cidadão, para não entregar a carteira no ato de suspensão, faz um Boletim de Ocorrência de extravio ou tira uma segunda via antes de ser notificado. Como a maioria das blitzes de trânsito não realiza consulta da habilitação no momento da abordagem, os condutores que estão com a CNH suspensa continuam sem punição.”, exemplifica.
Casos que deram repercussão
Carli Filho – Em 2009, o então deputado estadual Carli Filho, do Paraná, dirigindo a 173 km por hora, colidiu com o carro do estudante Rafael Yared, que morreu. Na época, foi constatado que ele dirigia em alta velocidade, com a carteira de habilitação suspensa e ainda com indícios de embriaguez. O processo se arrasta até hoje e a cada novo movimento processual, a defesa do ex-deputado produz recursos em instâncias superiores, retardando o julgamento do caso.
Thor Batista – Outro caso que ganhou notoriedade foi o de Thor, filho do empresário Eike Batista. Em 2012 ele atropelou e matou um ciclista na Rio-Petrópolis. O primeiro laudo pericial concluiu que ele trafegava acima da velocidade permitida para o local, que é de 110 km/h. Com base em um segundo laudo, que indicou que uma velocidade menor, Thor foi absolvido.
Lá, pode até se recusar a soprar o bafômetro, mas será indiciado do mesmo jeito, graças ao mecanismo da “culpa presumida”. O rigor aplicado tem um caso exemplar: em 2009, Bobby Joe Stovall, de 54 anos, dirigia seu caminhão no Texas e se envolveu em um acidente. Havia ingerido uma quantidade de álcool quatro vezes mais alta do que a permitida no Estado. Como foi a nona vez que Stovall foi pego dirigindo bêbado, o juiz o sentenciou à prisão perpétua, por entender que era a única forma de impedir que ele continuasse ameaçando vidas. E também não adianta ser celebridade. Confira alguns casos:
Kiefer Sutherland – O protagonista da série 24 Horas já passou 48 dias na cadeia por dirigir embriagado.
Mel Gibson – O galã, como tantos outros do mundo das celebridades, foi preso por dirigir alcoolizado.
Lindsay Lohan – Recordista em passagens pela polícia, a atriz foi presa por dirigir embriagada e drogada, motivo que a levou a uma clínica de reabilitação
Paris Hilton – A herdeira dos hotéis Hilton foi presa depois de dirigir embriagada, além de estar com a habilitação cassada.
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