Comportamento

Solidariedade a toda prova

22/08/2015 Da Redação
Solidariedade a toda prova | Jornal da Orla
Uma caminhada no sábado (29) irá movimentar a orla da praia de Santos e chamar a atenção para uma doença que atinge uma a cada 600 crianças e adolescentes até os 15 anos: o câncer infanto-juvenil. Um mal que pode interromper uma vida, que está se iniciando, impõe grande sofrimento em seres completamente inocentes e que precisam da ajuda da população para ser enfrentado. 

E este é o apelo da 5ª Caminhada de Combate ao Câncer Infanto -Juvenil da Baixada Santista, organizada pela Associação Santa Isabel de Combate ao Câncer (ASI), que há 18 anos realiza trabalho voluntário com pacientes da doença na Santa Casa de Santos. A ação faz parte do Mc Dia Feliz, maior campanha nacional em prol de crianças e adolescentes vitimadas pelo mal.

Assim, no sábado, todo o dinheiro obtido com a venda de lanche Big Mac será aplicado na oncologia pediátrica da Santa Casa. Em 2014, a renda foi utilizada na troca do mobiliário do 2º E do hospital, onde ficam as crianças. Este ano, a proposta é mais ambiciosa: contratar uma equipe multidisciplinar para dar assistência aos pequenos pacientes. O projeto foi apresentado pela ASI no início do ano ao Instituto Ronald, criado pela direção do Mac Donald´s, e a renda tem que ser obrigatoriamente utilizada no que foi aprovado.

“Pretendemos contratar psicólogo, pedagogo e assistente social. A intenção, nos próximos anos, é continuar usando parte da renda para manter a equipe”, conta Susie Gusmão, uma das “rosinhas”, como são chamadas as voluntárias da ASI. Segundo ela, hoje a oncologia infantil só conta com os serviços de uma pedagoga duas horas por dias para fazer o acompanhamento escolar. E há apenas três psicólogas para atender todo o hospital – o maior do litoral paulista.

“A cada mês, são muitas as crianças e adolescentes assistidos no setor de oncologia do hospital. Para continuar ajudando essas pessoas, nós também precisamos de ajuda”, afirma a presidente e idealizadora da ASI, Neli Valente Cavallucci, uma senhora de 85 anos que há quase duas décadas cumpre a mesma rotina: de segunda a sexta-feira, ela chega à Santa Casa às 6h30 e sai no final da tarde. O final de semana é para descanso, que pode ser interrompido a qualquer hora do dia ou da noite caso sua presença seja requisitada.
 
Voluntariado é compromisso
“Voluntariado é um compromisso. É um emprego como outro qualquer, com a diferença que não tem salário”, enfatiza dona Neli, que antes da Santa Casa foi voluntária por 28 anos no Hospital A.C. Camargo, em São Paulo, que também atende pacientes com câncer.

São desafios diários e é inevitável não se apegar às criança, reconhece dona Neli,. “Aqui é uma família. As crianças são inocentes, elas não têm consciência da gravidade, querem brincar como outras crianças. Com a experiência, a gente vai aprendendo a lidar com esta situação”, diz ela, que perdeu dois filhos, já adultos, para o câncer. “A gente sofre, quando morreram meus filhos não consegui rezar”, confessa. “Faço tudo com muito amor. Só sinto não ter 70 anos”, lamenta.

Para ser voluntário, a pessoa é quem define quanto tempo da semana pode dispor para o trabalho, sempre tendo em mente que, uma vez assumido, o compromisso tem que ser cumprido. “Se vem quando quiser, não vem nunca”, comenta a presidente da ASI, que convida os interessados a conhecer o trabalho da associação, comparecendo pessoalmente ou agendando visita no site www.asi-combateaocancer.com.br
 
Tempo para doar
A ASI é formada por 86 voluntários, entre homens e mulheres. Elas, as rosinhas; eles, os cavalheiros da rosa. De segunda a sexta-feira, das 8 às 17h30, os voluntários se revezam na assistência material e emocional aos pacientes. Eles preparam lanches, fornecem cestas básicas, remédios, leite, suplemento alimentar, vale transporte, procuram levantar a necessidade de cada um. 

“Mais que sanduíche, o paciente precisa de um ombro, de alguém para conversar”, lembra Susie. No espaço ocupado pela associação dentro do hospital há poltronas reclináveis para dar maior aconchego e conforto, principalmente aos pacientes que vêm de longe. “Tem gente que sai às 2h da madrugada do Vale do Ribeira para fazer quimioterapia”, conta. E aí entra a mão amiga dos voluntários.
 
Câncer Infantil
O câncer infantil corresponde a um grupo de várias doenças que têm em comum a proliferação descontrolada de células anormais e que pode ocorrer em qualquer local do organismo. A causa da maioria dos casos em crianças ainda é desconhecida. Os tumores mais frequentes na infância e na adolescência são as leucemias (que afeta os glóbulos brancos), os do sistema nervoso central e linfomas (sistema linfático). 

De acordo com o Instituto do Câncer (INCA), tão importante quanto o tratamento do câncer em si, é a atenção dada aos aspectos sociais da doença, uma vez que a criança e o adolescente doentes devem receber atenção integral. A cura não deve basear-se somente na recuperação biológica, mas também no bem-estar e na qualidade de vida do paciente. Neste sentido, não deve faltar, desde o início do tratamento, o suporte psicossocial necessário.

Principais Sintomas – O câncer infantil costuma ser difícil de reconhecer, pois sua manifestação confunde-se com grande parte das doenças comuns da infância. Os pais devem estar atentos para o aparecimento de sinais e sintomas que não desaparecem, como: nódulos ou caroços; palidez e falta de energia inexplicáveis; hematomas sem motivo; sangramentos frequentes;  dor localizada persistente; coxeadura (mancar) sem razão aparente; febres sem explicação; aumento de volume abdominal e dor prolongada; dores de cabeça muitas vezes acompanhada por vômitos; mudanças na visão; perda de peso rápida e excessiva; virilização em meninas ou puberdade precoce.

 
Caminhada de conscientização
5ª Caminhada de Combate ao Câncer Infanto Juvenil da Baixada Santista tem saída marcada para 9h30 da lanchonete do Mc Donald’s da avenida da praia, na Aparecida, cumprindo percurso de três quilômetros até a loja da rede na Avenida Ana Costa, no Gonzaga. Lá, haverá exibição da Banda da Polícia Militar, apresentações artísticas, shows infantis e ações de conscientização.

Para participar, o interessado pode adquirir uma camiseta, ao custo de R$ 15, com o logo da campanha (um caranguejo, em alusão ao símbolo mundial para a luta contra a doença). Há modelos de todos os tamanhos, inclusive o infantil. Os kits já podem ser adquiridos na sede da ASI, dentro da Santa Casa (Rua Cláudio Luís da Costa, 50, no Jabaquara) e nas unidades da rede Mc Donald’s na região.
 
Um ambiente para tornar a vida mais leve
A oncologia pediátrica difere das demais alas da Santa Casa. As paredes em cores fortes exibem quadros de Romero Brito, o artista brasileiro conhecido por seus traços marcantes. Nas portas, enfeites com motivos infantis trazem o nome da criança ali internada e de sua mãe. Tem ainda uma pequena brinquedoteca. A intenção é deixar o ambiente alegre, já que para muitas crianças e suas mães o local vira residência temporária. “Têm internações que duram 45 dias ou mais, sem a mãe ir para casa. A gente tenta dar conforto”, diz Susie. Os quartos contam com mobiliário novo e cama para a acompanhante.

O Instituto Ronald McDonald´s também equipou o Centro de Apoio, que funciona no espaço administrativo da ASI e oferece suporte para os pacientes não internados e seus acompanhantes. Ali também foi montada uma brinquedoteca. Outro cuidado da associação de voluntárias foi oferecer aulas de artesanato duas vezes por semana para as mães, para ajudar a passar o tempo e até facilitar uma renda extra. 

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