Comportamento

Fazer o bem, sem olhar a quem

08/08/2015 Da Redação
Fazer o bem, sem olhar a quem | Jornal da Orla
O muro que esconde a moradia simples no bairro do Embaré vive coberto de roupas usadas estendidas em varais improvisados, expostas ao público como em uma vitrine. E têm ainda calçados, brinquedos e roupinhas de bebê. É só passar, ver se tem algo que interessa e levar embora. Quem quiser também pode doar, desde que os produtos estejam em bom estado de conservação, já que vão servir a outras pessoas.

No tempo atual quando os atos de violência, as atrocidades e os escândalos de corrupção ocupam o noticiário do dia a dia, colocando o ser humano em descrédito, chega a surpreender a cena que já se incorporou à fachada do número 163 na Rua Liberdade. E o mais admirável é que a solidariedade ali manifestada de forma tão simples produz outros atos semelhantes em pessoas que se sentem tocadas pelo gesto.

Tudo começou há 10 anos por iniciativa de Ivone Arruda Joaquim, hoje com 74 anos e aposentada. “Eu tinha umas roupas para doar e resolvi montar uns varais no muro e pendurar, para quem quisesse pegar. Com o tempo outras pessoas foram trazendo doações”, diz Ivone, que sempre participou de trabalhos sociais na igreja e conta com a ajuda de duas filhas para receber e separar o material.


Na casa moram ainda o marido de Ivone, mais um filho e dois netos, no total de sete pessoas. Todos ajudam, já que o “brechó” só não acontece em dias de chuva. “Seis horas da manhã minha mãe já esta separando as roupas para pendurar”, diz Ruth, uma das filhas. 

Os varais são montados todos os dias e a família é requisitada o tempo todo por pessoas que levam doações ou buscam algo. Mas eles não se queixam. “É divertido”, afirma Ivone. Alexandra, a outra filha, conta que, entre os que procuram, há muito morador de rua, pessoas que vão viajar para o interior do Nordeste e quer levar roupas para os parentes, gente que perdeu o que tinha em incêndio ou outro acidente.   
A família recebe mais doação de roupas femininas, uma evidência de que a mulher investe mais na troca do vestuário. “O dia inteiro tem trabalho. A gente só não coloca no cabide se a roupa estiver esfarrapada, rasgada”, diz Alexandra. No Natal elas aproveitam as doações de brinquedos para montar sacolinhas.