
Em entrevista ao Programa Jornal da Orla na TV, o cientista político Marcelo Di Giuseppe, coordenador do Ibespe (Instituto Brasileiro de Estudos Sociais, Política e Estatística), diz que o PT vai sofrer uma grande derrota nas eleições municipais do próximo ano. Ele afirma que o atual momento político oferece oportunidades para o surgimento de novas lideranças e defende um estado mais enxuto. Abaixo, os principais trechos da entrevista:
As últimas pesquisas mostram que a popularidade da presidente Dilma Rousseff está desabando. Quais são os motivos?
Marcelo Di Giuseppe – Primeiro a situação econômica do país. James Carville já previa isso na eleição do Bill Clinton, que o eleitor pensa muito pelo bolso, e a situação econômica, que era uma situação camuflada antes da eleição, agora se aguçou e ficou de uma forma muito ruim. Mais que isso, a presidente fez tudo ao contrário do que pregou durante a eleição, fez o que as pessoas chamam de “estelionato eleitoral”.
Perdeu a legitimidade?
Di Giuseppe – Sim, esse é o principal problema. As pessoas que votaram nela e esperavam uma manutenção de algumas coisas que não ocorreram. Mas por que não ocorreram? Porque já não deveria estar ocorrendo antes, então hoje a população também está com muita informação.Existe uma acessibilidade maior das pessoas e hoje o descontentamento é muito grande. E tem um Congresso que percebeu que o descolamento da imagem do Executivo é o melhor para a sobrevivência do próprio Congresso. Não foi feito da melhor forma, mas esse descolamento é importante para a democracia. Os três poderes andarem de forma independente como defendia Montesquieu, o que não ocorria no Brasil até então. Hoje ele existe, mas de uma forma forçada e ela vai ter cada vez mais problemas até o fim do mandato.. O Congresso percebendo que a aprovação dela não cresce, não tem por que apoiar as medidas da presidente.
Até o padrinho político da Dilma, o ex-presidente Lula, começa a atacar e fazer críticas ao governo. Ele mesmo se coloca na situação “A Dilma e eu estamos num volume morto”. Qual o sentido disso?
Di Giuseppe – Se você me permite uma citação do livro Entre o Bem e o Mal, de Nietzsche, no parágrafo 289, ele diz que todo discurso é máscara. Por que é máscara? Porque tudo que ele falou ali não é nada do que ele pensa, da mesma forma que a Dilma perdoando o presidente, dizendo que ele tem todo o direito de falar, isso também é máscara, não é o que ela pensa. O que ocorre é que, primeiro, ele pensa no descolamento dele do governo para tentar se viabilizar para 2018. Só que a situação do PT é ruim. Na eleição de agora, eu não sei se as pessoas perceberam , creio que sim, que o PT evitava colocar a estrela e o número 13. Eles colocavam algo verde e amarelo porque eles percebiam, através de pesquisas qualitativas, que a imagem do PT vinha se desgastando por causa do Petrolão, Mensalão, Lava Jato, todos os escândalos que estouraram.
Esse descolamento é possível?
Di Giuseppe – Vai ser muito difícil esse descolamento da imagem do Lula porque o Lula e o petismo são muito fortes, da mesma forma que peronismo na Argentina. É um movimento que até enquanto tinha dinheiro no mercado, enquanto as coisas funcionavam bem na parte econômica, ele surfou realmente nessa onda. Hoje já não acontece isso, então vai ser difícil ele defender as bandeiras que ele defendia lá trás. A própria população vem se tornando, de forma até forçada, um pouco mais conservadora, ao perceber a necessidade de diminuir o tamanho do Estado, coisa que o petismo nunca quis e o Lula muito menos.
Por falar em discurso, a presidente Dilma durante a semana para a população indígena fez um discurso sem pé nem cabeça, enaltecendo a mandioca. Ficou um negócio parecendo conversa de maluco. Será que essa queda nas pesquisas está afetando emocionalmente a presidente?
Di Giuseppe – Se nós formos buscar na internet todos os discursos da Dilma, que ela não tenha lido, ela tem uma dificuldade com o microfone, principalmente quando é perguntada de supetão. Diferentemente do Lula, que sabe falar e convencer as pessoas. Ela tem uma dificuldade muito grande e certamente foi mais um dos discursos que ela fez. Não sei se ela sofre de dislexia ou alguma coisa assim. Eu acho que não, que ela tem dificuldade de falar e pouco conhecimento teórico e técnico de tudo. Ela é uma pessoa que não tem uma formação acadêmica forte. Tem um vídeo, que eu acho importante as pessoas procurarem na internet, de quando ela é perguntada que livro estava lendo. Qualquer ser humano de certo nível social está lendo algum livro e ela não sabia o nome do livro até que alguém soprou no ouvido dela. A presidente tem uma dificuldade acadêmica, de falta de cultura.
O PT está em baixa. É possível prever uma derrota muito forte nas eleições municipais no próximo ano?
Di Giuseppe – Nós percebemos isso. Nós acabamos de fazer uma pesquisa em São Paulo, ouvimos 2.094 pessoas do dia 14 ao dia 18. Primeiro você percebe uma baixa aprovação do governo Haddad, algumas atuações dele, política de governo, foram rejeitadas. Ele vai ter muita dificuldade lá.
Ou seja, há um espaço para novas lideranças…
Di Giuseppe – E você percebe por que as pessoas sempre evitaram a política. Elas falam que “a política não é para mim”, mas existe um espaço grande hoje para a entrada de novos personagens. Não sei se vai aparecer, mas o PT vai ter muita dificuldade em todas as cidades, no Brasil inteiro, para conseguir fazer o seu político, prefeito e vereador também. O discurso petista senta em cima do social e hoje começa a perder um pouco a força. Qual será o discurso deles? Eles vão ter muita dificuldade e o marketing político deles vai ter que ser muito forte para conseguir manter alguma coisa, mas certamente eles perderão muitas cadeiras.
Os governos petistas, tanto do Lula quanto da Dilma, são marcados também por fortes escândalos. No caso do Lula foi o Mensalão e agora o Petrolão. Antigamente se dizia que “no Brasil, rico não vai para a cadeia”. Hoje, os presidentes das maiores empreiteiras estão na cadeia. O Brasil está mudando? Isso representa um avanço da democracia?
Di Giuseppe – Representa o avanço da democracia, mas eu acho que falta muito. Por exemplo, o fato de nós termos um Estado muito inchado. Um dos maiores patrocinadores da mídia e da imprensa são as estatais. Com isso, eles(os políticos no poder) forçam que a imprensa não vá um pouco além. A liberdade de imprensa, que é a pedra fundamental de uma democracia, perde muito. Por exemplo, com a Petrobras e a Caixa anunciando blogs fajutos, chapa branca. Mas o Brasil está mudando, sim. Muito mais porque a sociedade civil começa a se cansar e começa a tomar decisões.
Mas você acha que esse tipo de coisa pode favorecer uma mudança de sistema político, por exemplo, a implantação do parlamentarismo? Se vivêssemos num regime parlamentarista, o governo já teria caído, certo?
Di Giuseppe – Certo. O que ocorre é que, no Brasil, a população política e culturalmente ainda é fraca. No Brasil ainda buscam um papai.
Os brasileiros ainda acreditam nos salvadores da pátria?
Di Giuseppe – Ainda acreditam no Sassá Mutema, como a Itália acreditou no Berlusconi. Então, eles (os eleitores) entendem que o governo deve ser a solução dos problemas e não é. Quem faz o governo é a sociedade e depois não tem por que você ir batendo muito nisso. Por que eu preciso passar o dinheiro para o governo para o governo passar para aquela pessoa que precisa? Por que eu não posso passar diretamente? O governo vai dizer que é porque você não passará, mas quantas ONGs, APAEs, AACDs, quantas instituições funcionam sem a mão do governo?.
Você defende um estado mais enxuto? Menos intervenção do estado e mais da própria sociedade?
Di Giuseppe – Sim, menos não, nenhuma intervenção do Estado. O Estado não pode interferir.
Qual seria o papel do Estado? Atuar apenas na segurança pública, saúde e educação?
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