Em Off

Cientistas políticos falam sobre o futuro do partido

09/05/2015 Jornal da Orla
Cientistas políticos falam sobre o futuro do partido | Jornal da Orla
Com pouco mais de 12 anos comandando o país, o governo do Partido dos Trabalhadores enfrenta um forte desgaste, agravado pelas crises econômica e moral. Na terça-feira (5), durante o programa eleitoral na televisão, foram registradas manifestações populares contra o partido em diversas cidades brasileiras, com panelaço e buzinaço. Em Santos, ocorreram panelaços e buzinaços com intensidade.

O fato é que o PT vive hoje a sua maior crise e o Jornal da Orla ouviu três cientistas políticos – Alcindo Gonçalves, Iberê Sirna e Jairo Pimentel -, que falaram sobre o futuro da legenda. Confira:
 
Durante o programa político do PT na televisão foram registrados panelaços em diversas cidades brasileiras. Em Santos não foi diferente e a manifestação foi muito forte. O que isso representa e que lições o Partido dos Trabalhadores pode tirar desse episódio?

Alcindo Gonçalves – Na democracia manifestações pró e contra os governos são normais e assim devem ser consideradas. No atual momento, é evidente que há uma forte desaprovação do governo Dilma e, portanto, fortes reações acontecem sempre que há uma oportunidade. O PT deve compreender essa situação, buscando saídas, mas elas só virão a longo prazo, com atitudes e ações positivas, do partido e do governo, capazes de mudar a sua imagem atual.

Iberê Sirna – O PT está aprendendo que uma coisa é ser pedra e outra é ser vidraça, o que para eles está sendo uma experiência desastrosa, onde até seu maior líder, Lula, está assustado.

Jairo Pimentel – O gesto de bater em panelas é apenas uma sinalização de desgosto da população em relação ao governo federal, mas expressa, também, algo mais visceral, uma raiva em relação a atual presidente. Entretanto, é muito provável que o panelaço esteja concentrado nos extratos de eleitores que já são antipetistas. Essa probabilidade é derivada do fato de que os panelaços se concentram em bairros de classe média e de classe alta..

O PT enfrenta um forte desgaste, principalmente em razão de dois escândalos, o Mensalão e o Petrolão, que mancham a história do partido. É possível reverter essa situação ou o PT está condenado a se transformar em um partido nanico?

Gonçalves – O PT representa uma força política real, que atua no campo da centro-esquerda, cuja permanência no quadro político brasileiro é necessária e positiva. Mas ele precisa resgatar sua história e suas tradições se pretende recuperar o terreno perdido recentemente.

Sirna – Se analisarmos a extensão e a capilaridade dos escândalos vamos ver que sobra muito pouco para o PT sustentar-se como um grande partido. Porém, ainda existe no partido pessoas que defendem os ideais com muita dignidade e a eles caberá a árdua tarefa de reorganizar o PT.

Pimentel – Escândalos de corrupção são coisas recorrentes e sistêmicas na política brasileira e podem afetar as chances de reeleição de um governante ou de seu partido. Entretanto, o “rouba mas faz” é algo tolerado pelo eleitor médio, fazendo com que candidatos suspeitos sejam eleitoralmente bem sucedidos. Não obstante, se um governo passa por uma gestão desastrosa e a economia começa a patinar, a corrupção passa a ser vista como um problema. Assim o problema para qualquer político é quando começa a ocorrer o “rouba mas não faz”. Acredito que se a economia estivesse em ascensão e os brasileiros mais otimistas em relação à própria situação financeira, o efeito da corrupção seria muito menor, assim como o Mensalão foi para Lula. Então, o PT tem condições de reverter esse quadro.

O presidente Lula, maior líder do PT, conseguirá sair ileso dessa crise?

Gonçalves – Não. A crise atinge todas as lideranças do partido, embora seja difícil assegurar a extensão do desgaste e a sua duração no tempo.

Sirna – Dois aspectos devem ser considerados, na esfera jurídica e no campo político. Do ponto de vista jurídico, deve sair ileso, mas no campo político ele já está sendo condenado e, na minha opinião, não tem como reverter essa situação.

Pimentel – A imagem do Lula já está prejudicada, não tenho dúvida alguma. Como fiador da Dilma, ele é co-reponsável pelo seu governo. Entretanto, ele ainda é um quadro político importante e forte. Sendo candidato novamente em 2018 será um dos favoritos na disputa. A questão é: qual a força que ele terá em 2018? A variável que responde essa questão é justamente a recuperação do governo Dilma. Havendo um desempenho favorável e uma retomada do crescimento nos últimos dois anos de governo tanto o prestígio do PT, como de Dilma e Lula pode ser resgatado. Muito provavelmente, entretanto, com menor ímpeto do que no passado.