
Com reverência e olhar de admiração, os jovens escutaram os relatos de Morita e Bonkohara, que moram em São Paulo e dão seus depoimentos sempre que podem para alertar sobre os horrores da guerra e da explosão nuclear. Se em um primeiro momento houve sentimento de vingança por parte de Morita (que tinha 21 anos na época), hoje eles acreditam que ficaram vivos para cumprir a missão de levar a mensagem de paz à humanidade.
Morita é presidente da Associação dos Sobreviventes da Bomba Atômica, criada em 1984. Atualmente, 125 sobreviventes residem no Brasil. Antes dos depoimentos, um professor da escola fez palestra explicando aos alunos o contexto da Segunda Guerra. No final, outro docente comentou como se dá a reação química que resulta na explosão nuclear.
O clarão atômico cobriu o céu de Hiroshima com fuligem e poeira, e ergueu uma coluna de fumaça de 18 quilômetros de altura. Logo depois, uma chuva negra caiu sobre a cidade, banhando as pessoas com radiação. Três dias depois, foi a vez de Nagakasi conhecer o horror de uma explosão nuclear. Inicialmente projetada para ser detonada na cidade de Kokura, a nebulosidade fez com que os militares norte-americanos mudassem o alvo. Em 15 de agosto do mesmo ano, o governo japonês declarou rendição incondicional e findou a Segunda Guerra Mundial.
As estimativas apontam que cerca de 140 mil pessoas morreram em Hiroshima e 70 mil morreram em Nagasaki. Mas muita gente continua morrendo nos anos seguintes devido aos efeitos da explosão nuclear. A bomba serviu como demonstração ao mundo do poderio bélico dos EUA e, ainda, funcionou como um alerta à Guerra Fria, que bipolarizou o mundo até a queda da União Soviética, em 1991.
Depois da explosão, veio a escuridão e a “chuva negra”, precipitação de poeira radioativa cujos efeitos em seres humanos vão desde queimaduras graves a mutações genéticas. Morita lembra que, desesperadas por água, as pessoas morriam ao engolir a radiação preta que vinha das nuvens, achando que aquilo iria acabar com a sensação de sede.
Sete décadas depois, o velho sobrevivente não esquece o terror à sua volta: pessoas queimadas com a pele esgarçada pendendo de seus corpos, cadáveres espalhados por todos os lados, tudo destruído e o cheiro de morte no ar. Morita contou que vagou pelas ruas arrasadas de Hiroshima tentando salvar a vida de quem podia. Fez até o parto de uma mulher no meio da rua. Ele passou dois dias sem comer nem beber até a cidade ser socorrida. Depois foi hospitalizado para tratar dos ferimentos.
Em 1956 veio para o Brasil, com a mulher e dois filhos. Carregava um diagnóstico de leucemia, mas, felizmente, a doença não se manifestou. Aqui nasceram seus três netos e uma bisneta, cuja foto ele exibiu aos estudantes, sob aplausos.
Quando ocorreu a explosão, o pai, assustado, colocou o menino embaixo de uma mesa e se jogou em cima. “A parte de cima do sobrado onde morava foi destruída, mas tivemos sorte porque a casa, de tijolo, foi uma das poucas que não pegaram fogo”. O pai saiu depois de bicicleta procurando pela mulher e a filha. “Eu lembro que ele me falou para não pisar na cinza porque embaixo tinha corpos. As pessoas pediam água, pai não dava, pois com o corpo queimado, se tomar água, morre. Vi também muita gente dentro das caixas-d’água, tudo morta”.
Mesmo com a proteção da mesa, ele teve o corpo perfurado por inúmeros pedaços de vidro, principalmente os braços. Bonkohara emigrou para o Brasil em 1960, quando tinha 20 anos. Primeiro, trabalhou como agricultor no Paraná e, depois, veio para São Paulo em 1963. Casou, mas não teve filhos.

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