Comportamento

O lado bom da inveja

30/01/2015 Da Redação
O lado bom da inveja | Jornal da Orla
A palavra tem origem no vocábulo latino invidia – in, negativo, evidere, ver, o que resulta em “olhar com maus olhos”. Muitos temem esse sentimento que está associado à revolta causada por aquilo que outra pessoa tem – sejam bens materiais, sucesso, benefícios ou felicidade. A inveja é uma verdadeira praga energética que pode conturbar o ambiente familiar ou atrapalhar o dia a dia de uma empresa e seus funcionários, onde, por sinal, se faz muito presente.
 
O mais renegado dos sete pecados capitais é uma emoção inerente à condição humana, por mais difícil que seja confessá-la. Processada na mesma região do cérebro onde a dor física é decodificada, esse poderoso sentimento já foi descrito como “a úlcera da alma” pelo filósofo grego Sócrates. Em Otelo, de William Shakespeare, é a inveja que move o personagem Iago a destruir o protagonista. Na Divina Comédia, Dante Alighieri descreve com detalhes como almas, carregadas de ressentimento por aquilo que não desfrutaram, marcham pelo purgatório com as pálpebras fechadas para nunca mais verem o mundo através de “olhos invejosos”. 
 
Mas nem sempre a inveja é algo negativo. De acordo com a pedagoga Eunice Mendes, especialista em comunicação empresarial verbal, o preconceito contra a inveja é milenar, pois nossa cultura estabelece como crença e valor que se trata de um sentimento a ser negado, considerado sintoma de falta de caráter, uma verdadeira anomalia social. 
 
“Nenhum sentimento por si só é bom ou ruim. Tudo depende da forma de administrá-lo. É preciso saber reconhecer e evitar a inveja destrutiva, que nada mais é do que a arma dos incompetentes, cujo gatilho está no prazer pelo insucesso do outro. É necessário livrar-se da culpa e humanizar a inveja”, afirma.
 
Eunice Mendes enfatiza que é possível fazer da inveja uma alavanca que nos conduza a um maior comprometimento com a autorrealização e com um jeito mais produtivo de viver. “Em nossa vida não precisamos ficar como eternos voyeurs rancorosos do sucesso alheio nem nos colocarmos na posição de vítimas abandonadas pelo destino”, adverte. 
 
Segundo ela, quando bem gerenciada, a inveja pode tornar-se produtiva, tirando-nos do comodismo e nos impulsionando a uma competição saudável para enfrentar desafios. “Evidentemente, o processo não é tão simples assim e exige investimento pesado em uma reforma íntima. A rigor, o simples fato de reconhecer a sua existência já é uma forma de reduzir as sombras e torná-la um sentimento mais produtivo e enriquecedor”, diz. A especialista cita atitudes importantes para que a transformação aconteça. Confira abaixo:
 
As duas faces da emoção
 
Inveja como defeito: 
Só o outro possui características positivas a serem admiradas; sou eterno espectador do sucesso alheio; dedico-me a destruir quem tem aquilo que ambiciono; desperdiço tempo, deixando de viver plenamente quem sou e mantendo meus próprios talentos ocultos; tenho desejos, mas não faço nada para conquistá-los; não concretizo meus sonhos e até saboto as possíveis oportunidades.
 
Inveja como virtude:
Sou capaz de me autoanalisar, sem o perigo do autoengano; esse encontro comigo mesmo estimula meu crescimento pessoal; não sinto dor pelo sucesso do outro; isso funciona como elemento propulsor para minha mudança; equilibro minhas relações interpessoais e realizo movimentos de empatia; aproximo-me mais das pessoas a quem admiro; luto para conseguir aquilo que quero.
 
Como torná-la um sentimento produtivo
 
 Realize uma autoanálise, avaliando sem preconceitos os próprios sentimentos;
 
 Não reprima sua inveja; antes, procure entender o que significa esse sentimento dentro de você e use-o como elemento propulsor para a criatividade. Olhe-se com mais compaixão, procurando aceitar que você não está imune ao sentimento de inveja, o qual é inerente ao ser humano;
 
 Reconheça que a inveja pode ser fator de crescimento quando é propulsora de ações para a conquista de desejos. Procure objetivar o processo de autoavaliação, respondendo a questões como: O que invejo é possível de ser conquistado? Que conhecimento preciso obter? Quais habilidades precisam ser desenvolvidas?
 
 Não sofra pelo sucesso alheio; otimize seu tempo e sua energia traçando metas para atingir seus objetivos;
 
 Não tenha vergonha de perguntar para as pessoas que você considera ter qualidades invejáveis qual é o segredo do sucesso delas; conscientize-se de suas habilidades a serem exploradas e valorizadas;
 
 Direcione seus talentos e habilidades em seu próprio benefício; tenha coragem para admitir e corrigir suas falhas. Avalie constantemente os resultados alcançados; se sentir necessidade, procure ajuda terapêutica.
 
SAIBA MAIS: A pedagoga Eunice Mendes fala mais sobre este e outros assuntos em www.eunicemendes.com.br