Tosse, rouquidão, pigarro, azia, queimação, aftas, dificuldade de engolir, sensação de bola na garganta. Estes são alguns sintomas característicos de um problema que acomete milhões de pessoas no mundo: a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), na qual o conteúdo ácido do estômago volta ao esôfago, lesionando-o. Estima-se que de 10 a15% da população ocidental apresente a doença e o número de pacientes é cada vez maior devido, principalmente, aos maus hábitos alimentares e ao aumento de pessoas acima do peso ou obesas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
A doença digestiva ocorre quando os ácidos presentes dentro do estômago voltam pelo esôfago ao invés de seguir o fluxo normal da digestão. Funciona assim: quando uma pessoa come, a comida passa da garganta para o estômago através do esôfago. Uma vez que a comida está no estômago, um anel de fibras musculares impede que o alimento se mova para trás, em direção ao esôfago. Essas fibras musculares são chamadas de esfíncter esofágico inferior (EEI). Se o esfíncter não fechar bem, um líquido ácido escapa do estômago, atinge o esôfago e pode alcançar outros órgãos dos aparelhos digestivo e respiratório.
Fatores de risco
Alguns fatores são considerados de risco, pois aumentam as chances de uma pessoa apresentar a doença do refluxo gastroesofágico: gravidez; hérnia de hiato (em que parte do estômago se move acima do diafragma); ressecamento bucal; tabagismo; asma; diabetes; atraso no esvaziamento do estômago e outros distúrbios menos conhecidos. A alimentação também está diretamente relacionada à ocorrência da doença. Chocolate, pimenta, frituras, café e bebidas alcóolicas estão entre os itens que, se consumidos em excesso, podem contribuir para o refluxo.
De acordo com o médico gastroenterologista Marcelo Averbach, do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, existem alimentos que favorecem e alimentos que provocam o refluxo, porque ajudam a comprometer a mucosa do esôfago e do estômago. “Classicamente, é o caso do café, mas também do chá preto e chá mate, que contêm cafeína, do chocolate, dos alimentos ácidos, molho de tomate, bebidas alcoólicas e bebidas gasosas”, explica.
Sintomas
Uma pessoa diagnosticada com DRGE pode ter a sensação de que o alimento pode ter ficado preso na garganta e pode sentir os sinais da doença aumentar ao se curvar, inclinar para frente, ficar deitado ou comer. Os sintomas também costumam ser piores à noite e podem ser aliviados com antiácidos. Muitos deles podem ser confundidos com sintomas de outras doenças, por isso é importante que um especialista avalie o quadro para dar o diagnóstico preciso.
O refluxo incomoda e muito, mas suas consequências podem ser ainda mais sérias. Sem cuidado adequado, algumas complicações apresentadas são a esofagite e o esôfago de Barret, condição que aumenta o risco de câncer.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico é feito por um médico especialista que pode pedir exames como pHmetria, cintilografia, raio-X e endoscopia digestiva alta. O tratamento para refluxo pode ser clínico, endoscópico e cirúrgico, mas a maioria das pessoas responde a medidas não cirúrgicas, com mudanças no estilo de vida e medicamentos. “O paciente é orientado a perder peso, evitar alimentos e bebidas que pioram o refluxo, não se deitar logo após as refeições e a fracionar a dieta. Ele é estimulado também a praticar exercícios físicos. As recomendações são para a vida toda e a grande maioria responde bem e se beneficia com esse tipo de tratamento. Na verdade, o indivíduo obeso que consegue emagrecer pode deixar de ter refluxo e levar vida normal”, informa Marcelo Averbach.
Precauções
Manter um peso saudável, seguir dieta balanceada, evitar o tabagismo, não exagerar no álcool e fazer visitas frequentes ao médico é uma boa forma de prevenir não só a doença do refluxo gastroesofágico, como outras doenças do trato digestivo. Outros cuidados recomendados são evitar alimentos ácidos, picantes, gordurosos e bebidas gasosas; evitar usar roupas muito apertadas; alimentar-se com porções menores nas refeições e comer devagar; não deitar-se após as refeições; beber muita água; elevar a cabeceira da cama, para que o esôfago fique mais alto do que o estômago; e reduzir o estresse.