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A agonia do refluxo

12/12/2014
A agonia do refluxo | Jornal da Orla
Tosse, rouquidão, pigarro, azia, queimação, aftas, dificuldade de engolir, sensação de bola na garganta. Estes são alguns sintomas característicos de um problema que acomete milhões de pessoas no mundo: a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), na qual o conteúdo ácido do estômago volta ao esôfago, lesionando-o. Estima-se que de 10 a15% da população ocidental apresente a doença e o número de pacientes é cada vez maior devido, principalmente, aos maus hábitos alimentares e ao aumento de pessoas acima do peso ou obesas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
 
A doença digestiva ocorre quando os ácidos presentes dentro do estômago voltam pelo esôfago ao invés de seguir o fluxo normal da digestão. Funciona assim: quando uma pessoa come, a comida passa da garganta para o estômago através do esôfago. Uma vez que a comida está no estômago, um anel de fibras musculares impede que o alimento se mova para trás, em direção ao esôfago. Essas fibras musculares são chamadas de esfíncter esofágico inferior (EEI). Se o esfíncter não fechar bem, um líquido ácido escapa do estômago, atinge o esôfago e pode alcançar outros órgãos dos aparelhos digestivo e respiratório.
 
Fatores de risco
Alguns fatores são considerados de risco, pois aumentam as chances de uma pessoa apresentar a doença do refluxo gastroesofágico: gravidez; hérnia de hiato (em que parte do estômago se move acima do diafragma); ressecamento bucal; tabagismo; asma; diabetes; atraso no esvaziamento do estômago e outros distúrbios menos conhecidos. A alimentação também está diretamente relacionada à ocorrência da doença. Chocolate, pimenta, frituras, café e bebidas alcóolicas estão entre os itens que, se consumidos em excesso, podem contribuir para o refluxo.
 
De acordo com o médico gastroenterologista Marcelo Averbach, do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, existem alimentos que favorecem e alimentos que provocam o refluxo, porque ajudam a comprometer a mucosa do esôfago e do estômago. “Classicamente, é o caso do café, mas também do chá preto e chá mate, que contêm cafeína, do chocolate, dos alimentos ácidos, molho de tomate, bebidas alcoólicas e bebidas gasosas”, explica.
 
Sintomas
Uma pessoa diagnosticada com DRGE pode ter a sensação de que o alimento pode ter ficado preso na garganta e pode sentir os sinais da doença aumentar ao se curvar, inclinar para frente, ficar deitado ou comer. Os sintomas também costumam ser piores à noite e podem ser aliviados com antiácidos. Muitos deles podem ser confundidos com sintomas de outras doenças, por isso é importante que um especialista avalie o quadro para dar o diagnóstico preciso.
 
O refluxo incomoda e muito, mas suas consequências podem ser ainda mais sérias. Sem cuidado adequado, algumas complicações apresentadas são a esofagite e o esôfago de Barret, condição que aumenta o risco de câncer.
 
Diagnóstico e tratamento 
O diagnóstico é feito por um médico especialista que pode pedir exames como pHmetria, cintilografia, raio-X e endoscopia digestiva alta. O tratamento para refluxo pode ser clínico, endoscópico e cirúrgico, mas a maioria das pessoas responde a medidas não cirúrgicas, com mudanças no estilo de vida e medicamentos. “O paciente é orientado a perder peso, evitar alimentos e bebidas que pioram o refluxo, não se deitar logo após as refeições e a fracionar a dieta. Ele é estimulado também a praticar exercícios físicos. As recomendações são para a vida toda e a grande maioria responde bem e se beneficia com esse tipo de tratamento. Na verdade, o indivíduo obeso que consegue emagrecer pode deixar de ter refluxo e levar vida normal”, informa Marcelo Averbach.
 
Precauções
Manter um peso saudável, seguir dieta balanceada, evitar o tabagismo, não exagerar no álcool e fazer visitas frequentes ao médico é uma boa forma de prevenir não só a doença do refluxo gastroesofágico, como outras doenças do trato digestivo. Outros cuidados recomendados são evitar alimentos ácidos, picantes, gordurosos e bebidas gasosas; evitar usar roupas muito apertadas; alimentar-se com porções menores nas refeições e comer devagar; não deitar-se após as refeições; beber muita água; elevar a cabeceira da cama, para que o esôfago fique mais alto do que o estômago; e reduzir o estresse.