De um modo geral, confundida com a esmola pura e simples, o dar para se ver livre do pobre, do pedinte, dar para que ele se vá, de uma vez.
Face aos problemas da fome, da miséria, já não lhe ocorreu dizer: Isto é um problema do governo! Será mesmo?
Afinal, quem, em que hora, quando e em que lugar deve praticar a caridade?
Certa vez, no tempo dos czares, no Teatro de Moscou, foi representada uma peça muito célebre.Todas as dependências estavam totalmente tomadas pelos membros da realeza. O enredo girava em torno dos sofrimentos de um soberano místico que, em meio a cruéis padecimentos, sacrificou-se pela fé cristã.
A música enlevava os corações da nobreza assistente. Todos se identificavam com as agonias cristãs da personagem que, de alguma forma, traduzia um pouco do íntimo de cada um.
Quando findou o colorido espetáculo, à saída do Teatro, deitado sob a marquise, estava um mendigo. Tiritava de frio. Parecia que delirava em meio à nevasca da noite. Uma das damas da corte, ao descer as escadarias que a levariam à sua carruagem, movida por um natural impulso de bondade, retirou o rico casaco de peles que a agasalhava, e se encaminhou em direção ao pobre homem, com a firme intenção de cobri-lo. A dama que lhe fazia companhia, porém, percebendo o que a outra iria fazer a deteve.
-Não faças isso! De que adiantaria a esse miserável uma peça de vestuário de tal valor? Amanhã enviarás, por um dos teus servos, agasalhos quentes para ele.
A dama do casaco de alto preço, movida agora por sentido utilitarista da vida, respondeu: -Sim, tens razão. E tornou a vestir o casaco, buscando a carruagem.
Chegaram ao luxuoso castelo, tomaram um chá quente e reconfortante e buscaram as camas aconchegantes. Esqueceram da agonia do desconhecido tombado sob a marquise gélida.
Chegaram ao luxuoso castelo, tomaram um chá quente e reconfortante e buscaram as camas aconchegantes. Esqueceram da agonia do desconhecido tombado sob a marquise gélida.
No dia seguinte, despertando já manhã alta, a dama recordou-se do homem tiritante de frio. Chamou um de seus servos e ordenou que levasse agasalhos ao pobre homem. Quando lá chegou, o serviçal se deparou com o desconhecido já morto, sendo removido pela polícia. O fato responde aos questionamentos iniciais.
Sempre que a caridade recebe a interferência de polêmicas, discussão, debate, invariavelmente o socorro chega atrasado. É necessário que cada um de nós faça o bem hoje. Há muitas formas de se praticar a caridade:
Retirar alguém da escuridão do analfabetismo. Providenciar internamento devido a um doente sem recursos. Levar o remédio necessário ao que se encontra no leito. Propiciar o leite a uma criança cuja mãe já apresenta os seios vazios. Ofertar um brinquedo ao menino de rua, ao garoto sem pais, à criança que espera.
Enfim, ser caridoso é fazer aos outros o que desejamos que os outros nos façam, tanto no aspecto material como no moral.
[com base no livro Moldando o Terceiro Milênio de Fernando Worm]
As nossas posses de nada valerão se não tivermos no cofre do coração o pão da caridade e a palavra consoladora da misericórdia que nos compete distribuir. Dar do que nos sobra é dever de solidariedade, dar um tanto mais é doação plena.