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Coisas nossas

24/01/2014
Coisas nossas | Jornal da Orla
Possuir o jardim à beira-mar mais extenso do mundo não é a única exclusividade de Santos. Temos, entre outras características, um modo peculiar de falar, usando os canais como referência de endereço e chamando pão francês de média. E o que falar dos prédios tortos, de uma lagoa no alto da montanha supostamente habitada por um jacaré, do bondinho do Monte Serrat e de outros símbolos que conquistaram o carinho de santistas e turistas como o leão da praia e o pavão do Orquidário.

O mar pela primeira vez
Quem passa pela casa em estilo colonial, em frente ao mar, entre os canais 4 e 5, não imagina quantas alegrias o local já proporcionou. O fundador, Américo Ribeiro dos Santos, batizou o lugar em homenagem à sua mãe e o transformou em uma instituição sem fins lucrativos que traz crianças do interior do Brasil para Santos para conhecer o mar. A ideia surgiu em suas viagens ao interior, ao perceber que muitas pessoas não haviam tido a oportunidade de conhecer a praia. A Casa da Vovó Anita já recebeu mais de 55 mil crianças, vindas de escolas públicas ou instituições carentes, para passar 15 dias no Litoral. A instituição oferece acomodação e alimentação sem custo algum, a não ser o sorriso das crianças.
 

Tamboréu


O esporte nasceu na praia do Gonzaga, em 1937. Os irmãos italianos Joseph e Luigi Donadelli, radicados em Santos desde 1911, batiam em uma bola de borracha maciça, com um instrumento parecido com um pandeiro, arremessando-a um ao outro, em distância de, aproximadamente, 80 metros. Não havia delimitação de campo ou presença de rede. O objeto tinha de 35 a 40 centímetros de diâmetro, era feito de madeira e tampo de couro de cabra. Esta diversão era chamada de “tamburello”, palavra originada de ‘tambor, em italiano. A prática lembrava uma atividade italiana em que grupos de pessoas, cada qual com um pandeiro, procuravam arremessar uma bolinha o mais longe possível, sem deixá-la cair no chão. Foi em Santos que surgiram as marcações na areia. O primeiro clube praticante do Tamboréu em nossas praias foi o Grupo dos Graussás, fundado em 1936.  
 
Gasolina com Z

Na esquina da rua Carvalho de Mendonça com a avenida Bernardino de Campos, no Campo Grande, está uma das últimas bombas de gasolina de calçada, que resiste diante dos modernos postos de combustíveis que hoje oferecem serviços diversos. Há outra semelhante na avenida Almirante Cóchrane, no Canal 5.  O equipamento do Canal 2 existe desde o início da década de 40 e, em 1958, foi comprado por Antônio Ferreira da Silva.  O posto, que indica a grafia da palavra gasolina com ‘z’,  é licenciado pela Cetesb dentro dos novos padrões de segurança. Hoje, os consumidores que abastecem no local não sabem que estão sobre dois tanques de combustíveis, um de 20 mil litros para gasolina e outro de 10 mil para etanol.
 
O bonitão do orquidário
Não há maior estrela no Orquidário Municipal de Santos que o pavão que anda solto pelo parque.  Com suas penas multicoloridas e andar imponente, o animal chama a atenção de quem visita o parque zoobotânico, que também conta com animais silvestres (alguns raros e até mesmo ameaçados de extinção), como macacos-aranha, micos-leões-dourados e guarás. Além da coleção com centenas de orquídeas que se encontram em uma estufa dentro do parque, os visitantes podem apreciar mais de 1.500 espécies de árvores, entre elas o ipê-roxo e o pau-brasil.
 
O maior do mundo


Em 2002, a equipe do Livro dos Recordes (Guiness Book of Records) confirmou que os jardins da praia de Santos são os jardins de maior extensão em todo o mundo. Detalhe que causa certa confusão é a diferença entre a extensão das praias e a dos jardins: embora existam sete quilômetros de praia contínua, a extensão dos jardins é de “apenas” 5.335 metros, totalizando 218,8 mil m². No livro ‘Poliantéia Santista’, o pesquisador Fernando Martins Lichti conta como a criação dos jardins evitou inclusive que toda essa faixa de terreno fosse ocupada por um segundo paredão de prédios particulares, a exemplo do que chegou a ocorrer próximo à divisa com São Vicente, no José Menino. O ponto alto da urbanização e ajardinamento de Santos é os jardins da praia (José Menino, Gonzaga, Boqueirão, Embaré e Ponta da Praia), que formam um conjunto florístico de mais de sete quilômetros de extensão, com a média de 60 metros de largura, verdadeiramente incomparável.
 
Bondinho Monte Serrat
Quem não quiser subir a pé as mais de quatro centenas de degraus do Caminho Monsenhor Moreira, conta com um sistema funicular para ir até o prédio do antigo cassino, situado a 147 metros do nível do mar. De seu terraço, é possível ver toda a cidade e partes de Vicente de Carvalho e Guarujá. Os dois bondes, com capacidade para 70 passageiros cada um (atualmente reduzida para 40 passageiros, para maior garantia de segurança), percorrem, em quatro minutos, 242 metros de trilhos paralelos, impulsionados por um motor de 100 HP e sustentados por cabos de uma polegada e meia de diâmetro, com resistência para 90 toneladas. Cada bonde pesa aproximadamente oito toneladas e circula preso a um mesmo cabo de aço, em equilíbrio entre a subida e a descida.
 
Postos de Salvamento
Na época do prefeito Aristides Bastos Machado, exatamente no dia 12 de maio de 1932, foram inaugurados os seis Postos de Salvamento. Hoje, com o tombamento do jardim da orla da praia de Santos pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Cultural (Condephaat), esses postos estão preservados e alguns ganharam novas utilizações, como a primeira escola de surfe do Brasil, no Posto 2, o Laboratório de Controle Ambiental, no Posto 3, o Cine Arte, no Posto 4, a Gibiteca Municipal, no 5 e a Biblioteca Municipal Mário Faria, no Posto 6. Em 2011, o sétimo posto de salvamento foi construído na Ponta da Praia.
 
Um local privilegiado
Envolvido pela Mata Atlântica, o Morro Santa Therezinha é o mais alto de Santos, com 220 metros, e chama atenção pelos imóveis de luxo. Quem olha de baixo, se impressiona com o tamanho das casas do condomínio fechado. Para quem está lá em cima, o que chama a atenção é a vista privilegiada de toda a cidade. Na década de 1940, o local, que tem entrada pelo Marapé, era conhecido como Morro Loureiro, em alusão a Francisco Loureiro, dono do loteamento. O nome foi mudado após a construção da capela que homenageia a santa.

 
As artérias da Cidade

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Não há melhor maneira de se localizar em Santos do que através dos famosos canais que atravessam a cidade. Os sete principais canais, que desembocam diretamente na praia, se transformaram em pontos de referência, ainda mais do que a localização dos bairros que os cercam.  Desenvolvidos a partir de 1905 pelo engenheiro sanitarista Saturnino de Brito, os canais possibilitaram o saneamento básico e escoamento da cidade, separando a água dos rios e córregos das de esgoto. A criação foi decisiva para a diminuição da insalubridade que havia na cidade na época, que possuía números alarmantes de morte por febre amarela. 

 
As feras do jardim


Sentar nas estátuas do famoso casal de leões da praia – e até tirar foto com eles – é um hábito dos santistas que vem passando de geração em geração. O imponente leão, construído em concreto e pintado de branco, foi encomendado pela Prefeitura em 1940 e criado pelo escultor espanhol Sigismundo Fernandes, proprietário da empresa de esculturas Labor. Já a segunda estátua, não se trata de uma leoa, como muitos pensam, mas sim de um jaguar, que foi produzido pelos alunos do curso de Artes Plásticas do Instituto Escolástica Rosa.
 
Tem jacaré na lagoa?
Localizada no Morro da Nova Cintra, a A Lagoa da Saudade guarda alguns mistérios, mas o principal deles é a existência do jacaré. Três animais apareceram por lá entre 2004 e 2005, mas, para a segurança deles e da população, logo foram remanejados. No entanto, a dúvida ainda persiste: haveria outros? A Lagoa, com cerca de 200 mil m², é um local para os apreciadores da pesca e conta com uma área de lazer com churrasqueira, mesas em alvenaria e até parquinho para as crianças. Além disso, possui uma ponte que permite o acesso a trilhas dentro da Mata Atlântica. 
 
Será que um dia cai?
Para quem vem de fora, a visão é de assustar. Os prédios tortos da orla tornaram-se marca registrada da cidade -há quem os compare à Torre de Pisa, na Itália. Segundo a Prefeitura, são 651 edifícios inclinados, sendo que 65 deles passaram do nível de inclinação aceitável exigido pela ABNT. Esta inclinação se deve ao fato de o solo santista ser instável e as fundações dos edifícios serem curtas, ou seja, terem menos de dez metros de profundidade. 
 
Aviso aos navegantes


Em épocas em que não havia GPS e os instrumentos de navegação eram muito mais rudimentares, os três faróis da praia foram muito importantes para o maior Porto da América Latina. Os dois que ficam na praia (um em frente à Pinacoteca e o outro no Canal 6) eram alinhados ao antigo farol na entrada do canal do porto, no mar, e eram responsáveis por informar aos práticos a correta posição de acesso das embarcações no Canal do Estuário. Em 2009, a Capitania dos Portos optou pela demolição do farol que se encontrava no mar, alegando que ele estava a ponto de ruir e que havia sistema mais moderno para suprir a sua ausência.
 
Procissão à beira mar


O mar tranquilo e a areia batida fazem dos sete quilômetros de faixa de areia o local ideal para andar. De manhãzinha e nos fins de tarde, vê-se uma verdadeira procissão de caminhantes. Hábito de santistas de todas as idades, a atividade faz bem ao corpo e, principalmente, à alma. 

 
Pão de cará e média


Um turista que queira comer um pãozinho em Santos terá que aprender que pão francês e pão de leite possuem nomes próprios na cidade. O pão de leite ou pão de cará, como é chamado pelos santistas, não é feito de cará há muito tempo, pois o ingrediente ficou caro e, consequentemente, saiu da receita, mas o nome permaneceu. O pão francês tem um nome para cada região: filão, em Ribeirão Preto, pãozinho, na Grande São Paulo, carioquinha, no Ceará, cacetinho, no Rio Grande do Sul, pão de trigo, em Santa Catarina, pão Jacó, em Sergipe, pão massa grossa, no Maranhão e pão careca, no Pará. Naturalmente, Santos não ficou atrás e também batizou o pão mais consumido do Brasil, como média. Na cidade, pedir “três médias” quer dizer “três pães franceses” – o que pode causar uma situação embaraçosa se esse pedido for feito em São Paulo, uma vez que o balconista colocará três copos de café com leite na sua frente, pingado, no linguajar dos caiçaras santistas.

 
Navios Naufragados
Acidentados décadas atrás, os vestígios destas embaracações por nossas bandas permanecem até hoje:
 
Recreio –  Encalhado em 1971 na Ponta da Praia, o navio Recreio (ex-Carl Hoepcke) afundou na areia e ali ficou por 40 anos, até a maior parte de seus destroços ser finalmente removida pela Prefeitura. A embarcação havia sido reformada e inaugurada em 1º de agosto de 1970 como o único navio de diversões do gênero no continente, com salões de festas, palco para shows, pista de danças e piscina. O Recreio não navegava, ficava ancorado na Praia do Góes, mas uma forte ventania e tempestade, em 26 de fevereiro de 1971, fizeram com que o navio fosse arrastado e encalhasse na areia da praia santista, a menos de 100 metros da Avenida Bartolomeu de Gusmão. Alguns tripulantes do navio chegaram a sair dele quando o Recreio já estava encalhado na areia. A Prefeitura trabalha, durante todos esses anos, para retirar os restos da embarcação, visto que alguns acidentes aconteceram na região onde o navio está enterrado. Apesar de a área estar sinalizada, destroços do Recreio ainda podem der vistos na areia da praia, quando a maré está baixa.
 
Ais Giorgis – No final de 1973, o cargueiro grego Ais Giorgis atracou no cais santista, entre os armazéns 30 e 31, para descarregar caixas, sacos e tambores, com leite em pó, óleo de pinho, resina, além de diversas qualidades de produtos químicos – entre os quais, nitrato de sódio – transportados em um único porão. Uma semana depois, o navio foi protagonista do maior desastre ocorrido nos últimos tempos no Porto de Santos. Uma combustão espontânea em uma carga de produtos químicos, motivada pelos pingos da chuva, deu início, às 21h de 8 de janeiro de 1974, a um incontrolável incêndio na carga dos vagões que, depois, passou para o navio, atingindo porões, restante da carga e quase toda a estrutura do cargueiro. Foram três dias e três noites de incêndio. As últimas peças do navio foram retiradas do canal do Estuário em janeiro de 2013.