Enoleitores,
Hoje descrevo a enogastronomia do evento sobre “A Caravana do Tejo”, no qual três chefs se uniram e serviram um almoço de primeira, composto de pratos e vinhos portugueses regionais, no restaurante Alma Cozinha, em São Paulo.
Para quem não nos leu na edição passada, vale elogiar o trabalho do trio Ivan Achcar (Alma Cozinha), Rodrigo Castelo (Taberna O´Balcão, Santarém, Portugal) e Jose Carlos Santanita (chefe e sommelier) que, como num concerto, estavam afinadíssimos no menu.
Iniciamos recebendo uma tábua com três minientradas: fatia de lombo de bacalhau sobre broa portuguesa, coxinha de codorna em sua própria redução e bolinho chambão (bolinho de massa com carne de boi refogada) sobre creme de mostarda dijon.
Testamos alguns vinhos oferecidos e o Quinta da Alorna 2012 rosé ficou muito bom com o bacalhau e a codorna. Era um vinho de cor salmão, forte, aromas de frutas vermelhas, ervas finas; na boca seco, fresco, equilibrado e persistente – deixou um gostinho de tutti-frutti.
Já quando provei com o bolinho, o sabor do vinho sumiu na boca, porém o tinto Bridão 2012 casou perfeitamente. Trata-se de vinho tinto de cor rubi, exalando frutas negras; na boca, seco, sedoso, acidez equilibrada, boa persistência, tornando o bolinho mais saboroso.
Foi-nos servido um tartar de tilápia e lagostins, temperado com cebola roxa, pimentão, azeite, mel e coentro, que ficou delicioso com o vinho branco Padre Pedro reserva 2014. Um corte de arinto e viognier da casa Cadaval, apresentava cor amarelo-claro e raios dourados; aromas minerais (como pedra de isqueiro) bem presentes, frutas tropicais, herbáceo; no paladar, seco, untuoso, elegante, equilibrado e com boa persistência. Deu conta muito bem, equilibrando os tantos ingredientes marcantes presentes.
A seguir, recebemos o bacalhau numa apresentação típica alentejana. Lembrava uma releitura da Açorda, formado de um lombo com pele, coberto por couve picada e crocante, sobre mousseline de feijão, croutons ao alho e azeite. Para acompanhar, elegi o vinho branco Encosta do Sobral 2014, chardonnay. Exalava aromas de frutas brancas, com toque floral; na boca, seco, fresco, acidez equilibrada e média persistência. Aqui abro um parênteses, pois preferi com o vinho anterior, o Padre Pedro.
O último prato foi um arroz com caldos, queijo meia-cura e cogumelos (uma espécie de risoto), acompanhado por um rabo de touro (rabada). Muito bom! E ficou melhor ainda pareado ao vinho tinto Nana reserva: de coloração vermelho rubi, halo aquoso; nariz de frutas negras maduras, ervas; no palato,. seco, acidez correta, equilibrado, taninos finos e boa persistência, deixando na boca um gostinho defumado.
O Alentejo mais uma vez foi lembrado, agora com a sobremesa: um doce conventual feito de abacaxi em compota com castanhas brasileiras (substituindo a amêndoa) e canela em pó. Estava delicioso, encerrando o evento, sob aplausos de todos os presentes.
Foi muito gratificante ter recebido, através deste almoço, o cuidado rigoroso nas técnicas culinárias, aliadas ao carinho que com certeza foi investido na elaboração e serviço a todos os convidados.
Esperamos que, no próximo ano, esta caravana passe novamente por São Paulo, trazendo outras boas revelações da região do Tejo!