Enoleitores,
Esta semana surgiu um caso engraçado no restaurante, quando um cliente devolveu um vinho tinto, tranquilo, dizendo estar estragado, o que, nos bastidores, causou uma celeuma sobre a condição do mesmo. Era um vinho de nível muito bom, um Angelica Zapata 2006, Malbec.
Ao pegar uma taça olhei o vinho não me pareceu nada diferente, no nariz havia frutas negras, um alcaçuz, pimenta preta mas sentia-se aromas encobertos pelo álcool que ainda se fazia presente; depois de um tempo decidi levá-lo a boca, que confirmou que estava normal, mas um pouco alcoólico, pelo aquecimento das papilas; na minha opinião deveríamos aerar no decanter. Nesta noite, estávamos tendo um curso de vinhos da ABS, aproveitamos a deixa e levamos ao professor, que também confirmou o vinho estar normal.
Este motivo já foi suficiente para que me motivasse a escrever um pouco sobre como identificar um vinho estragado.
Primeiramente, ao recebermos uma taça, devemos sentir se a mesma está limpa, sem pó ou cheiro de sabão residual (tipo, ovo), ao recebermos o liquido devemos apreciar a sua cor, no caso dos brancos deve ser de amarelo verdial a ouro, se tiver acobreado, já é um indicio de prestar atenção, assim como os tintos jovens devem ter uma coloração vermelha se for para o telha, amarronzado, algo pode estar acontecendo, pode estar oxidado. Outro fato para nossa atenção é perceber se entrou ar pela rolha, e assim sua conservação não foi adequada, a rolha costuma ficar manchada, no caso de tintos, o que pode ser sinal de alteração. Mas é no nariz que exalamos a confirmação disto, nenhum outro vinho além dos jerez ou fortificados podem cheirar oxidado, se sentir isso é problema; também não pode exalar vinagre, se não já virou um…, outro cheiro é o de ovos podres (sulfeto de hidrogenio), há também o cheiro de úmido, mofado, em francês, bouchonée, aqui rolhado, que equivale à rolha contaminada pelo ar.
O correto do vinho com defeitos é saber pelo nariz, pois não devemos bebê-lo, mas se a duvida persistir vale confirmar no paladar, e, se confirmar ruim, é melhor não engolir e delicadamente dispensar.
Têm algumas alterações que são desagradáveis, porém não são sinais de defeito em vinhos, como pedaços de rolha que surgem na taça, pode acontecer de esta ter se rompido na abertura do vinho, mas em nada altera seu sabor. Vinhos tintos de guarda, com muitos anos em garrafa podem apresentar sedimentos ou até manchar as taças, também não tem problema, mas se perceber, deve ser decantado para que se depositem na base do decanter. Também podemos encontrar os chamados cristais brancos, nos vinhos brancos, podem estar na rolha ou garrafa, estes são depósitos naturais inofensivos não alterando em nada o sabor.
Hoje em dia, a qualidade dos vinhos está bem melhor com as novas técnicas de vinificação e manutenção em adegas, por isso é importante saber a procedência, isto é devem ser comprados em lojas que os mantenha numa temperatura adequada, que não fiquem em depósitos quentes e abafados e em casa devem ser guardados em adegas. Brancos podem ser na porta da geladeira, para que não se deteriorem.
Tomando certos cuidados na compra e guarda de nossos vinhos, propiciamos que ao abri-los possamos nos deliciar com prazer e alegria…
Enoabraços e uma ótima semana a todos!