Enoleitores,
Hoje vamos falar sobre os vinhos supertoscanos, conhecidos como os “fora da lei”.
Iniciaremos com uma estória que se tornou famosa…
Nos anos XX, o jovem Mario Incisa Della Rochetta sonhava em criar um vinho de personalidade e memorável, por isso começou a estudar o terroir e percebeu que se assemelhava ao de Bordeaux, na França, parecido ao de Graves, solo pedregoso com pedras lisas e arredondadas, os sassos, mais precisamente em Bolgheri, nas proximidades de Pisa e Maremma, na Toscana. Depois de experimentar e testar vários tipos de uvas se decidiu pelas francesas, principalmente Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot, o que causou uma revolução, já que essas uvas não eram próprias, nem permitidas na Toscana.
Até a década de 60 esse vinho era apenas bebido no produtor, até que se percebeu que com o tempo o vinho melhorou muito, passando a apresentar virtudes inesperadas, tais como fruta madura, maciez, longevidade…
Deciciu-se comercializar a safra de 1968, os vinhos eram elaborados dentro de uma nova tecnologia, fermentados em temperatura controlada em tanques inox e amadurecidos em barricas francesas, tal como um daquela região francesa, foi comercializado e apresentou uma receptividade semelhante a um premier cru de Bordeaux. Este foi batizado como Sassicaia, em homenagem ao solo, é um vinho vermelho rubi escuro, aromas de frutas vermelhas, especiarias, toque defumado, na boca encorpado, sem perder a maciez, aveludado, deixando um retronasal de frutas maduras em compota. Mesmo assim, no inicio era vendido como um “vino di tavola”, inclusive no rótulo, por não poder se enquadrar na legislação italiana, e depois batizado popularmente como supertoscano.
Atrás dele vieram o Ornelaia, Tignanello, Guardo di Tasso, entre outros.
O que mais importa, disto tudo, é que esse novo conceito de vinificação influenciou e revolucionou toda a viticultura italiana, colaborando para que os outros produtores em diferenciadas regiões do país passassem a inovar e aperfeiçoar a tecnologia. A uva sangiovese, autóctone da Toscana, foi a que mais ganhou ao poder ser utilizada em cortes com as francesas…
Hoje já há uma legislação vigente e Bolgheri já é considerado um D.O.C. produzindo excelentes vinhos Bolgheri Superiore que podemos sentir o prazer de degustar dentro de um melhor custo beneficio, tais como o Alfeo 2010, da Ceralti, um vinho elaborado com as uvas Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, aromas de frutas vermelhas, especiarias, leve toque herbáceo, na boca equiibrado, taninos finos e persistente, também há o Grattamacco, Bolgheri Superiore 2010, da Collemassari, que apresenta a sangiovese no corte permitindo um bom aroma de frutas vermelhas e toque floral, na boca elegante, equilibrado, persistente, enfim um vinho correto, nos propiciando um belo prazer. Outra boa surpresa é o Millanni, 2007, um supertoscano, elaborado com sangiovese, cabernet sauvigno e merlot, que depois de aberto propiciou aromas de frutas vermelhas maduras, na boca um vinho estruturado, taninos mais presentes, porém macios e longo final de boca.
São vinhos menos famosos aqui no Brasil, mas com certeza vale a pena conhecer, principalmente se harmonizados a uma boa enogastronomia italiana , são realmente como o desejo do criador: memoráveis…..
Enoabraços e uma ótima semana todos!