A surpresa com o pequeno sapo que surgiu no meio do caminho fez pipocar as câmeras dos celulares. Habituados com as engenhocas tecnológicas, para crianças e adolescentes da cidade, o encontro chega a ser inusitado e o bicho de má fama nos contos de fadas ganhou até elogios de “lindo” (!!!).
A experiência foi apenas uma das muitas vividas por um grupo de 30 adolescentes que participaram do programa de férias “Dormindo com os Bichos”, realizado pela Prefeitura de Santos. Munidos de mochilas, sacos de dormir e muita comida, eles passaram a noite de terça para quarta-feira (dias 7 e 8) no Orquidário Municipal, envolvidos em atividades de educação ambiental e acompanhando os hábitos dos bichos que vivem no parque. O próximo programa será dia 22 de julho, com crianças de 8 a 11 anos.
Como adolescentes, no início houve certa desconfiança de alguns em participar de uma atividade tão “natureba”, mas poucas horas depois estavam todos encantados em conviver com os animais silvestres e empenhados em cumprir as tarefas da gincana criada pela Unidade de Educação Ambiental do Orquidário.
Serviço – O Orquidário fica na Praça Washington s/nº, no José Menino, e funciona de terça-feira a domingo, das 9 às 18h. A entrada custa R$ 5, com desconto de 50% para estudantes e pessoas com deficiência, e gratuidade para crianças de até 12 anos e maiores de 60, alunos de escola pública e guias cadastrados pela Embratur.
O aprendizado da cidadania
Enquanto do lado de fora a vida da cidade seguia seu ritmo, dentro do parque as crianças e adolescentes, munidos de lanternas e acompanhados de monitores, sentiram-se verdadeiros desbravadores. Até focagem noturna do jacaré fizeram e aprenderam que não se deve ter a posse de animais silvestres, como é o caso do Ringo, um macaco-aranha que está no zoológico do Orquidário desde 1977 e cuja espécie está ameaçada de extinção.
“Estava ansiosa para aprender sobre os animais. Gostei muito, não é aquela coisa regrada, a gente aprende se divertindo”, disse Gabriela, 12 anos, moradora do Embaré. O grupo era formado por moradores de diferentes bairros da cidade: Lucas (12), da Pompeia; Leandro (15), da Vila São Jorge; João Pedro (13), do Campo Grande; Alexia (12), do Jardim Santa Maria, entre muitos outros. Em comum, o encantamento da descoberta e os novos amigos criados.
“Eu pensei que ia dormir ao lado das abelhas”, fantasiou Alexia, cuja mãe foi a primeira que abriu a fila no dia das inscrições, às 5h30. “Minha mãe quase me obrigou a vir, mas agora estou gostando muito”, disse João Pedro. À noite, o parque é vigiado por dois guardas municipais, que contam com o reforço de câmeras ligadas à central de monitoramento da Prefeitura.
A chefe da Unidade de Educação Ambiental, Cibele Coelho Augusto, conta que é pelos familiares que dá para avaliar o retorno dos ensinamentos passados para as crianças e adolescentes. “Os pais comentam que eles multiplicam o que aprendem e chegam até a chamar atenção dentro de casa”. No Orquidário, eles aprenderam, através de tarefas divertidas, os impactos que prejudicam o solo – como queimadas, desmatamentos, contaminação – e a importância do exercício da cidadania para conviver em sociedade e preservar a natureza.
Floresta urbana
O parque zoobotânico, inaugurado em 1945, abriga em seus 24 mil m² espécies nativas, aspectos da mata natural, árvores frutíferas e muitas orquídeas. Ali vivem cerca de 400 animais, e muitos passeiam livremente por suas alamedas. Também há espécies raras, em espaços próprios, algumas ameaçadas de extinção. Ah, e têm os “visitantes”: inúmeras aves que vivem em liberdade e costumam fazer parada no parque.
Um dos mais importantes cartões-postais da cidade, o Orquidário à noite ganha ares de floresta. Se durante o dia há a exibição dos pavões, cutias, pássaros, à noite os donos do lugar são os bichos de hábitos noturnos, como os morcegos (que frequentam os bebedouros), a jiboia, o gato do mato, as corujas e até as garças que enfeitam de branco as árvores do parque, próximas ao lago. Uma curiosidade: as garças procuram o parque ao cair da tarde e saem assim que amanhece. Já os irerês, que antes passavam a noite no lugar, desde a reforma do equipamento sumiram.
Na última reforma, concluída em 2012, o Orquidário ganhou outras atrações, como o herbário, laboratório de reprodução de orquídeas, jardim sensorial, trilhas do mel e de plantas que contam a história do Brasil, além de recintos de tucanos, rapinantes (como corujas), felinos e de primatas (bugios e macaco -aranha).