
Na véspera do último Natal, depois de cinco anos de trâmite no Congresso – a Política Nacional de Cuidados virou lei. Mas, apesar de tratar de um dos maiores problemas que do Brasil nas próximas décadas, o assunto não mereceu espaço nos grandes jornais. A Política Nacional de Cuidados não trata apenas de assistência social para menores, idosos e deficientes. Trata, antes, de uma questão estratégica que vai definir o quanto o país estará preparado daqui a 50 anos.
Com mulheres em sua grande maioria, a categoria dos cuidadores e cuidadoras ocupa a maior parte da lei, embora ainda seja uma categoria ainda em formação. Recursos emergenciais, desde 2019, têm sido enviados para a manutenção e formação de cuidadoras e cuidadores, mas nem sempre o dinheiro chega para quem precisa. A emergência deu origem, por exemplo, à destinação de 25% do salário-mínimo (R$ 379,50) ao BPC (Benefício de Prestação Continuada) de um salário-mínimo (R$ 1.518) para famílias pobres que tenham uma criança, uma pessoa idosa ou um deficiente a ser cuidado. O resultado do socorro foi desastroso. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), a fraude nos pagamentos chegou a R$ 5 bilhões, somente no ano passado.
Daniela Santilli, fundadora do Plano Cuida Idoso, formada Cuidadora pela Cruz Vermelha e Gerontóloga pela UNINTER, colunista do canal ViverTV+, fez sua transição de carreira depois de cuidar do pai, Romeu. Hoje, ela se dedica a compartilhar e trocar conhecimento com pessoas que cuidam.
Tempo de trabalho
O plantão de uma cuidadora é de doze horas. Em uma cidade como São Paulo, a maioria gasta pelo menos mais duas horas para ir ao local de trabalho e duas para voltar para casa. Depois de 12 horas de plantão, outra jornada a espera para cozinhar e cuidar da família. Chega a ser desumano.
Escala de horários
A escala é pouco aceita por quem contrata. O cliente não quer troca de cuidador dentro da casa dele, e o idoso também se incomoda. Para os dois, é melhor que seja uma só pessoa. O mais comum é o pagamento de diárias.
Remuneração
O trabalho não é bem pago, porque a pessoa trabalha 12 horas para ganhar uma diária entre 190 reais e 230 reais. É muito pouco, considerando que a maioria sustenta a casa e família. Tem uma fase da vida que precisamos ser empáticos, queremos o bem dos nossos familiares. A escolha não pode ser entendida como preço e sim valor.
Atenção e afeto ajudam?
Ajudam, e muito. O paciente, na maior parte dos casos, está fragilizado ou assustado, pela primeira vez pensando sobre a própria finitude. É nessa hora que o afeto é determinante. Bom humor ajuda muito na relação e gera efeitos visíveis na pessoa idosa.
Qualidade dos cursos
Algumas cuidadoras se apresentam com cursos de 20 horas. Um curso de qualidade tem de 200 a 300 horas. Com 20 horas, ela não vai saber como movimentar o idoso na cama, dar banho de leito, fazer a troca de fralda…
Seleção
Se for com a funcionária que já seja da casa, por causa dos laços afetivos e confiança, pergunte se ela tem vontade de se tornar uma cuidadora e pague a ela um bom curso. O investimento vai valer a pena. Se a pessoa for desconhecida, pedir currículo, checar as informações e ligar para mais de um lugar indicado. Também é importante averiguar se a pessoa tem muitos processos trabalhistas. Outra possibilidade é ter referencias de pessoas conhecidas.
Evolução
Fui a muitos encontros, seminários e palestras, tentando encontrar a minha turma. Eu era uma cuidadora formada, e percebi que quem cuida raramente recebia a devida atenção nesses encontros, a não ser os cuidadores familiares. Como fui cliente e cuidadora familiar, para depois me profissionalizar, entendi que minha turma sou eu mesma buscando encontrar pessoas que se juntem a mim nesse caminho. n
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