
Rita Lee dizia que “nem toda feiticeira é corcunda”; eu digo que nem todo velho é bem-humorado, agradável e simpático, não dá para generalizar. As pessoas vão envelhecendo de maneira diferente, mas muitas características se acentuam com o tempo e é bom prestar atenção sobre o seu envelhecer. Ninguém tem obrigação de aturar um velho chato, rabugento e mal-agradecido que se acha o centro do mundo e faz questão de fazer com que todos participem de seu sofrimento e dramas.
Meu exemplo de velho é meu pai, que partiu aos 94 anos sem dar trabalho para ninguém. Teve uma infância marcada por episódios tristes, mas foi capaz de não transferir esse peso para filhos e netos. Gostava de música clássica, cinema e livros e estava sempre de bom humor. Todos adoravam ficar ao seu lado e deixou um legado de muito amor.
Não ser um velho chato inclui boa dose de sabedoria para não ficar cobrando companhia o tempo todo. Exigir presença de filhos e netos em almoços todos os sábados ou domingos para manter a família unida é bom, desde que todos compareçam por prazer e não por obrigação. Bom pensar que genros e noras não fazem parte da tradição e estar bem com eles é essencial. Chantagem emocional, nem pensar!
É importante manter a curiosidade pela vida, aprender coisas novas e se atualizar para conversar com os mais jovens sem repetições de histórias e sem saudosismo. Esqueça o famoso “no meu tempo não era assim”, entendendo que o tempo deles é agora. Há crianças e jovens que gostam de histórias, mas não imponha, deixe que demonstrem interesse. Remoer o passado pode ser muito aborrecido.
No cinema tivemos velhos rabugentos aos montes (até como título de um filme), mas lembro a figura marcante de Carl Fredricksen, do filme de animação “Up: Altas Aventuras”, produzido pela Disney. E um viúvo que, aos 78 anos, está isolado e prestes a perder a casa em que sempre viveu com sua esposa, e que tem a vida transformada por um menino de 8 anos.Claro, tem o House da série norte-americana de televisão, o médico genial, ranzinza e irônico que vai descontando seus problemas pessoais em quem aparece na frente. Esse não tem jeito mesmo.
Se pensarem, vão lembrar também de uma velha rabugenta que marcou época na TV brasileira: a maldosa, tirana, invejosa e inesquecível Perpétua, sempre de preto e de cara amarrada, interpretada pela excelente atriz Joana Fomm na novela “Tieta”.
Melhor é não se identificar com esses personagens e tentar ser um velho (a) de bem com a vida, otimista, que procura atividades físicas e culturais e que cativa as pessoas para que gostem de estar ao seu lado. Assuntos a evitar: falar da vida dos outros, ninguém gosta de velhos (ou jovens) fofoqueiros; relatar doenças jamais, guarde para o médico ou terapeuta.Essa é uma conversa que só os hipocondríacos adoram.
A interação com crianças e jovens traz mais leveza para os velhos e a troca entre gerações é saudável e gera ricos aprendizados para os dois lados. No filme “Um senhor estagiário”, Robert De Niro interpreta um senhor aposentado, mas que está se candidatando a uma vaga para ser estagiário de um site de moda. Os desafios para retornar ao mercado, a relação entre pessoas mais velhas e os mais jovens e os conflitos são temas importantes para que os maduros se arrisquem a trabalhar em algo que gostem e os novos deixem o preconceito de lado e aceitem o que a experiência podetrazer de melhor.
Meu último recadinho vai para quem costuma dar palpite na vida dos filhos, netos e amigos, sem que seja solicitado (ou ainda que seja). Evite intromissões. Ser um bom ouvinte pode resolver quando querem apenas desabafar. Os jovens têm que viver os erros para aprender, evoluir, crescer. O que é bom para você raramente será para os outros. Ser velho e não ser chato é uma conquista, e você deve fazer todo o possível para merecê-la. Se aceitar bem seu envelhecer, contar com amigos, ter propósitos e interesses nunca será chato.
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