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Falar de velhice incomoda muita gente. Não falar…

25/01/2025 Ivani Cardoso
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Não sei o que acharam do nome da coluna, mas a ideia é provocar mesmo. Não lembro qual foi a primeira vez em que me percebi como velha. Acho que são pequenas mudanças chegando aos poucos e que um dia ficam enormes. E foi bem difícil aceitar, eu confesso.  Parecia que o rosto no espelho não era o meu, as roupas que eu gostava não se encaixavam mais no meu corpo, o que eu sempre fiz não servia mais. E toda a energia se transformou, para pior. 

Nem gostava de ler ou falar sobre o assunto. Eu e muita gente. Dá para entender quem prefere passar longe e fingir que está tudo normal. Bem-vindo ao clube, a maior parte das pessoas também pensa assim. Mas será que ignorar é melhor?

Não é, mesmo. Melhor é buscar novos hábitos e atitudes para lidar com as mudanças. Melhor é ler para aprender sobre essa fase que cedo ou tarde vem. Melhor é trocar experiências com quem já viveu ou está vivendo o mesmo que você.

Essa coluna tem como proposta compartilhar com vocês o que tenho aprendido nos últimos 15 anos sobre esse processo delicado e surpreendente chamado velhice. Desde que comecei a frequentar há cerca de 15 anos o Grupo de Reflexões do Ideac, de São Paulo, coordenado pela psicóloga Maria Celia de Abreu e formado por profissionais de várias áreas que estudam o envelhecer, tudo ficou mais leve. O engraçado é que muitos amigos da mesma idade não se conformam e me questionam para que perder tempo com um tema tão desinteressante. Tento explicar, em vão.

Esses encontros representam uma rica troca de informações, bagagens, visões e propósitos de vida diferentes. Em comum, a vontade de aprender e estudar. Material não falta. Envelhecer está na moda. Há muitos livros, filmes, peças de teatro, teses de mestrado sobre o tema. E o mais importante é perceber que velhice não é só para quem passou dos 60. Velhice é para todos. É para pais, filhos, netos; para profissionais de saúde que lidam com velhos no seu cotidiano; para empresários que desenvolvem startups para esse público; para arquitetos que projetam residências mais seguras; para estilistas que criam roupas adequadas e confortáveis que atendem à necessidade de um público que consome e quer ampliar sua voz.

E velhos sobram por todos os cantos. O Censo 2022 do IBGE registrou 203 milhões de habitantes no Brasil. Os idosos, os que têm mais de 60 anos, correspondem a pouco mais do que 15% desse total – cerca de 32 milhões de pessoas. Com o passar dos anos, essa proporção entre velhos e jovens vai aumentar, e rapidamente.