Histórias de amor. Rios de tinta já foram escritos sobre elas. Tragédias terríveis foram experimentadas, dramáticos enredos foram travados, desfechos tristes e felizes foram sentenciados sob esse pano de fundo tão nobre. Viveu-se e morreu-se muito nos livros por amor. Mas tudo pode ser contado de outra maneira.
O amor nos tempos do cólera, do enorme Gabo, ocupa para nós a posição de n. 01 no escalão das histórias de amor. É a história de Florentino Ariza, que muito jovem se apaixona por Fermina Daza. Um puro amor juvenil, com ares de passagem, que nunca passou de uma ingênua troca apaixonada de cartas. O namorico se desfaz e Fermina segue sua vida: torna-se mulher, casa, forma uma família. O tempo passa, mas algumas coisas não mudam – não para Florentino. Vislumbrando que só poderá viver seu grande amor após a morte do marido de sua Deusa Coroada, ele espera. E, 51 anos, 9 meses e 4 dias após a última vez em que esteve a sós com Fermina, vai ao velório e renova suas profundas intenções de amor à viúva.
Não, nunca houve um homem tão devotado como Florentino. Envolto num romantismo crônico, ele trabalhou, destacou-se na sociedade, fez fortuna, viveu amores de segunda mão. Entretanto, contou nos dedos cada dia após seu último encontro na juventude com Fermina até reiterar seu amor eterno, mais de meio século depois. Septuagenários, dirá Fermina: “Tudo mudou no mundo”. A resposta de Florentino, claro, só poderia ser essa: “Eu não.”
Motivos para ler:
1- É costume eleger Cem anos de solidão como a obra-prima do grande Gabriel García Márquez, colombiano laureado com o Nobel de 1982. Sem embargo da qualidade imensurável daquele livro, O amor nos tempos do cólera é nossa obra preferida de Gabo. O filme homônimo é belíssimo, contando com Javier Bardem, Benjamin Bratt, John Leguizamo e Fernanda Montenegro (seu primeiro filme em língua inglesa) no elenco;
2- O livro é um verdadeiro tratado sobre o amor. Sem cair nas armadilhas da pieguice, o livro tem tudo: as cartas, o perfume, o próximo e o distante, o desespero, a alegria, a melancolia, a espera e também todas as típicas contradições que envolvem o sentimento;
3– Seria possível um enorme amor surgir do quase nada e perdurar por tanto tempo sem dar trégua ao coração apaixonado? O que poderia explicar tamanha devoção de um homem a uma mulher que só conhecia ao longe por uma troca de cartas feita há mais de cinquenta anos? Nada explica. E explicado está.
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