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A vida digital pode causar problemas reais

31/03/2023
A vida digital pode causar problemas reais | Jornal da Orla

Entenda as causas dos ataques em escolas no Brasil

O avanço dos ataques em escolas no Brasil vem preocupando a população e despertando um debate necessário entre os especialistas. Um estudo feito pela Unicamp aponta que 23 ataques ocorreram em escolas em todo o país desde 2002, porém, o mais preocupante é que 9 deles (cerca de um terço), ocorreram no curto período entre junho do ano passado até o último ataque na Vila Sônia, em São Paulo.

A doutora em Psicologia Social Gisela Monteiro aponta que esse fenômeno dos ataques é uma “importação” dos Estados Unidos e que não há uma explicação única para esses acontecimentos. “É um conjunto de situações. O espaço escolar é uma intersecção de experiências diferentes, não há uma equipe preparada para lidar com essa diferença entre os indivíduos”, afirma. Ela destaca ainda a velocidade das mudanças sociais e como se tornou impossível de acompanhar tudo.

Gisela também critica a possível solução sugerida pelo governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, de colocar policiais na porta das escolas. “Não dá pra ficar revistando aluno antes da entrada”, comenta. Na análise dela, deve-se haver uma responsabilização das redes sociais e que haja uma mobilização das famílias e equipes psicossociais nas escolas.

Mas afinal, quais fatores estariam levando a esse comportamento nos jovens brasileiros? O estudo da Unicamp aponta uma possível relação entre o aumento no acesso ao discurso de ódio. A Unicamp aponta um padrão nos últimos ataques: meninos, quase sempre brancos e atraídos por discursos de ódio em redes sociais.

Para o mestre em História Social Leandro da Silva Alonso, um dos fatores seria exatamente a substituição da interação social física pela digital. “A sociedade está doente. A vida na internet permite que indivíduos com interesses afins se relacionem e isso traz consequências pra vida real”, aponta. O que corrobora com os estudos que apontam o perfil de quem cometeu os ataques, normalmente membros de grupos onde se propaga discursos misóginos, homofóbicos e racistas.

Gisela destaca que a psicologia já entende que a exposição precoce das crianças às redes sociais é um problema e que alguns estudiosos já afirmam que a idade correta seria apenas após os oito anos. “Não tem porquê deixar essas crianças expostas dessa forma, é desnecessário. Inclusive, nem os próprios criadores deixam os filhos usarem tanto as telas”, afirma, “eu acho que em poucos anos isso vai ser proibido”, conclui.

Apesar de as causas do que leva um jovem a cometer atos tão violentos serem incertas, uma das soluções, segundo estudos, é a implementação da Justiça Restaurativa dentro das escolas. Em São Paulo, desde 2010, o professor já atua como um mediador restaurativo, entretanto, essa medida é apontada como insuficiente já que deveria incluir também alunos e pais para que todos compreendam a lógica do processo.

A justiça restaurativa busca a participação das vítimas de forma segura na resolução das situações e trabalha a responsabilização de quem cometeu o ato para que ambos possam ter uma reabilitação conjunta. Na prática, é fazer o criminoso entender que o crime não apenas viola a lei, mas também prejudica as vítimas e a comunidade. Tudo isso feito de forma voluntária, respeitosa, segura e inclusiva.