Saúde

Por que o Brasil deixou de ficar livre do sarampo?

29/04/2022
Por que o Brasil deixou de ficar livre do sarampo? | Jornal da Orla

Doença que chegou a ser considerada erradicada no Brasil em 2016, o sarampo está voltando com força e preocupando autoridades e especialistas em saúde pública. O principal motivo é a queda gradual do número de pessoas vacinadas, uma consequência direta da falta de uma política pública mais efetiva do Ministério da Saúde e movimentos globais antivacinas, que disseminam mentiras sobre as vacinas. A “fake News” mais recorrente sobre a vacina contra o sarampo é que o imunizante provocaria autismo.

O Plano Nacional de Imunização (PNI) foi criado no Brasil em 1973, com o objetivo de promover a vacinação em massa da população para controlar ou mesmo erradicar uma série de doenças — entre elas, o sarampo, a paralisia infantil, a difteria e a coqueluche.

Em 1992, o Brasil criou o Plano Nacional de Eliminação do Sarampo, que entre as metas incluíam a vacinação das crianças entre 9 meses e 14 anos de idade e a manutenção de, no mínimo, 95% de cobertura vacinal para os menores de 1 ano de idade. Os resultados foram surpreendentes e imediatos: após a Campanha Nacional de Vacinação, houve uma redução de 81% no número de casos, de 42.934 casos em 1991 para 7.934 casos em 1992.

A cobertura vacinal foi evoluindo até que em 2016 o Brasil recebeu o certificado de país livre do sarampo, conferido pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimava erradicar o sarampo de todo o mundo em 2020, mas o que aconteceu foi justamente o contrário — aumento de casos.

Em 2018, a entidade alertou que os casos de sarampo estavam aumentando no mundo, praticamente dobrando naquele ano. Neste ano, foi registrado um grande surto na Venezuela, o que fez aumentar os casos da doença em estados da região norte brasileira como Roraima e Amazonas.

Como o índice de vacinação no Brasil em 2018 estava abaixo de 95% (naquele ano, quando Henrique Mandetta era o ministro da Saúde do governo Bolsonaro, a cobertura vacinal brasileira de sarampo estava em 80%), em 2019 o Brasil perdeu o certificado de País livre do Sarampo.

Mais de 17 mil casos de sarampo foram relatados em todo o mundo em janeiro e fevereiro de 2022, em comparação com 9.665 registrados durante os dois primeiros meses de 2021.

“O sarampo é uma doença grave, com risco de complicações e morte, sendo a doença com maior transmissibilidade conhecida. Uma pessoa em ambiente fechado pode transmitir para todos os presentes não imunes. Além disso, menores de 6 meses, pessoas com problemas de imunidade, grávidas e pacientes com câncer não podem tomar a vacina, e se tiverem contato com alguém doente podem morrer ou ter sequelas”, o pediatra Márcio Nehab, da Fundação Oswaldo Cruz.

Quem deve tomar a vacina contra o sarampo
Para ser considerado protegido, todo indivíduo dever ter tomado duas doses na vida, com intervalo mínimo de um mês, aplicadas a partir dos 12 meses de idade.

Em que idade tomar a vacina contra o sarampo
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) recomendam tomar duas doses: uma aos 12 meses e a segunda entre 1 ano e 3 meses, junto com a vacina contra a varicela, podendo ser usadas as vacinas separadas (SCR e varicela) ou a combinada (tetraviral: SCR-V).

Crianças mais velhas, adolescentes e adultos não vacinados ou sem comprovação de doses aplicadas devem tomar duas doses com intervalo de um mês.

Também podem se vacinar pessoas de até 29 anos, tomando duas doses, com intervalo mínimo de 30 dias, e entre 30 e 49 anos, tomando apenas uma dose.
Indivíduos com história prévia de sarampo, caxumba e rubéola são considerados imunizados contra as doenças, mas é preciso ter certeza do diagnóstico. Na dúvida, recomenda-se a vacinação. Indivíduos que não lembram se já foram vacinados podem tomar a vacina, que não há efeito adverso.
O mito do autismo

Entre as diversas mentiras que se espalham pelo mundo sobre a vacina do sarampo, uma das mais frequentes é a de que ela provocaria autismo. Diversos estudos científicos garantem que não há nenhum fundamento.

O trabalho mais consistente sobre o assunto foi publicado em 2019, na revista “Annals of Internal Medicine”, cujos resultados indicam justamente o contrário. A pesquisa mostra que a vacina foi associada a um risco ligeiramente menor de autismo em meninas e em crianças nascidas de 1999 a 2001.