A discussão sobre saúde mental não tem como ser colocada sobre a ótica de responsabilidade do indivíduo. Toda a estrutura social está estabelecida para que as pessoas sejam adequadas a padrões que no fundo não representam ninguém.
Falo bastante sobre isso aqui, mas cada um de nós é um ser único. Estamos inseridos em contextos diferentes, com genéticas diferentes, configurações diferentes de memória que nos dá acesso a "arquivos" diferentes dos corpos mais sutis.
Conforme vamos recebendo da sociedade as instruções mais adequadas de como se portar para caber nessa estrutura na qual caímos de para-quedas, recebemos inúmeros nãos quando agimos dentro da nossa espontaneidade, e somos condicionados a cumprir certos protocolos que na imensa maioria das vezes não faz sentido algum pra gente. Mas como quem nos passa essas regras são as pessoas mais importantes, e que nos mantém vivos enquanto estamos incapazes, acreditamos que nosso jeito é, então, o errado.
As relações econômicas, de trabalho, de família, de religião, todas estão embasadas em conceitos disfuncionais, que não permitem ao sujeito atuar a partir da sua autenticidade. E o mais cruel de tudo isso, é que ao mesmo tempo que tira essa liberdade de Ser, estimula a liberdade de Ser um Ideal que é dito ser o Certo.
Alcance isso e será feliz. Alcance isso e terá sucesso. Realize isso, e será pleno. E enquanto vamos buscando esse ideal alheio, vamos negando as necessidades de nós mesmos. Negligenciando relações importantes, por prioridades impostas.
E a vida se torna desgostosa. Não nos sentimos pertencentes, pois não nos encaixamos de fato no ideal. Não alcançamos o sucesso estipulado socialmente, então nos tornamos profissionais frustrados e que duvidam da própria capacidade. E nos tornamos pessoas solitárias, pois as próprias pessoas que amamos, acabam nos julgando quando nos permitimos quebrar alguns padrões.
Muitas pessoas cometem suicídio por solidão, por frustração, por não saberem quais espaços lhes cabe realmente ocupar. Porque os limites que estão sendo mostrados ao longo de suas vidas íntimas, não condizem com a voracidade do mundo real. Dentro da lógica competitiva e idealizada, somos todos juízes uns dos outros, apontando dedos e falhas.
São poucos os lugares onde nos sentimos a vontade para sermos nós mesmos. E isso quando sabemos ser nós mesmos.
O processo de auto conhecimento nos leva a superar essa necessidade de adequação e de achar que precisa atender às expectativas dos outros, e passamos a confiar mais em nós e nas nossas formas de ver o mundo. Não ficamos tão facilmente abalados pelas opiniões dos outros. É um processo de fortalecimento do nosso centro, fundado sobre nós mesmos. Situações externas não nos abalam tanto.
Porque se estamos inseridos em lugares onde não nos sentimos aceitos, se só o que recebemos são notícias devastadoras, as emoções negativas vão tomando conta. Nossos alertas vão sendo ativados, e assim nossa mente vai enxergando cada vez menos alternativas. E para muitos só a morte parece fazer sentido para acabar com os problemas.
Mas como já temos conversado ao longo dessas semanas aqui, abrir espaço na Vida para as coisas que façam sentido realmente, cultivar emoções positivas, se permitir viver pequenos prazeres, momentos bobos até, mas que tragam a oportunidade de sentir a leveza, de tirar as cargas, de resgatar o olhar para a beleza da Vida.
Foi aos poucos, dando pequenos passos assim, que consegui superar minha depressão. É desafiador superar os padrões mentais, mas você nunca está sozinho. Ative sua rede, ligue para linhas de acolhimento. Tudo é impermanente, e nossas condições atuais são passageiras.
Com firmeza, colaboração e auto responsabilidade conseguimos, inclusive, mudar as desigualdades. Como já dizia Margaret Mead: "Nunca duvide que um pequeno grupo de pessoas conscientes e engajadas possa mudar o mundo. De fato, sempre foi assim que o mundo mudou."
Instagram @prazer, SoulJu
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete a linha editorial e ideológica do Jornal da Orla. O jornal não se responsabiliza pelas colunas publicadas neste espaço.