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Esquema corporativo adotado por Tite falhou!

07/07/2018Da Redação
Esquema corporativo adotado por Tite falhou! | Jornal da Orla

No Brasil, o que não falta é engenheiro de obra pronta. Nem técnicos de futebol de sofá. Diante do fracasso, os dedos apontando erros — até então imperceptíveis ou tolerados— surgem de todos os lados. O sonho do hexa ficou para o Qatar e, enquanto 2022 não chega, os debates sobre os motivos da derrota do Brasil para a Bélgica seguirão, intermináveis. 

Na entrevista coletiva após o jogo, o técnico Tite destacou a desempenho de seu time, dando números de finalizações, desarmes e tempo de posse de bola, e ressaltou a qualidade do adversário, que, segundo ele, demonstrou mais “efetividade”. 

“Eu não gosto de falar de sorte. Esse circunstancial o jogo tem. Mas o aleatório foi cruel demais com a gente hoje”, disse Tite, na entrevista coletiva após a partida. 

Embora possa ser atraente atribuir o fracasso a uma eventual “falta de sorte”, a “um dia em que a bola não entrou”, é mais prudente buscar as respostas na filosofia de trabalho que Tite optou por seguir: o uso de fundamentos do ambiente empresarial.

Em 2014, era a Família Scolari: a seleção brasileira era integrada por filhotes que caíam em prantos diante das dificuldades e por um paizão que tomava as decisões na base da intuição. Deu no que deu.

Quatro anos depois, o técnico Tite buscou imprimir um estilo de trabalho mais presente em ambientes corporativos, recorrendo a conceitos mais familiares a executivos, profissionais de Recursos Humanos e treinamentos corporativos.  

Foi justamente a falha em vários destes fundamentos que acabou causando a eliminação. 

META (V)
No futebol, uma equipe pode querer jogar bonito, praticar o “fair play”, dar goleada… mas o grande objetivo é vencer. Desde que assumiu o comando da seleção, Tite conseguiu bom desempenho (em 26 jogos, foram 20 vitórias, 4 empates e 2 derrotas). 

 

TREINAMENTO (V)
Não basta força de vontade para atingir o objetivo. É preciso praticar a atividade, seguir uma rotina para aperfeiçoar habilidades específicas. Tite e seus auxiliares acompanham tanto desempenho individual dos jogadores quanto coletivamente.

 

DISCIPLINA (V) 
É fundamental obedecer rigorosamente à rotina estabelecida, nos treinamentos, na obediência ao esquema tático e na vida fora de campo. A equipe de Tite sempre demonstrou responsabilidade e adesão a este quesito. 

 

ESTRATÉGIA (X)
Dentro das quatro linhas, a tática é a maneira como o grupo vai buscar atingir a sua meta. O que foi uma grande virtude no jogo contra a Sérvia (quando a equipe mudou do esquema 4-1-4-1 para o 4-4-2) deixou a desejar na partida contra a Bélgica. A equipe falhou em vários posicionamentos, como nos dois lances que originaram os gols adversários. 

 

RESILIÊNCIA (X)
O termo se refere à capacidade de um metal voltar ao seu estado original depois de passar por uma situação de estresse. Quanto mais rápido se assimila uma adversidade (tomar um gol) e se retoma a um nível razoável de concentração, mais fácil para os resultados serem alcançados. Foi o que aconteceu na partida de estreia, contra a Suiça, quando a equipe se abateu após tomar um gol, e voltou a ocorrer no jogo desta sexta-feira. 

 

MOTIVAÇÃO (V)
É fundamental definir valores que estimulem a conquista do objetivo. Não pode ser baseada apenas no aspecto financeiro, mas sim nos valores simbólicos. Jogadores de Copa do Mundo, praticamente sem exceções, ganham muito bem e, portanto, oferecer prêmios em dinheiro não é suficiente para obter o comprometimento necessário para atingir a meta coletiva. Mas levantar uma taça, conquistar a artilharia, ser considerado o melhor jogador, sim. No mundo corporativo, da mesma maneira. Além que o salário, o profissional quer ser valorizado e ter o trabalho reconhecido. 

 

LIDERANÇA (X)
Diferente do que muitos pensam, não é aquela figura que simplesmente distribui ordens, mas sim aquele que consegue aglutinar todos os integrantes e dar a motivação específica para cada, em busca da conquista da meta. É o que intermedia as interações entre os demais e faz o trabalho em grupo ocorrer em harmonia. A seleção de Tite não tem este líder natural, o que se evidencia por sua opção de fazer o revezamento da faixa de capitão entre os jogadores.

 

INDIVIDUALIDADES (V)
Apesar de o resultado sempre ser uma consequência do trabalho coletivo, as individualidades são determinantes para o sucesso da equipe. São necessários dois trabalhos: um com o “craque”, para que nunca perca de vista a importância do coletivo; outro com o restante do grupo, para que perceba o diferencial de se ter um craque e ajudá-lo a apresentar sua potencialidade. Tite investiu nos talentos individuais, deu liberdade quase que total para Neymar, mas no jogo contra a Bélgica os resultados não apareceram.

 

EFICIÊNCIA (X)
As estatísticas do jogo contra a Bélgica mostram que o Brasil teve maior posse de bola e fez mais finalizações, mas errou muitos passes e perdeu disputas de posse de bola. E, o mais importante número: levou mais gols do que fez. 

 

PLANEJAMENTO (V) 
Organizar todas as etapas e os requisitos materiais e humanos para se atingir a meta. E, mais do que isso, dar continuidade ao trabalho, mesmo quando o objetivo não é alcançado — no nosso caso, adiado para 2022.