O acompanhamento do Observatório de Violência Política e Eleitoral da Unirio traz um dado que deveria acender um alerta vermelho de urgência urgentíssima no Brasil. De janeiro a setembro deste ano foram registrados 455 casos de violência contra lideranças políticas no país. 173 desses casos tiveram como alvo candidatos nas eleições municipais. 15 deles foram assassinados.
Essa escalada representa uma ameaça concreta – e gravíssima – contra a democracia.
Os estudiosos que se debruçam sobre essa questão criaram até uma expressão nova para definir esse quadro: “mexicanização da política brasileira”.
Por que mexicanização? Porque a violência política e o assassinato de candidatos estão incorporados às eleições no México. Viraram rotina.
O México tem 137 milhôes de habitantes e o segundo maior PIB da América Latina (US$ 1,8 trilhão), Só fica atrás do Brasil (US$ 2,1 trilhões). Mesmo com essa dimensão, o país está refém do crime organizado. Os cartéis de traficantes são fortíssimos: abastecem o maior mercado de drogas do mundo: o dos vizinhos Estados Unidos.
Os números brasileiros, comparados aos mexicanos, quantificam a ameaça: em 2021, 36 candidatos mexicanos foram assassinados. Neste ano, a eleição que levou Claudia Sheinbaum a se tornar a primeira mulher na presidência no México quebrou esse recorde: 37 assassinatos de candidatos.
O presidente que entrega o cargo, Manuel Obrador, tentou enfrentar essa situação com uma campanha que tinha como slogan: “Abrazos, no Balazos”. O fracasso é mais que evidente.
A violência chegou na política mexicana depois de ter ocupado a cena urbana. No Brasil, o cenário é bem parecido. As mortes violentas (sempre em torno de 40 mil por ano) que o país passou a registrar nas últimas décadas, coincidem com o avanço do crime organizado em facções.
Aqui na Baixada Santista, temos registrado mortes violentas de vereadores e ocupantes de cargos de primeiro escalão, como Romazzini e Ricardo Joaquim, em Guarujá. Nas eleições de 2020 a candidata Solange Freitas sofreu atentado a tiros num carro blindado em São Vicente. Neste ano aconteceu com Thais Margarido, em Guarujá.
Essa violência chegou aos debates entre candidatos. Na primeira rodada de debates deste ano, a da Bandeirantes, em 08 de agosto, o prefeito de Teresina, Dr Pessoa (PRD), agrediu o candidato do PSOL, Francinaldo Leão com uma cabeçada. Na época se dizia em tom de brincadeira que os mediadores deveriam adotar cartões como no futebol: xingou: cartão amarelo; agrediu: vermelho. Depois houve o episódio de cadeirada do candidato Datena no adversário Marçal em São Paulo. Agora o soco do assessor de Marçal no marqueteiro do adversário Nunes.
Em 2018, foi a facada em Bolsonaro. Na campanha de 2022 houve morte de petista por bolsonarista em Foz de Iguaçu (PR) e morte de bolsonarista por petista aqui na Baixada Santista, em Itanhaém.
A violência começa entre os políticos e se espalha entre os eleitores. Uma cena tão emblemática quanto a da cadeirada é a da deputada Carla Zambelli correndo de arma em punho pelas ruas de São Paulo atrás de um jornalista depois de uma discussão na véspera do segundo turno de 2022.
De episódio em episódio, o Brasil vai se “mexicanizando” e a democracia vai ficando cada vez mais ameaçada: o risco de vida que a participação político/eleitoral representa para as pessoas bem intencionadas é cada vez mais concreto.
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