Significados do Judaísmo

USHPIZIN – O Veio Místico de Sucot

18/10/2024
USHPIZIN – O Veio Místico de Sucot | Jornal da Orla

No judaísmo, há uma época em que o volume de Festas é intenso e parece interminável.
Depois de dias em que dialogamos com os céus e com o Divino, a tradição nos pede para voltarmos aos afazeres mundanos e construir uma cabana, com especificações muito precisas. Sua cobertura deve deixar espaços para que vejamos o céu e para que sintamos as intempéries do tempo. Na verdade, as especificações descritas nos trazem imediatamente ao mundo do aqui e agora.
Lá sob os elementos da natureza, passamos a viver sete dias na cabana comemorando Sucot.
SUCOT, com seus vários nomes: Festival das Cabanas, Festival da Colheita e Zeman Simchateinu, “Época de nosso regozijo” é um feriado bíblico, junto com Pessach e Shavuot. Durante a existência do Templo de Jerusalém, Sucot era um dos Três Festivais de Peregrinação citados na Torá, quando éramos ordenados a realizar uma visita ao Templo.

Isso corresponde ao duplo significado de Sucot. A mencionada no Livro do Êxodo é de natureza agrícola e marca o fim do tempo da colheita e portanto, do ano agrícola na Terra de Israel e o significado religioso mais elaborado do livro de Levítico é o de comemorar o êxodo e a dependência do povo de Israel da vontade de Deus.

Mas Sucot tem um significado místico surpreendente.
Nos sete dias de Sucot recebemos os “Ushpizin”
Mas, quem são e o que são os “Ushpizin”?
Ushpizin é uma palavra aramaica que significa “convidados”. Traduzido para o português, a palavra perde um pouco de seu mistério e supra-naturalidade, mas esses “convidados” são bastante misteriosos (pelo menos até aprendermos mais sobre eles) e supranaturais (pelo menos até torná-los parte do nosso mundo). Nós usamos o termo em aramaico porque a nossa fonte de informação sobre estes convidados místicos vem do Zohar, a obra fundamental da Cabala, escrita nessa linguagem mística.

Há sete convidados celestiais que vêm nos visitar na Sucá, um para cada um dos sete dias do festival. Convidados são uma parte importante do lar judaico durante todo o ano e havia até judeus que nunca participavam de uma refeição em sua própria casa a menos que houvesse pelo menos um convidado, de preferência um transeunte carente, com quem compartilhar mas, especialmente no Shabat e ainda mais especialmente nas festividades judaicas constantes na Bíblia (Pessach, Shavuot, Sucot, Rosh Hashaná etc). Durante as festas esta é uma mitzvá especial.

E assim chegamos ao Ushpizin. Ao lotarmos nossa Sucá com convidados terrestres, nós ganhamos o privilégio de acolher sete convidados celestiais, os sete “fundadores” do povo judeu: Abraham, Itzchac, Iaakov, Moshe, Aaron, Joseph e David. Os cabalistas ensinam que estes sete líderes – referidos em nossa tradição como os “sete pastores de Israel” – correspondem às sete Sefirot, ou atributos divinos, que categorizam a relação de Deus com a nossa realidade, e que são espelhadas nos sete componentes básicos de nosso caráter.

Conforme cada “convidado” celestial honra a nossa Sucá, ele nos delega a qualidade particular que o define. É mais precisamente por isso que eles são chamados de “pastores de Israel”: como um pastor que fornece alimento para seu rebanho, estes sete líderes nos nutrem com sua essência espiritual: Abraham nos alimenta com o amor; Itzchac com autodisciplina; Iaakov com harmonia e verdade; Moisés, eternidade; Aarão, empatia; José, sacralidade; e David, majestade.

E embora estas sete grandes almas sejam nossos “pastores” durante todo o ano, os sete dias de Sucot são o momento em que sua presença em nossas vidas é mais acentuada e revelada.

Ao entrarmos na “habitação temporária” da Sucá, libertando-nos da dependência que desenvolvemos pelo conforto material do lar, colocamo-nos em um lugar em que nosso ser espiritual se revela mais e é acessível. Neste local, os Ushpizin nos visitam, nos capacitando para que nos conectemos com as sete dimensões da “imagem divina” de nossa própria alma.
Enfim, nossas cabanas se enchem de flores e frutos, mas também acolhem os principais personagens de nossa história.
E, logo depois de Sucot, ainda temos as duas Festas mais alegres do calendário judaico para comemorar: Sheminit Atzeret e Simchá Torá.
Sheminit Atzeret, é a festa da conexão do Oitavo Dia. Depois de completar os sete dias de Sucot, o oitavo dia significa que o judeu quer permanecer mais um dia na Sucá. Isso é análogo a um rei que convidou os filhos para um banquete que dura alguns dias. Quando chega a hora de partirem, o rei diz: “Meus filhos! Por favor, fiquem mais um dia; é difícil para mim, separar-me de vocês!”
Simchá Torá comemora efusivamente o término da leitura da Torá inteira e nos preparamos para lê-la novamente com a possibilidade de novos insights e interpretações.

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