Havia se passado dez dias desde a cirurgia cardíaca e o pai de Rachel continuava muito quieto. A longa incisão estava cicatrizando. Ele já conseguia comer e caminhar pelo corredor. Mas não falava. “É cansaço”, diziam as enfermeiras. Para Rachel ver seu pai mudo era algo inusitado. Ele já nascera falando. Tinha opinião sobre tudo. Por isso, o silêncio começou a inquietá-la.
Os dias se sucediam e não havia melhora. Uma tarde, Rachel estava sentada ao seu lado, mal contendo as lágrimas. Olhava para o pai. Seu corpo estava ali, caminhando, comendo, cicatrizando. Mas ele estava em algum outro lugar. Angustiada, Rachel tomou de um frasco de loção para as mãos, foi para a frente da cama, descobriu os pés de seu pai e começou a massageá-los.
Ele continuou imóvel.
Sem forças para vê-lo naquele estado, Rachel fixou os olhos nos pés e, depois de algum tempo, começou a falar com seu pai. Recordou o que faziam juntos quando ela era bem pequena. De como ele passava horas empurrando o balanço no parque. Do primeiro dia em que a levou para a escola e ficou na escada, abanando, sorrindo e tirando fotografia. Rachel lembrou do dia em que ela quebrou o braço e ele saiu a correr, para levá-la ao médico. Recordou das cantigas de ninar com que ele a embalava e das tantas vezes em que adormeceu em seus braços fortes e protetores.
Lembrou das muitas horas que ele tinha passado com ela fazendo o dever de casa. Da noite em que, usando um smoking alugado, ele a levara de carro, com seu par, ao baile do segundo grau. Lembrou da longa viagem até a Universidade, de como ambos tinham chorado quando ele foi embora e dos tantos telefonemas de encorajamento que ele dera até ela se adaptar. Recordou de quando o abraçou, logo após a formatura na Escola de Medicina, e ele dissera: “Filha, agora você é uma menina grande!”.
Finalmente, Rachel lembrou da conversa que tinham tido na semana anterior à cirurgia, em que ele lhe entregara inúmeras páginas de instruções sobre o que fazer se ele não retornasse com vida da sala de cirurgia. “Mas você não morreu, papai. Você conseguiu!”.
Um dos pés que ela esfregava se moveu. Ela olhou para cima e viu seu pai olhando-a intensamente. A expressão de paralisia, de congelamento havia desaparecido. De repente, ele jogou a cabeça para trás e riu. E falou. Falou depois daquela eternidade de dias: “Eu sou um osso velho, duro de roer. Mas acho que sou um bom pai. O que você faria sem mim?”
[com base em texto de Rachel Naomi Remem e da Redação do Momento Espírita]
Algumas vezes nossa vida é fortalecida pela descoberta de que os outros precisam de nós. Outras, quando descobrimos que nosso amor é importante para alguém de uma forma que não imaginávamos, ou que alguém nos ama exatamente como somos. Por isso, nunca deixe de tocar aqueles a quem ama. Toque com as mãos, o coração e a alma. Demonstre que ama, que se importa. Exatamente como a flor que necessita de água cristalina para que possa se manter viva, o amor tem necessidade de combustível. E ele se chama carinho, ternura, devoção.
PAZ, SAÚDE E PROSPERIDADE.