
A essência da democracia está na liberdade de expressão e na decisão pelo voto. Vence a vontade da maioria. A deficiência da democracia está na desinformação. O eleitor desinformado não exerce a cidadania com plenitude. E essa desinformação pode ter origem na educação insuficiente, na enganação que se tornou uma especialidade do marketing político e, mais recentemente, na indústria de notícias falsas, que sempre existiu, mas que se potencializou ao infinito com as redes sociais.
A única garantia de manutenção do regime democrático está no funcionamento das instituições. E o aprimoramento da qualidade de vida de uma sociedade depende do funcionamento do processo: governo vai bem: candidatos dele se elegem; vai mal: naufragam nas urnas.
As instituições que garantem a democracia, você conhece: judiciário, meios de comunicação, universidade, arte, processo eleitoral. Funcionam como escudos e como motores. Na função de escudos, identificam e apontam as tentativas de golpe contra a democracia. Na função de motores, identificam problemas e apontam soluções, quase sempre na forma de políticas públicas.
Políticos populistas, tanto de esquerda como de direita, odeiam as instituições. Porque elas funcionam como uma vacina poderosa contra o populismo. O político populista não tem propostas para o aprimoramento da qualidade de vida de uma sociedade. Ou melhor: apresenta propostas simplistas para problemas complexos: armamento do cidadão para enfrentar a violência urbana, importação de médicos de outros países para melhorar o combate às doenças, bolsa família ou auxílio emergencial eternos para mascarar a falta de qualificação profissional e de oportunidades de trabalho. Enganações.
Políticos populistas querem apenas o poder. E as instituições dificultam a manutenção desse poder nas urnas quando essas enganações não funcionam.
Por isso o populismo tenta descredibilizar as instituições. O ministro do Supremo passa a ser acusado de “advogado do PCC”, ou de ter dito que “eleição não se ganha, eleição se toma”. A Universidade de São Paulo, avaliada como a melhor da América Latina nos rankings internacionais passa a ser “um antro de maconheiros”. A rede de televisão que tem o telejornal de maior audiência passa a ser a “Globolixo”. Os artistas de maior pegada e criatividade passam a ser “chupins da Lei Rouanet”. As urnas eletrônicas recebem sem nenhuma prova o carimbo de fraude.
Isso acontece no Brasil dessa década, mas aconteceu de maneira muito parecida na ditadura venezuelana de esquerda e mais atrás na Alemanha do direitismo nazista. A receita é exatamente a mesma.
Então devemos sempre desconfiar desse discurso. Venha de onde vier. As instituições têm realmente falhas porque são administradas por seres humanos. Jornalistas, juízes, professores, artistas erram muito. Alguns têm mau-caráter, como acontece em todas as atividades. Mas por mais falhas que sejam, as instituições são sempre melhores que o arbítrio de uma ditadura.
A democracia, segundo o líder britânico Winston Churchill, é a pior forma de governo, com exceção de todas as outras que já foram tentadas.
E o motivo é simples: porque todo poder corrompe, inclusive o democrático. A diferença é que o poder absoluto, o do ditador, esse corrompe absolutamente.
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