Livros e mais livros

Tinha uma pedra no meu caminho

13/09/2023
Tinha uma pedra no meu caminho | Jornal da Orla
Um padre e o povo em situação de rua

Uma das mais graves distorções sociais do Brasil é a condição dos pobres em situação de rua, que já somam mais de 220 mil pessoas no país. Só na cidade de São Paulo, a maior metrópole da América Latina, chegou-se ao alarmante número de 32 mil pessoas. É na capital paulista que um padre, há mais de 38 anos titularizando a Paróquia São Miguel Arcanjo, celebra missas todos os dias e, com seu carrinho de supermercado, ruma ao centro comunitário para servir o café da manhã aos mais vulneráveis.

O livro Tinha uma pedra no meu caminho traz a vivência do Padre Júlio junto ao povo em situação de rua. Mais do que prestar assistência, o padre convive com eles: interage, conversa, olha nos olhos; enfim, confere-lhes dignidade em meio a uma sociedade que os repudia ou ignora. Entre passagens tocantes e outras tantas revoltantes, o padre não esmorece e segue caminhando.

Um cristão, enfim, coerente com aquilo que é professado de mais sagrado pela fé cristã.

Motivos para ler:

1- Padre Júlio Lancellotti, 74 anos, exerce uma vida abnegada em sua paróquia e na Casa Vida, por ele fundada para atender crianças com HIV. A Lei 14.489/22 nasceu graças ao seu ato de resistência: com uma marreta, removeu pedras colocadas sob um viaduto para dispersar pobres. O art. 1º prescreve: “Esta Lei, denominada Lei Padre Júlio Lancellotti, veda o emprego de técnicas construtivas hostis em espaços livres de uso público”;

2- O livro desfaz mitos que recaem sobre o povo em situação de rua. O padre, com a autoridade de quem convive há décadas no meio, esclarece que esse povo é composto por pessoas desaventuradas que pelas mais variadas razões caíram nas ruas. Nem anjos nem demônios, mas pessoas em dificuldades;

3- O padre enfrenta inúmeros desafios: o descaso da política; a luta contra um Estado que não raras vezes trata essa população como criminosa e a repreende com violência (o próprio padre já foi agredido pela Guarda Municipal); as inacreditáveis ameaças que recebe de algumas pessoas que se intitulam como “cidadãos de bem”. A peleja é dura. O padre segue firme.

Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete a linha editorial e ideológica do Jornal da Orla. O jornal não se responsabiliza pelas colunas publicadas neste espaço.